Gigante de telecomunicações francesa Orange está em julgamento após suicídio de 19 funcionários
A empresa Orange, gigante de telecomunicações francesa, está sendo processada por assédio moral, entre outras acusações, após o suicídio de 19 funcionários e a tentativa de outros 12 no intervalo de três anos. Mais de 100 pessoas afirmaram que a cultura da empresa contribuiu para problemas na saúde mental dos funcionários.
O julgamento, que teve início na última segunda-feira, está sendo caracterizado como o maior caso do tipo envolvendo uma empresa e seus executivos. Originalmente, haviam 39 funcionários envolvidos no caso, sendo que quase metade destes cometeram suicídio, e mais 126 pessoas pediram para se juntar à acusação, afirmando que também sofreram com a cultura da empresa.
Além da Orange (antiga France Télécom), o ex-presidente da empresa Didier Lombard, o ex-diretor de RH Olivier Barberot, e o ex-diretor executivo adjunto Louis-Pierre Wenes estão entre os executivos da empresa que estão sendo julgados por promoverem “condições de trabalho degradantes que colocam em risco os direitos e a dignidade dos indivíduos, alterando a saúde mental ou física, ou comprometendo o futuro profissional dos mesmos”, segundo a agência de notícias Associated Press.
A sentença estabelecida pela lei francesa para casos de assédio moral é um ano de prisão ou uma multa de 15 mil euros.
Segundo relato do promotor, o funcionário Michel, na época com 50 anos de idade, havia deixado um bilhete em julho de 2009 que dizia: “estou tirando minha própria vida por causa do meu trabalho na France Telecom. Esse é o único motivo”, diz a matéria da AP.
O bilhete ainda denunciou o “permanente senso de urgência, excesso de trabalho, falta de treinamento e total desorganização da companhia”, além do “gerenciamento de equipe à base de terror”. Em junho do mesmo ano, Christel, 37, “cortou suas veias”, segundo a AP, em frente aos seus superiores que haviam lhe informado que ela seria transferida naquele dia. Em março daquele ano, Herve, 52, tentou se atirar da janela do escritório, mas foi impedido por seus colegas. Em setembro, uma mulher de 32 anos também se jogou do prédio da empresa. Um ano antes desses casos, em julho de 2008, Jean-Michel, 53, se atirou na frente de um trem durante uma ligação com seus representantes sindicais.
Em abril de 2011, um funcionário de 57 anos de idade, que já estava na empresa há 30 anos, ateou fogo a si mesmo no estacionamento da empresa. François Deschamps, do sindicato CFE-CGC Unsa, afirmou à agência de notícias francesa AFP que o homem, que na época trabalhava no call center da empresa, era regularmente forçado a trocar de cargo. “Essas mudanças forçadas fizeram com que ele tivesse que vender sua casa”, afirmou Deschamps. “Ele havia escrito para a gerência em diversas ocasiões e, no meu entendimento, não obteve nenhuma resposta. Eu o vi duas ou três semanas atrás. Eu não imaginei que ele estava prestes a cometer suicídio”.
Os antigos executivos estão sendo julgados por suas condutas após uma reestruturação da empresa realizada em 2006 que envolveu o corte de 22 mil vagas e mudanças em outras 14 mil posições. A série de suicídios ocorreu entre 2007 e 2010. “Eu vou tirá-los daqui de um jeito ou de outro”, teria declarado Lombard, ex-presidente da Orange, durante uma reunião com gerentes da empresa em outubro de 2006. “Pela porta ou pela janela”.
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