Os heróis breves das Copas

A história dos mundiais está cheia de jogadores que tiveram um momento de brilho em um único torneio e não conseguiram repetir a proeza

Às vezes, uma Copa do Mundo tem um (ou até mais de um) jogador que se destaca e fica para sempre marcado na história por aquele torneio. Alguns disputaram um único mundial, outros até voltaram ao grande palco, mas com atuações tão apagadas que ninguém lembra dessa outra participação.

Lembremos alguns desses heróis breves desde 1930.

Lucien Laurent (1930)

O operário da Peugeot que se transferiu do amador CA Paris para o time mantido pela fábrica automotiva, o Sochaux, bem na época da viagem para o Uruguai para disputar a primeira Copa do Mundo em 1930. E ali o atacante garantiria um lugar eterno na história do torneio: marcou o primeiro gol da história do mundial.

No dia de abertura, foram disputados ao mesmo tempo, nos estádios do Peñarol e do Nacional, dois jogos. França x México pelo Grupo 1 e EUA x Bélgica pelo Grupo 4.

Aos 19 minutos do 1º tempo, Laurent acertou um voleio e abriu o placar para a França. O americano McGhee faria o primeiro do outro jogo aos 23 minutos. A França venceria os mexicanos por 4 a 1.

Seu maior feito naquela Copa. Ele ainda jogou na derrota de 1 a 0 para a Argentina, mas ficou de fora por contusão de nova derrota de 1 a 0 para o Chile.

Laurent integrou a seleção amadora da França nas Olimpíadas de 1928, mas não entrou em campo. Estreou na seleção principal apenas em fevereiro de 1930. 

Convocado para a Copa de 1934, nem foi escalado por nova contusão. Disputou sua décima e última partida pelos Les Bleus em 1935. Ele só fez mais um gol pela França, numa vitória de 5 a 2 sobre a Inglaterra em 1931. Ainda jogou por clubes até 1946.

Pelo resto da vida, Laurent (que morreu em 2005, aos 97 anos) deu entrevistas e recebeu homenagens por causa desse gol. O primeiro herói breve.

Ernst Wilimowski (1938)

O polonês foi o primeiro jogador a marcar 4 gols numa partida de Copa – e ainda assim perdeu o jogo. Foi na estreia na Copa de 1938, que o Brasil venceu por 6 a 5 na prorrogação. Como na época o torneio era todo em mata-mata, a Polônia foi eliminada com apenas um jogo. 

Wilimowski tem uma história de vida confusa. Filho de dois alemães, nasceu em 1916 (com seis dedos no pé direito) na atual Katowice, Polônia, quando a cidade fazia parte do Império Germânico e se chamava Kattowitz. Dois anos depois, no fim da 1ª Guerra Mundial, o município e sua região da Silésia passaram a integrar a Polônia.

Wilimowski começou no clube local 1. FC Kattowitz e se transferiu para o campeão nacional Ruch Chorzów em 1934. No mesmo ano, foi chamado para a seleção da Polônia pela primeira vez.

Um ano depois da Copa, a Alemanha de Hitler invadiu a Polônia, o que deu início à 2ª Guerra Mundial. Wilimowski não se incomodou e aproveitou para restabelecer sua cidadania alemã.

Ele acabou integrado à seleção da Alemanha em 1941. Fez oito jogos e 13 gols. O problema para ele é que a Alemanha nazista foi derrotada na guerra em 1945. O novo governo da Polônia considerou Wilimowski como traidor e ele ficou proibido de visitar sua cidade natal. Acabou se acomodando na Alemanha Ocidental.

Em 1974, com o mundial em território alemão, Wilimowski quis visitar a seleção da Polônia, que finalmente retornava a uma Copa desde 1938. As autoridades polonesas proibiram a visita. 

Wilimowski morreu rompido com a Polônia em 1997, aos 81 anos. Talvez o maior anti-herói breve das Copas.

Joe Gaetjens (1950)

Nascido e criado no Haiti, Gaetjens é o responsável pela maior zebra de todas as Copas: a vitória de 1 a 0 dos EUA sobre a Inglaterra em Belo Horizonte, no Estádio Independência.

Gaetjens já jogava futebol no Haiti até se mudar em 1947, aos 23 anos, para os EUA. Ganhou uma bolsa de estudos do governo haitiano para estudar na Columbia University. Passou a jogar pelo Brookhattan e ainda trabalhava no restaurante do dono do clube lavando pratos.

Acabou chamado para integrar a seleção dos EUA na Copa de 1950, mesmo sem ser cidadão americano. Um catadão de amadores. Mas Gaetjens entrou para a história desviando uma bola lançada meio a esmo e desmontando o goleiro inglês Bert Williams, que voava para o outro canto.

Em 1953, Gaetjens jogou pela seleção do Haiti nas eliminatórias para a Copa de 1954. Ele retornou ao país natal e, por pressão da família, se envolveu em política. 

Com a entrada da violenta ditadura familiar de Papa Doc Duvalier, Gaetjens desapareceu em 1964, aos 40 anos, para nunca mais ser visto.

Just Fontaine (1958)  

Ninguém fez mais gols que ele numa só Copa até hoje. Nascido em Marrakech, no Marrocos, quando o país era colônia francesa, Just Fontaine concentrou todo seu brilho em seis jogos da França na Copa de 1958, com 13 gols em 6 jogos.

Sua estreia pela seleção principal se mostrou promissora. Aos 20 anos, Fontaine fez 3 gols na goleada de 8 a 0 sobre Luxemburgo em dezembro de 1953. Apesar disso, o atacante do Nice não foi chamado para a Copa de 1954.

Fontaine só voltaria à seleção em 1956. Um jogo sem marcar. Em 1957, a mesma coisa. Em 1958, jogando pelo Stade de Reims, melhor time da França na época, fez um gol num amistoso contra a Espanha que acabou 2 a 2 e se credenciou para ir à Copa na Suécia.

E finalmente ele desembestou. Na estreia, três gols nos 7 a 3 sobre o Paraguai. Em seguida, os dois na derrota de 3 a 2 para a Iugoslávia. Mais um no 2 a 1 sobre a Escócia.

Nas quartas, dois gols nos 4 a 0 sobre a Irlanda do Norte. Na semifinal, Fontaine empatou o jogo contra o Brasil em 1 a 1 (o primeiro gol sofrido pela Seleção Brasileira naquela Copa), mas depois amargou a derrota por 5 a 2.

Na decisão de 3º lugar contra a Alemanha Ocidental, Fontaine marcou quatro vezes na vitória de 6 a 3, chegando a 13 gols na artilharia do mundial. Em total de gols, Fontaine seria superado por Klose (16), Ronaldo (15) e Gerd Müller (14). Mas ele fez os seus em uma única Copa.

O brilho foi breve. Perseguido por contusões, Just Fontaine se aposentou com apenas 28 anos em 1962.

Amarildo (1962)

O “Possesso”, como foi apelidado, teoricamente tinha ido passear no Chile em 1962. Afinal, era reserva de Pelé e não tinha perspectiva de jogar numa época em que ainda não havia substituições durante os jogos. Mas quem adivinharia que Pelé teria uma distensão da virilha no segundo jogo e que Amarildo, do Botafogo, teria de entrar na fogueira?

Com 23 anos incompletos, Amarildo foi escalado com a camisa 20 para enfrentar a Espanha na 3ª rodada da 1ª fase. Se perdesse, o Brasil estaria eliminado. E as coisas começaram errado com Adelardo marcando para os espanhóis aos 35 do 1º tempo.

Num jogo nervoso em que o Brasil não achava os espaços, Zagallo cruzou na área aos 27 do 2º tempo e Amarildo entrou rachando para empatar. 

Aos 41, Garrincha foi driblando dois marcadores até a linha de fundo e finalmente cruzou. Amarildo entrou correndo feito louco para cabecear e fazer o segundo gol.

Amarildo voltaria a marcar um gol fundamental na final contra a Tchecoslováquia. Aos 15 do 1º tempo, Masopust abriu o placar para os tchecos. 

Correr atrás do resultado deixou de ser preocupação dois minutos depois. Pela esquerda, Amarildo foi se safando da marcação e chutou sem ângulo para empatar. O Brasil venceria a final por 3 a 1.

Transferido para o Milan, Amarildo poderia ter sido o primeiro “estrangeiro” da Seleção numa Copa em 1966. Ele seria titular junto com Pelé, deslocado para a ponta-esquerda.

Mas uma contusão provocou o corte de Amarildo às vésperas da Copa. E ele ficou como um herói breve de quatro jogos em uma Copa.

Pickles (1966)

Ele não jogou um único minuto. Era um cachorro. Mas foi o herói breve britânico em 1966. 

A Taça Jules Rimet foi roubada em março de 1966 enquanto estava em exposição no Methodist Central Hall em Londres, esquentando o clima para a Copa no país. O suposto ladrão enviou um pedido de resgate. 

Uma semana depois, Pickles, um cachorro Collie de cerca de 4 anos, passeava com seu dono em Beulah Hill, no sul de Londres, quando encontrou e fuçou um embrulho em papel-jornal. Dentro, estava a Taça Jules Rimet.

A federação inglesa já estava desesperada e até encomendou uma réplica, caso a original nunca mais aparecesse.

Pickles salvou a organização e virou herói nacional. Mas o pobrezinho não durou muito. Ao que consta, morreu em 1967 estrangulado pela própria coleira ao perseguir um gato e se enroscar num arbusto. 

Jürgen Sparwasser (1974)

Sparwasser nasceu em 1948 na então Zona de Ocupação Soviética da Alemanha, estabelecida ao fim da 2ª Guerra Mundial. Um ano depois, a área se transformou em um novo país, a Alemanha Oriental, sob regime comunista. O resto da nação ficou no lado ocidental capitalista. E teria os melhores resultados no futebol internacional.

Jogador do Magdeburg, Sparwasser chegou à seleção alemã oriental em 1969, aos 21 anos. Foi medalhista de bronze nas Olimpíadas de 1972 em Munique, na Alemanha Ocidental. 

Surpreendentemente, a Alemanha Oriental se classificou para a Copa de 1974 a ser disputada na Alemanha Ocidental. Venceu um grupo com Romênia, Finlândia e Albânia. Mais surpreendentemente ainda, o sorteio colocou as duas Alemanhas no mesmo grupo da primeira fase da Copa.

O duelo dos compatriotas divididos ficou para a última rodada do Grupo 1 em Hamburgo. Um jogo esquisito pela situação geopolítica. Aos 32 do 2º tempo, uma bola sobrou para Sparwasser na área do rival e ele fuzilou para fazer o único gol do jogo.

A Alemanha Oriental passou em 1º para um grupo semifinal que tinha Brasil, Holanda e Argentina. Perdeu dos dois primeiros e empatou com os hermanos num jogo que não valia mais nada para ambos.

Sparwasser não fez gol nem muita coisa nesses jogos. Disputou apenas mais quatro jogos pela seleção até 1977. Mas garantiu seu lugar na história com aquele gol em cima dos “outros” alemães na Copa.

Josimar (1986)

O lateral-direito Josimar foi algo meio inexplicável e inesperado. Primeiro, ele nem deveria ter ido à Copa do México em 1986. Nunca tinha sido convocado para a Seleção Brasileira. E virou um símbolo daquele mundial.

Tudo começou quando Leandro, titular em 1982, se recusou a viajar no dia do embarque, em solidariedade ao amigão Renato Gaúcho, cortado pelo técnico Telê Santana dias antes.

Leandro e Renato tinham chegado à concentração tropeçando de bêbados numa madrugada após um dia de folga. Não foram punidos na hora, mas Telê dispensou Renato na primeira chance que teve.

Com a desistência do titular, Telê chamou Josimar, do Botafogo, para ser reserva de Édson Boaro, do Corinthians, que por sua vez era eterno reserva de Leandro.

Josimar não ficava nem no banco de reservas. Na época, podiam entrar no jogo apenas 5 reservas pré-selecionados. Eis que, no segundo jogo contra a Argélia (1 a 0, gol de Careca), Édson Boaro se estoura logo aos 10 minutos. Falcão teve de entrar improvisado no jogo.

Contra a Irlanda do Norte, a saída era botar Josimar de titular, mesmo sem ter sido testado antes.

O Brasil já ganhava por 1 a 0 (outro gol de Careca) quando, aos 42 minutos do 1º tempo, Josimar dominou sozinho uma bola no lado direito da intermediária. Avançou, seguiu avançando e decidiu fazer algo que ninguém esperava: mandou um chute dali mesmo e pegou o goleiro Jennings de surpresa. Gol lindo do estreante.

Sorte de principiante. Que se repetiu nas oitavas-de-final contra a Polônia. De novo, o Brasil já vencia por 1 a 0 (Sócrates, de pênalti) aos 10 do 2º tempo quando Josimar dominou e foi disparando pela ponta-direita até invadir a área e soltar um petardo sem ângulo que entrou sem dó no gol.

Os milagres de Josimar não apareceram nas quartas-de-final, quando o Brasil foi eliminado nos pênaltis pela França. 

O lateral ainda ficou no radar da Seleção por três anos e até fez parte da equipe campeã da Copa América. Mas queda de rendimento e problemas com mulheres, álcool e drogas deixaram Josimar congelado na glória de 1986.

Sua participação mítica naquela Copa levou um grupo de jornalistas e fãs de futebol da Noruega a batizar sua revista de Josimar Football em 2009.

Totò Schillaci (1990)

Artilheiro da Copa do Mundo da Itália em 1990, Salvatore “Totò” Schillaci foi uma espécie de Josimar do Calcio. Ninguém botava fé nele antes e ele foi o destaque da Azzurra.

Siciliano pobre da cidade de Palermo, Schillaci iniciou sua carreira de atacante no pequeno Messina em 1982. Artilheiro da Serie B (segunda divisão italiana) na temporada 1988-89, acabou contratado pela gigante Juventus.

Jogar pela Juventus mudou o status de Schillaci, que foi convocado para a seleção italiana pela primeira vez em março de 1990, três meses antes da Copa. Acabou ficando entre os 22 convocados para a Copa. Para ser reserva.

Na estreia contra a Áustria, jogo travado. Schillaci entrou aos 30 do 2º tempo no lugar de Carnevale. Três minutos depois, ele fez o único gol da partida.

No jogo seguinte, 1 a 0 contra os EUA, Schillaci entrou de novo no 2º tempo, mas não fez gol.

Contra a Tchecoslováquia, Totò começa como titular e abre o placar logo aos 9 minutos. A Itália venceu por 2 a 0.

Nas oitavas contra o Uruguai, de novo Schillaci começa o jogo. E abre o placar aos 20 do 2º tempo. A Itália fechou o placar em 2 a 0.

Nas quartas contra a Irlanda, Schillaci foi titular de novo. E outro gol dele aos 38 do 1º tempo. Foi o único do jogo.

Na semifinal contra a Argentina, Schillaci abriu o placar aos 17 do 1º tempo. A Argentina empatou no 2º tempo e venceu nos pênaltis. Totò não participou das cobranças.

A invicta Itália decidiu o 3º lugar contra a Inglaterra. Com o jogo empatado em 1 a 1, Schillaci marcou de pênalti aos 41 do 2º tempo. Garantiu a artilharia da Copa com 6 gols e foi eleito Melhor Jogador da Copa pela Fifa.

A história de Cinderela de Schillaci acabou ali. Em 1991, fez seus últimos quatro jogos pela Itália, marcando apenas mais um gol.

Em 1992, foi dispensado pela Juventus e ainda arrumou um lugar na também gigante Internazionale. Ficou duas temporadas e se mandou para o Jubilo Iwata do Japão, onde ficou até 1997. Pouco depois, se aposentou de vez.

Oleg Salenko (1994)

O atacante russo foi um herói muitíssimo breve. No massacre de 6 a 1 sobre Camarões na Copa de 1994, Salenko tornou-se o primeiro (e até agora único) jogador a marcar cinco gols numa só partida de mundial. Não servia para mais nada, já que as duas seleções estavam eliminadas. Mas, com a adição do gol que fez na derrota para a Suécia, Salenko acabou como artilheiro daquele torneio, empatado com o búlgaro Stoichkov.

A vitória sobre Camarões foi a oitava e última partida de Salenko pela Rússia. 

Antes disso, Salenko foi artilheiro do Mundial sub-20 de 1989 pela União Soviética. E, em 1992, chegou a jogar pela Ucrânia porque, apesar de ter nascido na Rússia, estava no clube Dynamo Kyiv e seu pai era ucraniano. Depois, decidiu integrar o selecionado russo.

Depois de circular por clubes da Espanha, Escócia, Turquia e Polônia, Salenko se aposentou em 2001 aos 32 anos.

Saeed Al-Owairan (1994)

O gol mais bonito da Copa de 1994 nos EUA foi do camisa 10 da Arábia Saudita num lance digno de Maradona. Na 3ª rodada da primeira fase, contra a Bélgica, Al-Owairan recolheu uma bola no lado esquerdo da defesa saudita logo aos 5 minutos do 1º tempo. 

Ele saiu correndo e driblando quem aparecesse pela frente. Quando viu, estava perto da área adversária e decidiu finalizar. Golaço. Que garantiu a passagem da Arábia para as oitavas-de-final em sua primeira participação em Copas. Perderam para a Suécia por 3 a 1 e voltaram para casa.

Em 1996, Al-Owairan foi preso por beber álcool e fazer festinha com mulheres durante o mês sagrado do Ramadã. Mesmo assim, ele voltou à seleção na Copa de 1998. Só que ninguém lembrava mais que ele era o autor do golaço da Copa anterior. Aparentemente, nem ele.

Fabio Grosso (2006)

Um lateral-esquerdo comum, sem muitos atributos técnicos. Que acabou sendo fundamental para levar a Itália ao tetra na Copa de 2006 na Alemanha. Grosso foi herói em dois jogos de mata-mata.

Nas oitavas-de-final contra a Austrália, já nos acréscimos do tempo normal e com 0 a 0 no placar, Grosso avançou pela esquerda para a área adversária e caiu quando um adversário chegou junto. O árbitro marcou pênalti, mesmo que muitos julgassem que Grosso se atirou ao chão. Totti cobrou e fez o gol da vitória.

Na semifinal contra a dona da casa Alemanha, jogo duro e 0 a 0 no finalzinho da prorrogação. Tudo indicava pênaltis. Até que, aos 14 do 2º tempo da prorrogação, Grosso recolhe uma bola rebatida pela direita e arrisca um chutão de fora da área. Gol da Itália. Que ainda encontraria tempo para fazer mais um nos acréscimos.

Grosso atuou pela Itália até 2009 e acabou desprezado na convocação para a Copa de 2010 na África do Sul.

Tim Krul (2014)

Ninguém tinha visto isso numa Copa: o técnico decide substituir o goleiro que jogou os 120 minutos de uma partida de mata-mata para colocar outro apenas para a decisão por pênaltis. Foi o que o treinador holandês Louis Van Gaal praticou nas quartas-de-final da Copa de 2014 contra a Costa Rica. E quem entrou para ser herói foi Tim Krul.

No último minuto da prorrogação de um jogo que não saiu do 0 a 0, Krul entrou no lugar do titular Cillessen. Na decisão por pênaltis, o inusitado substituto defendeu duas cobranças e se tornou o maior responsável pela vitória de 4 a 3 da Holanda nas cobranças.

Apesar do sucesso, Van Gaal não repetiu o truque na semifinal contra a Argentina, que acabou 0 a 0. Nos pênaltis, os argentinos venceram por 4 a 2 com Cillessen debaixo das traves holandesas.

Tim Krul era do inglês Newcastle United na época. Hoje atua pelo Norwich City, que disputa a segunda divisão da Inglaterra.

Mario Götze (2014)

Cerca de dez anos atrás, Mario Götze jogava no Borussia Dortmund e era o atacante mais cobiçado por outros clubes do mundo. Mais ou menos como o norueguês Haaland hoje em dia. 

Em 2013, o Bayern de Munique anunciou a contratação dele dias antes de decidir a UEFA Champions League contra o próprio Borussia. Com o conflito de interesses, Götze acabou não jogando pelo time de Dortmund na final contra seu futuro clube.

O começo de Götze no Bayern não foi grande coisa, mas não impediu que ele fosse disputar a Copa de 2014 no Brasil. Começou bem fazendo de pênalti o primeiro gol na estreia, com 4 a 0 sobre Portugal.

Ele fez mais um no empate de 2 a 2 contra Gana e foi eleito o melhor em campo pela Fifa. Na vitória de 1 a 0 sobre os EUA, começou no banco e entrou para os últimos 15 minutos.

Nas oitavas, foi substituído no intervalo de um jogo em que a Alemanha só conseguiu vencer a Argélia por 2 a 1 na prorrogação. Cada vez mais longe da escalação titular, Götze entrou nos sete minutos finais da vitória de 1 a 0 sobre a França nas quartas-de-final.

Götze não esteve em campo no famoso 7 a 1 sobre você sabe quem na semifinal no Mineirão. Na final contra a Argentina no Maracanã, mais uma vez Götze começou esquentando o banco. Entrou no finalzinho do tempo normal no lugar do veterano Klose.

Aos 8 do 2º tempo da prorrogação, Götze dominou no peito um cruzamento de Schürrle e mandou para as redes. O gol do tetra alemão.

Götze não foi endeusado pelo feito. Dispensado pelo Bayern de Munique, voltou ao Borussia Dortmund sem reviver a ótima fase anterior. Na Eurocopa de 2016, foi bombardeado com críticas e passou um ano sem ser convocado para a seleção alemã . 

Teve nova chance em 2018, não foi bem e acabou de fora da Copa na Rússia. Em 2020, o Borussia Dortmund não quis mais saber dele. Foi se arrumar no PSV da Holanda. Ficou até junho último, quando foi contratado pelo alemão Eintracht Frankfurt.

Numa decisão surpreendente do técnico Hansi Flick, o herói breve de 2014 foi convocado para a Copa de 2022 no Catar. Reserva, ele entrou no 2º tempo da derrota de 2 a 1 para o Japão na estreia. E foi substituto de novo na inútil vitória de 4 a 2 sobre a Costa Rica.

Aos 30 anos, Götze não deve ter futuro em Copas do Mundo. Terá de conviver para sempre com a glória efêmera do final de 2014.

Wojciech Szczęsny (2022)

Pode falar “Chesny”, que é a pronúncia que foi propagada na TV durante a Copa. O goleiro da Polônia foi um entre vários candidatos da atual Copa a se tornar um herói breve.

Szczęsny leva vantagem porque defendeu dois pênaltis durante os jogos. Um de Salem, da Arábia Saudita, que tinha sido herói com um golaço na vitória sobre a Argentina na estreia. O outro foi contra a Argentina, barrando a cobrança de Messi.

Além disso, aos 32 anos e com a irregularidade da seleção polonesa em conseguir vaga nas Copas, não dá para garantir que Szczęsny volte a disputar um mundial para não ser um herói breve.

A questão: Richarlisson (2022)?

Fica a pergunta. Richarlisson, com seu golaço – seríssimo candidato a gol mais bonito da Copa de 2022 – na vitória do Brasil por 2 a 0 sobre a Sérvia na estreia (aliás, o outro gol também foi dele) e mais um gol na vitória de 4 a 1 sobre a Coreia do Sul, ficará para a história das Copas como herói breve ou ele vai jogar mais Copas e fazer outras coisas memoráveis?

Marcelo Orozco

Marcelo Orozco

Jornalista que adora música, cultura pop, livros e futebol. Passou por Notícias Populares, TV Globo, Conrad Editora, UOL e revista VIP. Colaborou com outros veículos impressos e da web. Publicou o livro "Kurt Cobain: Fragmentos de uma Autobiografia" (Conrad, 2002).

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