Os maiores psicopatas do cinema, segundo a ciência
Se psicopatas despertam tanto fascínio em pessoas comuns, muito se deve à TV e ao cinema. Mas até que ponto os personagens assustadores que aparecem nas telas imprimem de fato a personalidade de psicopatas da vida real?
Uma análise publicada em 2013 na revista científica Journal of Forensic Sciences detalha uma investigação feita por psiquiatras da Bélgica. Eles assistiram a nada menos que 400 filmes para escolher o psicopata fictício que parecia mais real.
Na análise, os psiquiatras consideraram alguns critérios de seleção — como eliminar os personagens exageradamente caricatos ou com poderes mágicos. Isso fez com que 126 potenciais psicopatas sobrassem para ser classificados.
Segundo o artigo, um dos melhores retratos de psicopata das telas foi Anton Chigurho (Javier Bardem), antagonista de “Onde os fracos não têm vez”, disponível no Amazon Prime. “Eu encontrei um rapaz exatamente como ele. Era um assassino na Bélgica a serviço de uma organização criminosa. Ele era muito frio e assustador”, disse Samuel Leistedt, psiquiatra que liderou a pesquisa.
Leistedt também explicou por que esse personagem traz tanta realidade ao dar vida a um psicopata. “Ele faz o seu trabalho e dorme sem problemas nenhum. Em minha profissão, conheci algumas pessoas assim,” completou, mencionando dois assassinos profissionais que já entrevistou. “Eles eram assim: frios, espertos, sem culpa, sem depressão.”
Outro personagem citado na análise foi Henry (Michael Rooker), de “Henry, o retrato de um assassino”, inspirado no assassino em série da vida real Henry Lee Lucas.
“Neste filme, o tema principal e interessante é o caos e a instabilidade na vida do psicopata, a falta de percepção de Henry, uma poderosa falta de empatia, pobreza emocional e uma falha bem ilustrada em planejar com antecedência”, explicou a pesquisa.
Psicopatas x psicóticos
A pesquisa foca também em desfazer uma confusão clássica dos filmes, que é não diferenciar psicopatas de psicóticos da maneira correta.
Psicopatas, conforme descreve o estudo, são pessoas que não são afetadas por emoções — inclusive pela dor dos outros — e não necessariamente são violentos.
Já os psicóticos têm entre seus sintomas delírios, alucinações, catatonia, desorganização do pensamento, abulia e agitações de caráter. A pessoa que sofre de delírios, por exemplo, inventa histórias que não condizem com a realidade, sem ter consciência disso.
“Alguns dos ‘psicóticos’ mais famosos dos filmes não são psicopatas, mas psicóticos”, escreveu a equipe.
Além desses, tem também um bom exemplo de personagem psicótico, para todos conseguirem entender a diferença entre os dois diagnósticos.
“Exemplos bem conhecidos disso são encontrados nos filmes “Psicose”, com o personagem Norman Bates (Anthony Perkins) e “Táxi Driver” com Travis Bickel (Robert De Niro). Esses personagens são, de várias maneiras, desconectados da realidade e sofrem de ideação delirante”, afirmou Leistedt.
A equipe acredita que, apesar de muitas representações de psicopatas não serem precisas para as descrições clínicas da condição, os filmes que mostram psicopatas podem ser úteis para a sociedade.
“Esses personagens, que espelham alguns tipos de nossa sociedade, são muito importantes para o próprio cinema e a arte em geral, mas principalmente para as futuras gerações de psicólogos forenses e psiquiatras como material pedagógico”, afirmaram.