Armazenado por 25 anos em museu, espécime de pássaro-dinossauro empolga cientistas

Um museu pode te impressionar com todos seus espécimes fósseis à mostra, mas, frequentemente, isso é só uma pequena parte do que está lá dentro — espécimes são guardados nos fundos, em gavetas ou em caixas embrulhadas, silenciosamente contendo segredos a serem revelados ou mais mistérios sobre o passado. Esse é o caso de um […]
Ilustração: Brian Engh

Um museu pode te impressionar com todos seus espécimes fósseis à mostra, mas, frequentemente, isso é só uma pequena parte do que está lá dentro — espécimes são guardados nos fundos, em gavetas ou em caixas embrulhadas, silenciosamente contendo segredos a serem revelados ou mais mistérios sobre o passado. Esse é o caso de um incrível fóssil de pássaro, encontrado 25 anos atrás no estado do Utah e mantido no Museu de Paleontologia da Universidade da Califórnia, mas descrito só recentemente.

• Descobriram uma nova espécie de dinossauro apelidada de “incrível dragão” na China
• Fragmentos de Luzia, o fóssil humano mais antigo das Américas, foram encontrados no Museu Nacional

O fóssil é bem maluco — um pássaro extinto do tamanho de um peru chamado enantiornithine, aparentemente bastante capaz de voar e talvez um dos mais completos de seu tipo já encontrados na América do Norte. Isso aumenta o mistério sobre por que alguns dinossauros foram extintos, enquanto outros (os pássaros que vemos hoje) ficaram por aqui.

Fúrcula, ou “osso da sorte”. Foto: Atterholt et al (PeerJ 2018)

“O esqueleto conta uma história evolutiva interessante. Antes de se extinguirem, os pássaros enantiornitinos haviam separada e independentemente desenvolvido adaptações para voos avançados, exatamente como os pássaros modernos”, disse a autora Jessie Atterholt, professora assistente da Western University of Health Sciences, em entrevista ao Gizmodo.

Este fóssil tem uma história de um quarto de século. O paleontólogo Howard Hutchison o encontrou em uma viagem ao Grand Staircase-Escalante National Monument, no Utah, em rochas de 75 milhões de anos. Vários paleontólogos sabiam sobre o “importante” espécime explicou Atterholt — mas nunca haviam completado sua análise. Atterholt estava interessada especificamente em como esses enantiornitinos evoluíram e perguntou se ela poderia trabalhar nisso. “Agora, estamos finalmente fazendo isso acontecer”, ela disse. Atterholt, Hutchison e a pesquisadora Jingmai O’Connor publicaram os resultados nesta terça-feira (13), no PeerJ.

O esqueleto fóssil, agora uma nova espécie chamada Mirarce eatoni, inclui várias vértebras, a base da espinha que sustentaria as penas da cauda, quase todos os ossos do pé esquerdo e alguns do direito, um úmero, um fêmur, o osso mais baixo da perna encontrado em aves chamado tarsometatarso, uma fúrcula (também conhecida como “osso da sorte”) e outras peças. A espécie tinha aspecto de pássaro e provavelmente o tamanho de um peru. Talvez mais empolgante ainda, a ulna, ou osso anterior, apresentava pequenos entalhes ásperos interpretados como “botões de pena” (“quill knobs”), saliências frequentemente usadas como indicação indireta de penas fortemente fixadas em espécimes fósseis, indicando, consequentemente, presença de voo avançado, disse Atterholt.

Peças de pé esquerdo. Foto: Atterholt et al (PeerJ 2018)

“Sem dúvida, esse é um dos mais importantes fósseis de aves da era dos dinossauros”, disse Steve Brusatte, paleontólogo da Universidade de Edimburgo que não participou do estudo, em entrevista ao Gizmodo.

Esse fóssil conta a história de um grupo de aves que evoluiu em paralelo aos precursores dos pássaros modernos de hoje, mas que não conseguiu sobreviver ao evento de extinção em massa. Seu alto nível de detalhes preservados mostra ainda que uma enorme quantidade de diversidade não conseguiu suportar o impacto do asteroide. Mas ele também aumenta o mistério. Após a colisão, apenas algumas aves sobreviveram, e elas então se diversificaram até chegarmos às dez mil espécies que existem atualmente. Brusatte falou mais sobre o mistério:

“Talvez eles tinham bicos e conseguiam comer sementes — uma fonte de alimento nutritivo que pode sobreviver no solo por décadas ou séculos, um banco de alimentos para quando o mundo virasse um inferno quando o asteroide o atingisse. Ou talvez esses pássaros se aninharam no chão e, então, não foram exterminados com os pássaros que viviam em árvores quando as florestas desmoronaram após o impacto do asteroide. Ou talvez eles conseguiam voar por mais tempo, crescer mais rápido ou se esconder mais facilmente. Nós não sabemos realmente. Mas essa nova descoberta nos diz que os pássaros que viviam com os últimos dinossauros eram ainda mais diferentes do que pensávamos, então é mais um mistério por que tão poucos sobreviveram ao asteroide.”

Todos os ossos encontrados. Ilustração: Scott Hartman

Atterholt continua pesquisando esses ossos para estudar como era esse pássaro e como ele evoluiu. Ela também mencionou a recente polêmica sobre o local de origem do fóssil, o Grand Staircase-Escalante. Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reduziu o tamanho desse monumento nacional. Ela apontou que decisões assim poderiam pôr fim a descobertas como essa.

“Esse material estaria sob risco de destruição e ameaça de reduzir o tamanho das terras protegidas.”

[PeerJ]

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas