Peixe de ‘Vibranium’ recém descoberto é batizado em homenagem a Wakanda
Enquanto mergulhava na costa de Zanzibar, uma ilha na Tanzânia, o biólogo marinho brasileiro Luiz Rocha viu um peixe que nunca tinha tido contato antes. Ele mandou uma foto para o seu colega Yi-Kai Tea, candidato a Ph.D na Universidade de Sydney, que confirmou que aquela era uma nova espécie de um peixe-fada listrado, do gênero Cirrhilabrus.
Como um verdadeiro fã do universo da Marvel que acabara de ajudar a descobrir um peixe roxo brilhante em um local isolado na África, Tea sabia que só havia um nome possível para a novidade: Cirrhilabrus wakanda, o peixe-fada-vibranium.
Tea esperava há muito tempo que alguém encontrasse um membro desse gênero na costa do leste da África, que tinha apresentado uma discrepância na distribuição desses animais. “Quando Luiz me mandou a foto do peixe que ele coletou, eu sabia na hora o que era”, disse Tea. “Ele encontrou a ‘peça que estava faltando’ deste quebra-cabeças biogeográfico”.
Assim como muitos outros peixes-fada do gênero Cirrhilabrus, o peixe-fada-vibranium é pequeno, com cores muito brilhantes, se alimenta principalmente de plâncton e vive em áreas de escombros que rodeiam os recifes de coral.
Apesar de ter sido necessário treinamento e equipamentos específicos para que Rocha e sua equipe chegassem aos 50 ou 80 metros de profundidade onde vivem esses peixes, eles não estão livres dos impactos criados pelos seres humanos.
A equipe de pesquisa observou que o habitat estava repleto de materiais de pesca descartadas e outros resíduos. “É decepcionante que tanta biodiversidade desconhecida seja perdida antes mesmo de ser descoberta”, disse Tea. “Cada nova espécie que descrevemos é um lembrete de que precisamos agir antes que todas elas desapareçam”.
Mergulhando nas águas crepusculares do leste da Tanzânia. Foto: Academia de Ciências da Califórnia
O peixe-fada-vibranium, detalhado num artigo da revista ZooKeys, foi descoberto como parte do programa de pesquisa Hope for Reefs da Academia de Ciências da Califórnia, que envolve 20 expedições de pesquisa ao redor de todo o mundo, com foco na descrição científica de áreas não exploradas.
O brasileiro Luiz Rocha é um dos quatro colíderes. Apesar de ser um cientista sênior, ele procura regularmente informações na expertise de Tea, um estudante de pós-graduação de outro continente com quem ele trabalhou por anos.
“Mesmo quando ele era estudante do ensino médio, sua paixão por peixes de recifes de corais o tornou uma das pessoas mais instruídas sobre taxonomia de peixes no mundo”, disse Rocha. “Quando estou fazendo pesquisa de campo, costumo mandar fotos do que estamos capturando, porque eu sei que vou conseguir uma identificação mais rápida com ele do que com outros guias ali”.
O C. wakanda se junta a uma lista crescente de animais batizados em homenagem a figuras da cultura pop, uma prática que alguns dos taxonomistas mais tradicionais não gostam e veem com ceticismo. Tea e Rocha se descolam dessas preocupações.
“Vejo isso como uma forma de superar a divisão entre a ciência e o público em geral”, disse Tea. “A pesquisa é importante, mas é igualmente importante transmiti-la às pessoas com interesses gerais. A taxonomia é muitas vezes vista como tediosa, mas tem enormes implicações para a conservação da biodiversidade. Inspirar a próxima geração de taxonomistas fazendo a ciência parecer interessante é o nosso objetivo”.
É verdade que alguns nomes da cultura pop podem ser questionáveis, mas é difícil negar que esse peixinho cheio da estética do universo de Pantera Negra e com suas listras da cor do Vibranium merece esse nome.
Esperamos que ao aumentar o conhecimento sobre essa criatura incrível e as ameaças que ela sofre, possamos ter Cirrhilabrus wakanda para sempre.