Pelo menos 200 e-books lançados na loja Kindle, da Amazon, têm o ChatGPT, robô ultra responsivo da OpenAI, como autor ou coautor das obras. Segundo levantamento da agência Reuters, é possível que o número seja muito maior: a Amazon não exige que os autores divulguem se usaram IA (inteligência artificial), ou não.
Entre os exemplos está o livro infantil “Alice and Sparkle”, escrito e ilustrado por bots a partir dos comandos do designer norte-americano Ammaar Reshi. Com ajuda da IA, Reshi não demorou nem 48h entre começar a escrever e lançar o livro na plataforma da Amazon.
As diretrizes de publicação do Kindle não exigem que autores mencionem as ferramentas de IA que usaram em suas obras. A única orientação é que os criadores respeitem as normas de propriedade intelectual, como a proibição de plágio.
Ainda assim, a publicação de obras completas escritas por IA é complexa. Grandes modelos de linguagem, como o ChatGPT e o novo Bard do Google, tiveram o treinamento baseado em milhões de textos escritos por humanos – fato que já foi levantado como uma violação aos direitos autorais.
Apesar dos e-books lançados com o ChatGPT ainda serem uma pequena parcela em meio aos mais de 1,4 milhão de livros de publicação própria na Amazon, o cenário pode se transformar rapidamente.
300 livros por ano
A Reuters teve acesso a tutoriais no YouTube que ensinam como escrever um livro em menos de 24 horas. Um exemplo é do autor que atende por Frank White. Em um vídeo, ele mostrou como criou o e-book de 119 páginas chamado “Galactic Pimp: Vol. 1” no ChatGPT.
A obra mostra facções alienígenas em uma galáxia distante que estão em guerra por um bordel com funcionários humanos. É possível comprar o livro por US$ 1 na loja Kindle. “Qualquer pessoa com recursos e tempo poderia criar 300 desses livros por ano, todos usando IA”, disse no vídeo.
Questionada, a Amazon não disse se tem planos de mudar ou revisar suas políticas na loja Kindle sobre o uso de IA. “Todos os livros na loja devem aderir às nossas diretrizes de conteúdo, inclusive cumprindo os direitos de propriedade intelectual e todas as outras leis aplicáveis”, disse a porta-voz Lindsay Hamilton.
Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps
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