Pesquisadores encontram mangue de 125 mil anos “perdido” no México
A mais de 160 quilômetros do Golfo do México, um ecossistema de árvores resistentes ao sal está florescendo ao longo de um rio de água doce. Uma equipe de pesquisadores investigou recentemente como esse “oásis verde” ficou tão longe de seu habitat natural, e descobriu que a floresta ficou “presa” durante o último período interglacial, há mais de 100 mil anos. Os resultados da pesquisa que avaliou o ecossistema, aparentemente deslocado, foram publicados na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
“Nós encontramos entre estas belas lagoas uma bela floresta de mangues vermelhos”, disse o ecologista marinho Octavio Aburto ao Gizmodo US. “É como um mundo perdido”, completa.
Aburto, do Instituto de Oceanografia Scripps da Universidade da Califórnia em San Diego, faz parte de uma equipe que, recentemente, conduziu a análise genética da floresta junto a uma observação geológica para determinar sua idade. Eles também investigaram a flora da área (além dos mangues vermelhos) e as mudanças no nível do mar para determinar onde o oceano estava durante o Pleistoceno, que terminou há quase 12 mil anos atrás.
A floresta fica às margens do rio San Pedro Mártir, e foi descoberta por Carlos Burelo, botânico da Universidade Juárez Autônoma de Tabasco, no México, e coautor do artigo. “Eu costumava pescar aqui e brincar nesses manguezais quando criança, mas nunca soubemos exatamente como eles chegaram lá”, disse Burelo em um comunicado à imprensa da UC San Diego. “Essa foi a questão que uniu a equipe.”
A análise geológica revelou fósseis de gastrópodes marinhos, indicando que a área nem sempre foi um ambiente de água doce — ideia reforçada pela modelagem do nível do mar. Durante o último período interglacial, a Terra estava quente o suficiente para que as calotas polares se derretessem totalmente. O nível do mar estava entre 1,5 e 9 metros mais alto do que hoje, e a água, agora relegada ao Golfo do México, estava muito mais recuada. Os manguezais cresceram onde antes ficava a beira do oceano. Mas, quando a água do mar baixou, a floresta permaneceu. O ecossistema é o que chamamos de relíquia: um vestígio de um passado antigo que conseguiu sobreviver.
Os pesquisadores acreditam que o conjunto de manguezais sobreviveu na área devido ao tipo de água doce que substituiu o mar. A água é rica em carbonato de cálcio, graças à rocha calcária da região de Tabasco. Os manguezais vermelhos podem se estabelecer em águas cálcicas — sem a necessidade de água do mar –, embora essa seja uma situação “muito rara”, de acordo com Aburto, que liderou a pesquisa.
Esta floresta de mangue hospeda outros organismos que normalmente vivem em ecossistemas de água salgada. A equipe reconheceu quase 100 espécies que geralmente vivem perto dos oceanos, incluindo alguns cactos e orquídeas — e ainda assim, foram encontradas a muitos quilômetros de qualquer costa.
Infelizmente, a antiga floresta está ameaçada. A agricultura e a caça na área fizeram os manguezais serem cortados e queimados. Até a década de 1970, os manguezais cobriam uma faixa mais ampla da região de Tabasco, mas os esforços para estabelecer áreas de gado perto do rio relegaram os últimos pedaços da floresta às margens do rio.
“Esperamos que esta pesquisa crie suporte para mais proteção deste reservatório de biodiversidade”, disse Aburto . “Isso pode nos ajudar não apenas a entender as condições passadas deste planeta, mas também a entender como podemos nos adaptar melhor às mudanças futuras.”
Embora a água salgada tenha permitido que os manguezais se estabelecessem, o excesso de uma coisa boa pode causar problemas. Ainda que esses manguezais estejam hoje distantes do interior, outras florestas de mangue correm o risco iminente de serem submersas — inundadas pelas próprias águas que chamam de lar.