Nem sempre o problema de sua má postura é físico

A postura não é um conceito rígido, e ela é afetada por muitos aspectos da vida cotidiana - incluindo fatores físicos e psicológicos.

A postura não é um conceito rígido. Ela representa algo mais fluido e com considerável margem para mudança. Apear disso, o assunto geralmente é muito simplificado, e ela é descrita como apenas sendo “boa” ou “má”.

Sua postura é afetada por muitos aspectos da vida cotidiana, incluindo fatores físicos e psicológicos. A primeira inclui a forma como você se senta, o quão ativo você é e se você tem repetidamente colocado pressão em parte do seu corpo. Do ponto de vista psicológico, ela mostra como você está lidando com o estresse, quão equilibrada está sua vida profissional, familiar e social e, sobretudo, o seu nível de autoestima.

É amplamente aceito que fatores psicológicos podem influenciar e amplificar nossa sensação de dor. Considerando que uma postura mal sustentada pode levar a dor física, nós não podemos ignorar que também é necessário considerar a correção de problemas que afetam nossa mente.

Problemas fisiológicos

Nós todos nos lembramos de nossos pais, professores e um monte de pessoas que nos disseram para não sentarmos de forma desleixada e para manter uma postura reta. Instintivamente, nós sabíamos que havia alguma verdade nisso.

Colegas que trabalham no campo da biomecânica guardam bem esses conselhos, reconhecendo que se nós adotamos uma má postura por longos períodos — como ficar com o queixo próximo ao peito, segurando nossos ombros em uma posição curva ou sentando de forma desleixada —, o efeito mais comum é que tenhamos dores no pescoço, na região dos ombros e das costas.

Esse tipo de dor vem direto de problemas nas articulações e tecidos, como músculos e ligamentos. Eles ficam sobrecarregados e expostos a forças anormais quando são colocados em “posições” nas quais não foram criados para suportar.

Não há uma “postura perfeita”, principalmente por causa da variação de formas como nós sentamos ou ficamos em pé, mas geralmente, as pessoas não nascem predispostas a um tipo de postura. A postura é desenvolvida com o tempo, dependendo de nosso estilo de vida – embora algumas sejam mais comuns que outras.

Funcionários de escritório, por exemplo, podem ser mais suscetíveis a uma postura curva, por não sentarem da forma correta na cadeira. Ao longo do tempo, esses fatores físicos podem afetar nossa postura e se deixamos de lado, pode contribuir com dores nas costas e no pescoço.

A parte psicológica

Isso é uma interpretação fisiológica do problema, mas igualmente importante e comum em pessoas que reclamam de dor é a forma como elas lidam com fatores psicológicos. A teoria da emoção incorporada analisa como fatores emocionais são expressados em nosso corpo. Isso pode ocorrer sem ninguém saber, ou sem reconhecer problemas psicológicos ocultos. Isso pode acontecer quando alguém sem querer contrai os ombros ou apoia as mãos no queixo quando está estressado, ou uma pessoa alta que se inclina para se equiparar as pessoas ao redor dele, pois não gosta de ser alta.

Isso também vem acompanhado por algo chamado de “teoria da auto-validação”. Isso ocorre quando a postura que adotamos afeta a forma como nos sentimos emocionalmente. Por exemplo, estar com o pescoço e os ombros retos nos faz sentir mais confiantes. Ambas as teorias permitem nos comunicar como estamos nos sentindo aos outros apenas pela nossa linguagem corporal, independente de ser consciente ou não.

Curando a postura

Você consegue curar sua má postura? Há muitos materiais que dão conselhos sobre isso, mas você deve ter em mente se você quer corrigir sintomas imediatos para acabar com dores nas costas, por exemplo, ou se é por alguma razão psicológica.

Meu tempo de atividade clínica me mostrou que as pessoas apenas se interessam pelos sintomas imediatos de dor, sem perceber que há razões ocultas envolvidas, geralmente de ordem psicológica. Esta falta de compreensão sobre o que faz nossa postura mudar frequentemente torna difícil o trabalho de aconselhamento. Mesmo se as pessoas estão conscientes de outros fatores, as pessoas ainda têm dificuldade de discutir os aspectos emocionais.

Claro que o ideal é corrigir os dois tipos de aspectos (fisiológicos e psicológicos), mas meu lado realista sabe que a forma como tratamos nosso corpo geralmente é longe do ideal. Portanto, eu sugiro que as pessoas criem uma consciência sobre o problema e de que é necessário se esforçar para resolvê-lo, em vez de pensarem apenas no alívio da dor.

Se alguém de forma subconsciente adotou uma postura, torná-la consciente do que isso significa pode fazer com que ela aprenda regularmente a deixar esse hábito e a prevenir-se de ficar tensa extensivamente. Se alguém precisa adotar uma nova postura em função de um novo trabalho, onde dor e desconforto fazem parte da profissão, manter a consciência e corrigir a postura constantemente pode fazer reduzir o desconforto.

É importante também entender que a postura é fruto de um processo contínuo de envelhecimento. A teoria diz que quando somos jovens, conseguimos absorver mais estresse e forçar mais nossas articulações e tecidos. Para a maioria das pessoas, a realidade é que conforme vamos envelhecendo, nós não toleramos isso bem, pois há muitas transformações ocorrendo em nossas articulações e isso leva mais tempo que o normal para a recuperação.

De qualquer forma, eu sempre recomendo que as pessoas se eduquem em como melhorar problemas de postura. Mudanças simples em seu cotidiano, como a forma em que você se posiciona, técnicas para carregar peso, controle de estresse e uma vida profissional balanceada são bons pontos de partida.

Também é importante considerar as formas de estresse fisiológico e psicológico. Desconsiderá-los inevitavelmente levará a episódios repetitivos, uma percepção profunda de dor e de recuperação tardia. Em casos mais preocupantes, pode ser necessário procurar aconselhamento apropriado de um profissional de saúde qualificado.


Jonathan Flynn é líder do programa de fisioterapia da Universidade de Huddersfield. O artigo foi originalmente publicado no The Conversation. Leia o original aqui.

Foto por Madeleine Burleson/Flickr

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