Programa de exercícios de astronautas pode ajudar a reduzir efeitos da quimioterapia

Em estudo, especialista da NASA defende que exercícios de astronautas podem ajudar a atenuar os efeitos da quimioterapia em pacientes com câncer.
Steve Swanson, astronauta da NASA, equipado com um arnês de elástico, faz exercícios na esteira T2, a bordo da Estação Espacial Internacional (Imagem: NASA)
Steve Swanson, um astronauta da NASA, equipado com um arnês de elástico, faz exercícios na esteira T2, a bordo da Estação Espacial Internacional (Imagem: NASA)

Em um novo estudo publicado recentemente, pesquisadores estão sugerindo um novo argumento: pacientes com câncer submetidos a quimioterapia e astronautas no espaço sofrem problemas de saúde semelhantes — incluindo perda óssea e muscular — e, como tal, poderiam se beneficiar de regimes de treinamento semelhantes.

Jessica Scott, uma cientista sênior do NASA Johnson Space Center que tem estudado como viagens espaciais afetam o corpo humano, disse que a gênese do artigo ocorreu durante uma conferência acadêmica. Ela conheceu um colega que estudou o câncer e, quando começaram a conversar, perceberam a semelhança entre as experiências dos astronautas da NASA no espaço e os pacientes com câncer em quimioterapia.

“Tanto astronautas como pacientes com câncer estão expostos ao que chamamos de ‘múltiplos hits’”, disse Scott por e-mail.

Ambos os grupos, observou ela, podem ter fatores de risco de base que influenciam o quão bem eles respondem ao espaço ou ao tratamento do câncer, como pressão alta. E tanto o ambiente hostil dos espaço quanto a quimioterapia podem afetar direta e indiretamente o corpo da cabeça aos pés. Os astronautas não conseguem se levantar no espaço devido à microgravidade, por exemplo, enquanto o regime de tratamento de um paciente pode torná-lo fatigado e sedentário.

“Quando você reúne esses vários hits, quase todos os sistemas do corpo são impactados. Por exemplo, os astronautas experimentam algo chamado “nevoeiro espacial”, que é semelhante ao que os pacientes com câncer chamam de ‘cérebro da quimioterapia’, e tanto os astronautas como os pacientes com câncer podem ter diminuições nos ossos, músculos e tamanho do coração”.

No estudo, publicado no periódico Cell na última quinta-feira, a equipe de Scott também mostrou evidências ressaltando que os dois grupos passam pelo mesmo problema de respiração e bombeamento de sangue por todo o corpo, também conhecido como diminuição da aptidão cardiorrespiratória.

Por décadas, a NASA estudou meticulosamente como os rigores do espaço podem prejudicar o corpo (mesmo em nível genético). Como resultado, cientistas como Scott desenvolveram um programa de contramedidas para evitar esses efeitos — mais proeminentemente, um regime de exercícios para seus astronautas antes, durante e depois de uma missão. Mas, embora as terapias contra o câncer tenham se tornado mais eficazes e menos tóxicas ao longo do tempo, o exercício muitas vezes não faz parte do plano de tratamento recomendado. E muitos pacientes podem nem saber que o exercício seria útil para eles.

Scott e seus coautores não estão defendendo que todo paciente com câncer deva correr como um atleta de triatlo. Atualmente, recomenda-se que os enfermos que necessitem de tratamento a longo prazo, como o câncer, se exercitem de três a cinco dias por semana, de 20 minutos a uma hora, realizando atividades que aumentam a frequência cardíaca entre 55% e 75% do máximo normal.

Mas qualquer plano de exercícios para pacientes com câncer, como os astronautas da NASA, precisa ser personalizado, “assim como os pacientes recebem diferentes tipos, doses e horários de quimioterapia”, disse Scott.

Não é só o “amor da NASA” pelo exercício que a equipe de Scott espera levar para o tratamento de câncer. Eles também acham que mais pesquisas precisam ser feitas para caracterizar os efeitos colaterais que a quimioterapia pode causar durante o curso de tratamento de uma pessoa, não apenas em um momento, como no final da terapia. Quanto mais informações tivermos sobre essas “toxicidades relacionadas à terapia”, disse Scott, maior será a possibilidade de impedi-las de causar danos irreversíveis aos pacientes.

Poucos hábitos e práticas mudam na medicina sem muitas evidências. Para esse fim, Scott e os coautores já estão testando o que pregaram em seus ensaios clínicos em andamento com pacientes com câncer.

“Por exemplo, estamos usando determinadas avaliações idênticas às usadas em astronautas, como a avaliação da aptidão cardiorrespiratória. Também começamos a entregar esteiras nas casas dos pacientes e a conduzir sessões de exercícios supervisionados de nosso ‘controle de missão’ no Memorial Sloan Kettering Cancer em Manhattan por meio de videoconferência, assim como os astronautas a centenas de quilômetros acima da Terra recebem prescrições de exercícios”, disse Scott.

Esta abordagem, acrescentou ela, também precisará ser comparada ao padrão atual de atendimento.

Se você quiser ter uma noção de como os astronautas se exercitam no espaço, este vídeo de 2016, em inglês, fala um pouco como é o processo:

E aqui como é correr no espaço:

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