Projetos de cidades flutuantes para quem quer se livrar do governo e fundar seu micro-país
Seasteading é o nome dado ao conceito de construir cidades flutuantes independentes do governo. É uma ideia grande e cara que necessitaria de bilhões de dólares e décadas para ser completada. É difícil até imaginar como estas comunidades seriam. Mas um concurso de design para arquitetos fez este trabalho para nós — e o resultado é uma matriz de cidades oníricas, tecnologicamente utópicas e praticamente impossíveis.
O Seasteading Institute, um grupo fundado por Peter Thiel em 2008, vê o seasteading como a solução ideal para a inabilidade do governo em “inovar o suficiente”. É um movimento que cresceu no mundo tecnológico, atraindo interesse de libertários e simpatizantes das ideias no ramo da tecnologia (que receberam uma paródia na segunda temporada da série Silicon Valley). Numa matéria seminal sobre o assunto, publicada na Wired em 2009, o conceito é descrito como o equivalente do Linux no planejamento urbano: “uma base sobre a qual as pessoas podem construir suas próprias formas de governo inovadoras”.
No primeiro semestre deste ano, o instituto anunciou um concurso que convidou designers e arquitetos para visualizar estas cidades flutuantes. Não que eles estejam prestes a construí-las (risos) — parece mais um negócio para atrair o interesse público. Você sabe como é, uma imagem de uma cidade flutuante, repleta de piscinas, iates, jardins e mansões vale mais que mil palavras. A competição foi encerrada este mês, e um júri formado por arquitetos, cientistas, engenheiros e os próprios seasteaders escolheu os vencedores — os resultados foram postos na rede recentemente.
Vamos deixar de lado nossas muitas questões sobre engenharia e dar uma olhada nas propostas.
O seasteading geralmente mistura preocupações com o governo com preocupações com eventos climáticos extremos. Um dos vencedores do concurso reflete isso, com seu nome inspirado por uma citação de A Poética do Espaço, de Bachelard: Storm makes sense of shelter (em tradução livre, “a tempestade cria o sentido do abrigo”).
O arquiteto Simon Nummy propõe um amortecedor flutuante de três andares cercando a comunidade para protegê-la de ondas fortes e tempestades. Um problema em construir comunidades no meio do oceano é que a vida está concentrada próximo à costa e no fundo do mar — não nas profundidades rasas dos oceanos profundos. Esta proposta usaria tubos enormes feitos de tecido forte, ancorados no fundo do oceano, para criar ecossistemas onde a vida marinha poderia florescer e ser coletada e utilizada pelos humanos.
Putz, não tem sinal.
Outro vencedor — intitulado hermeticamente de Artisanopolis por seus criadores, uma equipe de três arquitetos da Roark 3D — imagina uma série de quebradores de onda circulares cercando as plataformas flutuantes, em que painéis de energia solar e turbinas de energia ondomotriz geram eletricidade para abastecer a ilha. “Na era do governo limitado, nós pensamos em sugerir um modelo alternativo que permita a novas comunidades se constituírem além das jurisdições dos estados-nações existentes, para promover liberdade e competitividade no mercado”, dizem os criadores.
Um bom lugar para colocar um iate.
Iates foram contemplados nos projetos de grande parte dos participantes.
>>> Assine a newsletter semanal do Gizmodo
Mas, mesmo sendo fácil criticar os participantes do concurso por se concentrarem no glamour do conceito em detrimento dos aspectos práticos de construir comunidades autossuficientes que flutuam, ainda é interessante vislumbrar o estilo de vida que o seasteading promove. Estas estruturas têm muito em comum, no que diz respeito à arquitetura, com as estéticas que predominam no Vale do Silício e no mundo da tecnologia, de um modo geral.
Pegue os “biodomos” inspirados na geodésica da segunda ilha. Se eles forem familiares para você, é porque a Amazon está construindo domos semelhantes em um novo prédio em Seattle.
Acima: Seastead. Abaixo: Amazon.
E o que dizer da fachada pavimentada dessa imagem, do vencedor do terceiro lugar, Matias Perez? Parece pegar emprestado o revestimento de cortina de vidro que o Google propôs para seu novo QG, em Mountain View. Também dá para comparar com o prédio modular da Nvidia.
As duas primeiras imagens: Seastead. No meio: Google. A última: Nvidia.
Mesmo a primeira proposta faz eco com a arquitetura do Vale do Silício. Compare as estruturas em formato de donut com a nave-mãe da Apple.
Acima: Seastead. Abaixo: Apple.
Estes projetos são propostas realistas para construir comunidades autossustentáveis? Não, de jeito nenhum. Elas ilustram o hiper-utópico ethos de design do mundo tecnológico em 2015? Absolutamente.
Todas as imagens via The Seasteading Institute.