Quando fazer uma colonoscopia? Exame virtual é opção de diagnóstico
Todos os dias, pelo menos 265 brasileiros são internados no SUS por complicações graves relacionadas ao câncer de intestino. Esse é o maior número já registrado na média histórica, segundo levantamento de três associações médicas — Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, Sociedade Brasileira de Coloproctologia e Federação Brasileira de Gastroenterologia.
Muitas vezes são casos que demoram para receber diagnóstico e, por isso, chegam em estado avançado nos hospitais. Os números não param de crescer: 2022 terminou com 40% de casos a mais que o registrado em 2012 e há um aumento de cerca de 5% em novos diagnósticos todos os anos.
O que surpreende é que pessoas cada vez mais jovens estão desenvolvendo a doença. Nesse sentido, um relatório da ACS (American Cancer Society) mostrou que o número de diagnósticos de câncer de intestino – também conhecido como colorretal – quase dobrou em pessoas com menos de 55 anos nas últimas décadas.
Anteriormente, em 1995, esse era o caso de 11% dos tumores de cólon registrados nos EUA. Em 2019, saltou para 20%. Na maioria das vezes, os jovens já tinham câncer em estado avançado quando chegavam ao diagnóstico. Antes disso, o mais comum era reconhecer a doença por volta dos 67 anos.
O salto chama a atenção para a colonoscopia, o exame que ainda é o padrão-ouro para rastrear a doença. Apesar de ser um exame invasivo, hoje já existem formas que detectam o câncer de intestino sem a necessidade de aparatos físicos, anestesia e intubação.
Um exemplo é a colonoscopia virtual, uma técnica relativamente recente no Brasil que faz o exame através de raios X e tomografia computadorizada de baixa dose. No procedimento, os radiologistas buscam por pequenos pólipos (crescimento de tecido) que podem depois se transformar em câncer. As imagens também mostram se já existem lesões maiores.
Como é uma colonoscopia virtual
Na colonoscopia virtual, os profissionais inserem um tubo fino via anal, que depois é inflado com ar. Em seguida, o paciente vai para a mesa de exames que deslizará para dentro do equipamento de raio-X. Em 15 minutos, o procedimento termina, sem necessidade de sedação ou intubação.
Esse exame é indicado para pessoas com risco moderado de desenvolver a doença ou com história prévia de tumor no cólon. Também se indica o exame para pessoas que possam ter complicações durante a colonoscopia tradicional, como idosos, em terapia anticoagulante, e risco de sedação.
Uma questão importante: a colonoscopia virtual não é tão eficaz quanto a tradicional. Isso significa que ela pode não detectar certos pólipos e nem possibilita que métodos removam tumores ou tratem outros problemas. Ela serve exclusivamente para o diagnóstico – ou, pelo menos, parte dele.
Quem vai dizer se é preciso, ou não, fazer o exame é o médico. Porém, de modo geral, os especialistas recomendam o exame quando o paciente tem sangramento retal persistente e alterações nos hábitos intestinais. Em qualquer um desses casos, o mais indicado é buscar ajuda profissional.
Pessoas que não têm sintomas nem histórico familiar da doença podem fazer exames de rotina a partir dos 45 anos. Por outro lado, quem teve familiares com câncer de cólon deve começar o acompanhamento antes.
Por que as taxas de câncer de intestino estão aumentando?
Existem algumas causas centrais que influenciam o aumento de risco, disse Samir Gupta, gastroenterologista e professor da Universidade da Califórnia ao site Popular Science. Segundo ele, o crescente uso de antibióticos pode ser uma das razões. O motivo: esses medicamentos alteram a composição do microbioma intestinal.
Isso permite que bactérias que diminuem a imunidade criem metabólitos capazes de “danificar” o DNA e causar o câncer. Um estudo de 2021 na Suécia mostrou que adultos que se trataram com antibióticos tinham 17% de risco de desenvolver câncer de cólon posteriormente.
Outro motivo que pode causar a doença é a obesidade. Muitos estudiosos relacionam o aumento das taxas de câncer de intestino com o aumento da obesidade nos EUA. Outras associações apontam para os produtos químicos usados nos alimentos e influência genética.
Por isso, a melhor forma é a prevenção. Um estudo realizado na Europa em 2022 aponta que as pessoas que fizeram uma colonoscopia de rotina reduziram o risco de câncer colorretal em 31% e o risco de morrer da doença em 50%. Em suma, “o segredo é pegá-lo a tempo”, completa Gupta.