Casos de reinfecção por Covid-19 ainda são raros, mas isso não significa que eles devam ser ignorados. Prova disso é um estudo recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que identificou quatro pacientes que apresentaram sintomas mais fortes da doença quando foram contaminados pela segunda vez. Apesar do quadro mais grave, os casos ainda foram considerados leves, sem a necessidade de hospitalização.
A pesquisa, coordenada pelo Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fiocruz (CDTS/Fiocruz), será publicada na revista Emerging Infectious Disease, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
Thiago Moreno, virologista do CDTS/Fiocruz e que coordenou o estudo, explicou à Agência Brasil que o resultado reforça a suspeita de que os pacientes que apresentaram sintomas leves da Covid-19 não desenvolvem a chamada “memória imunológica” — ou seja, o sistema não é capaz de se lembrar do vírus para combatê-lo caso seja exposto a ele novamente.
A reinfecção também não ocorre necessariamente por outra variante do vírus. A pesquisa recente identificou que pelo menos um dos casos foi provocado pela mesma cepa do primeiro episódio de infecção. Segundo Moreno, isso já ocorre com outros coronavírus sazonais.
Apesar de nenhum dos pacientes estudados precisar de hospitalização, os sintomas foram mais fortes quando comparados à primeira infecção. Isso alerta para a necessidade de as pessoas que já contraíram a doença continuarem com todos os cuidados de prevenção da Covid-19.
Conforme explica Moreno, mesmos os testes que identificam a presença de anticorpos não garantem que o corpo será capaz de bloquear a doença. Eles podem servir apenas para indicar que o corpo já foi exposto ao vírus, mas não significa necessariamente que há uma memória neutralizante, ou seja, que o sistema imunológico será capaz de combater a infecção.
Mesmo com a formação da memória após a segunda infecção, os cientistas ainda não conseguiram determinar por quanto tempo ela pode durar. Isso pode indicar que, com o tempo, a pessoa poderia apresentar um terceiro caso de contaminação por Covid-19, alerta o virologista da Fiocruz.
Ele ressalta, no entanto, que o estudo relata apenas quatro casos, o que significa que ele não pode ser utilizado como base para determinar a proporção de pessoas reinfectadas em toda uma população. Além disso, o fato de os participantes terem manifestados sintomas mais graves não representa um padrão para todos os casos de reinfecção.
O estudo foi feito a partir do acompanhamento de 30 pessoas entre março e dezembro de 2020 com testagens semanais. Inicialmente, o objeto dos pesquisadores era monitorar a segurança desse grupo no local de trabalho. Porém, ao detectaram possíveis reinfecções, eles decidiram se dedicar à análise desses casos.
Além da Fiocruz, o estudo também contou com a participação de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa (Idor) e da empresa chinesa MGI Tech Co.