Reino Unido planeja infectar voluntários saudáveis para ajudar na criação de vacinas contra COVID-19
Um novo e controverso experimento para desenvolvimento de vacinas contra COVID-19 está oficialmente programado para começar no Reino Unido em janeiro do ano que vem. Na última terça-feira (20), pesquisadores do Imperial College London e de outras instituições anunciaram que planejam conduzir um teste de desafio humano que envolverá 90 adultos jovens e saudáveis. Esses voluntários receberão vacinas experimentais e serão infectados intencionalmente com o novo coronavírus — tudo isso sob observação de uma junta médica, obviamente.
No final de setembro, o Financial Times informou que o Reino Unido permitiria que esses testes começassem em 2021, observando o envolvimento do Imperial College London e outros parceiros. Mas nenhum deles confirmou oficialmente a notícia, e alguns até disseram que o status do projeto estava mudando. Agora, muitos de seus detalhes foram expostos, embora o experimento ainda precise ser aprovado formalmente por um comitê de ética.
O experimento vai recrutar e pagar voluntários com idades entre 18 e 30 anos. A primeira fase do ensaio tentará descobrir a menor dose possível de vírus necessária para infectar alguém com sucesso. Feito isso, novos ensaios clínicos subsequentes testarão várias candidatas a vacinas. Os testes serão realizados no Royal Free Hospital, com previsão de duração até maio, mas os voluntários serão acompanhados por um ano inteiro.
Apesar de os testes de desafio em humanos serem há muito tempo parte de um conjunto de medidas para comprovar a eficácia de novas vacinas, alguns cientistas têm sido críticos quanto ao uso potencial do COVID-19. Ao contrário de outras doenças estudadas por meio de testes com humanos, muita coisa sobre o novo coronavírus ainda é desconhecida, podendo afetar pessoas de todas as idades, incluindo as mais jovens e saudáveis.
Há também o fato de que a pandemia ainda continua em ritmo de ascensão (algo que não deve mudar tão cedo), e a necessidade de testes de desafio, que são frequentemente usados para estudar doenças que são raras ou difíceis de rastrear, podem não ser obrigatórios nesta altura do campeonato. Já existem várias vacinas muito à frente nos testes clínicos, e os cientistas esperam que os resultados de testes em grande escala, necessários para garantir a aprovação regulamentar para seu uso, apareçam agora no final do ano.
No entanto, os defensores dos testes de desafio argumentaram que essas vacinas de primeira geração, mesmo se bem-sucedidas, podem não ser as mais eficazes. Por isso, é importante continuar desenvolvendo e testando candidatas em potencial. E apesar de os testes de desafio carregarem os próprios riscos exclusivos, a oportunidade de rastrear o curso completo da infecção em pessoas em um ambiente controlado é algo que nenhum outro tipo de estudo poderia fornecer.
“Infectar deliberadamente voluntários com um patógeno humano conhecido nunca é feito levianamente. Contudo, esses estudos possuem uma quantidade enorme de informações sobre uma determinada doença”, disse o pesquisador do estudo Peter Openshaw, imunologista do Imperial College London, em um comunicado à imprensa. “É realmente vital que avancemos o mais rápido possível para obter vacinas eficazes e outros tratamentos para COVID-19, e os estudos de desafio têm o potencial de acelerar e diminuir o risco de desenvolvimento de novos medicamentos e vacinas”, completou.
O projeto será conduzido com a ajuda do governo do Reino Unido e também da empresa hVIVO, que já trabalhou em testes com humanos. De acordo com a AP, o governo britânico deve gastar US$ 43,4 milhões (R$ 243 milhões) para financiar o projeto.