Remdesivir e hidroxicloroquina não funcionam contra COVID-19, diz estudo global da OMS
Os resultados de um grande ensaio de tratamento para pacientes hospitalizados com COVID-19 e financiado pela Organização Mundial de Saúde trazem informações importantes. A pesquisa internacional não encontrou nenhuma evidência de que vários medicamentos, incluindo o promissor antiviral remdesivir, tenham qualquer efeito real nas chances de sobrevivência ou melhorias em pessoas infectadas pelo novo coronavírus.
Batizado de SOLIDARITY, o estudo é o maior ja feito para detectar a eficácia de tratamentos contra COVID-19. A primeira grande pesquisa aconteceu no final de março e envolveu mais de 11.000 pacientes em mais de 400 hospitais em 30 países. Os pacientes foram selecionados aleatoriamente para receber um dos quatro medicamentos, além do tratamento padrão.
As drogas eram o remdesivir; a hidroxicloroquina; um tratamento antiviral combinado conhecido como lopinavir-ritonavir, que já é utilizado para tratar HIV; e o interferon β1a, um medicamento derivado de nossas células imunes usado para tratar a esclerose múltipla. Inicialmente, o interferon foi administrado em combinação com lopinavir, mas médicos abandonaram essa medida no início de julho.
Os resultados anteriores obtidos no ensaio enquanto ele estava em andamento já sugeriam que a hidroxicloroquina não era eficaz na prevenção de mortes por COVID-19. Isso acabou levando a OMS a interromper esse braço do teste em junho. Outros estudos já haviam sugerido que o lopinavir-ritonavir também não era eficaz, e a OMS também interrompeu os testes naquele mesmo mês.
O veredicto foi menos certo para o interferon. E em abril, um ensaio relativamente grande de 1.000 pacientes financiado pela Gilead Sciences, fabricante do remdesivir, parecia fornecer dados de que o medicamento poderia encurtar a duração dos sintomas da doença viral e possivelmente reduzir a mortalidade em certas circunstâncias.
No entanto, as descobertas do SOLIDARITY são as seguintes: nenhum dos quatro medicamentos foi associado a um aumento significativo na sobrevida entre os pacientes. Essas drogas também não parecem ter nenhum efeito na redução da necessidade de um ventilador ou na redução de curtas internações hospitalares, ao contrário do que sugeria um estudo anterior com remdesivir.
“Os principais resultados de mortalidade, início da ventilação e duração da hospitalização não foram claramente reduzidos por nenhum medicamento do estudo”, escreveram os autores de um artigo preliminar sobre as descobertas, publicado no site de pré-impressão medRxiv, nesta quinta-feira (15). Para aqueles que tomaram os medicamentos interferon e hidroxicloroquina, até parecia haver um pequeno aumento do risco de morte, embora os dados não sejam certos.
É importante notar que as descobertas ainda não passaram por uma revisão por pares adequada. Mas especialistas externos já elogiaram o desenho do ensaio SOLIDARITY, que deve ser olhado com atenção devido a seu tamanho substancial.
Para interferon e remdesivir, este ensaio é responsável por mais de três quartos de todos os pacientes que tomaram as medicações aleatoriamente até agora. Em outras palavras, embora seja possível que estudos futuros ainda possam encontrar algum benefício nessas drogas, é bem provável que grupos selecionados de pacientes infectados por COVID-19 não tenham quaisquer benefícios.
“Para cada um desses quatro antivirais não específicos reaproveitados, vários milhares de pacientes foram medicados de forma aleatória em diferentes ensaios. Os resultados gerais pouco promissores são suficientes para refutar as esperanças iniciais, com base em estudos menores ou que não sejam aleatórios, de que qualquer um irá reduzir substancialmente a mortalidade de pacientes internados, ou no início da ventilação ou na duração da hospitalização por coronavírus”, escreveram os autores.
Por mais decepcionante que isso possa ser, as perspectivas de tratamento de COVID-19 não são desesperadoras. Melhorias constantes têm sido registradas no atendimento hospitalar padrão para pacientes com o vírus, à medida que os médicos conseguem saber com mais precisão quando os pacientes precisam de intervenções intensivas, como ventiladores.
Uma outra pesquisa encontrou um efeito modesto, mas significativo, de salvamento de vidas de esteróides comuns para COVID-19 grave, permitindo que eles sejam um tratamento padrão nesses casos. E há outras drogas experimentais, como anticorpos monoclonais, que se mostraram mais promissoras do que as drogas testadas anteriormente.
As descobertas reforçam uma lição importante sobre a pandemia: não haverá uma única cura milagrosa que nos ajude a superar tudo isso.