Por que ressuscitar um mamute-lanoso não é mais ficção científica

No último livro de Ben Mezrich, é contada a história de George Church e seu laboratório de Harvard, que tentam clonar um extinto mamute-lanoso

O Dr. George Church é um Dr. Frankenstein da vida real. O inventor do CRISPR e uma das mentes por trás do Projeto Genoma Humano não está mais contente apenas em ler e editar o DNA, agora ele quer criar uma vida nova. No último livro de Ben Mezrich, Wooly: The True Story of the Quest to Revive One of History’s Most Iconic Extinct Creatures (ainda sem tradução para o português), é contada a história de Church e seu laboratório de Harvard, que tentam fazer o impossível e clonar um extinto mamute-lanoso para fazê-lo voltar à existência.

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Mezrich, autor dos livros que serviram de inspiração para os filmes Quebrando a Banca e A Rede Social, parece ter saído de uma graduação na faculdade diretamente para um doutorado de bioengenharia em seu último trabalho, que está cheio de explicações científicas. Ele detalha todos os aspectos dos esforços do laboratório de Church para reescrever o DNA de um elefante para que se pareça com um mamute-lanoso. No entanto, Mezrich está ainda mais interessado em contar as histórias das pessoas que tentam fazer do mamute uma realidade, dramatizando a vida de Church, sua esposa, a Professora de Harvard Dr. Ting Wu, seus colegas cientistas, pesquisadores que trabalham para um laboratório de clonagem concorrente na Coréia e os conservacionistas na reserva da Sibéria, onde os mamutes finalmente permanecerão. Embora às vezes suas previsões pareçam muito boas para ser verdade, o que Mezrich fala raramente deixa de te conquistar.

O Gizmodo sentou com Mezrich para falar sobre alguns dos temas presentes em seu livro, assim como o futuro da extinção e descobertas científicas em geral. Abaixo está uma versão levemente editada e condensada da entrevista.

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Gizmodo: O que te levou para o tema do renascimento das espécies extintas em particular?

Mezrich: Sou interessado por mamutes desde que eu era criança, e sempre fui um fã de Michael Crichton e Jurassic Park, então sempre esteve na minha cabeça contar uma história como essa. Alguns anos atrás, comecei a ouvir sobre o Dr. George Church e o projeto Mammoth Revival, e decidi que precisava contar essa história. Então, basicamente, contatei ele do nada. Ele me deixou entrar no seu laboratório, passei um tempo vivendo lá vendo o que estava acontecendo, e acabei me interessando muito por isso.

Gizmodo: Um dos primeiros capítulos do livro começa quatro anos no futuro, quando os humanos conseguiram trazer os mamutes de volta à vida. O que faz você pensar que o projeto terá sucesso tão cedo?

Mezrich: Mesmo neste momento atual, há três mamutes-lanosos [pré-históricos] vivos, vivendo em células de elefantes, então estamos à beira disso. Eu estava falando com George [na noite anterior]. Embora ele não coloque uma data, coloquei a data de quatro anos, mas ele vê isso como totalmente possível. A parte mais lenta do processo no momento é o período de gestação de um elefante. Não sei se teremos um mamute-lanoso em três anos ou apenas estivermos mais próximos em três anos, mas muito disso depende do dinheiro e do elefante. A iniciativa é sobre como eles trabalham nisso, é completamente viável.

Gizmodo: Vamos falar sobre o dinheiro. Esse é um enorme fator motivador por trás do projeto, mas parece que os ricos são quem financia os esforços científicos durante a maior parte do tempo (Nota do Editor: O projeto de Sequenciamento do Genoma do Laboratório de Church é financiado principalmente por empresas privadas de computação e biotecnologia). Isto é uma coisa boa? Como você se sente sobre ciência financiada pelos caprichos dos oligarcas?

Mezrich: Bem, é interessante, você vê esse casamento entre pessoas incrivelmente ricas e, de certa forma, é uma coisa muito boa. Você sabe, de certa forma, impulsiona a ciência. Você não vai ver (e eu gostaria que sim) Donald Trump despejando dinheiro no projeto de renascimento do mamute-lanoso, você não está vendo o governo fazendo essas coisas. [Cientistas] muitas vezes têm que recorrer a fontes externas, e se alguém como Peter Thiel quer viver para sempre, ele precisa financiar as coisas no laboratório de George Church. Então, qualquer que seja o seu objetivo pessoal, é bom para todos. Eu olho para isso como algo positivo, acho que muito dinheiro sempre influenciou a ciência de ponta, veja o que Elon Musk faz ou o que está acontecendo na Amazon, Facebook ou Google. São pessoas muito muito ricas jogando dinheiro em idéias loucas, e espero que todos nós se beneficiem disso. Peter Thiel colocou US$ 100 mil, o que não parece muito, mas você precisa que dinheiro venha de fontes externas se não vier da academia ou do governo.

Gizmodo: Este livro e The Accidental Billionaires tiveram protagonistas que receberam financiamento adicional de Peter Thiel. Como você se sente sobre seu envolvimento em particular em um trabalho tão relevante?

Mezrich: Sim, escrevi sobre ele duas vezes. (Nota do editor: Mezrich também cobriu Peter Thiel em seu livro The Accidental Billionaires) Neste caso, da forma como George conta a história, ele basicamente encontrou Peter Thiel e falou sobre alguns projetos. Thiel disse “me conte seus projetos mais loucos”, e ele listou alguns deles, e [Thiel] disse: “o mamute-lanoso, esse é o que eu quero fazer”.

Gizmodo: Falando em outros projetos, Church está trabalhando em algo tão louco quanto o mamute?

Mezrich: Sim, absolutamente, Church e seu laboratório estão fazendo os mosquitos anti-malária, trabalhando com a fundação Gates, construindo cúpulas sobre as aldeias de África e liberando mosquitos que não podem transmitir a malária, para testá-los. Além disso, seu aluno Ken Esfeld no MIT está trabalhando em ratos transgênicos para vencer a doença de Lyme. O objetivo é liberar 100 mil ratos geneticamente modificados que não podem transmitir a doença de Lyme para a ilha de Nantucket. Em seu laboratório, eles também estão trabalhando com porcos com fígados compatíveis com humanos. Eles têm um par de embriões de porco com fígados que podem ser usados em seres humanos. Você está olhando para o futuro do transplante, o que é incrível. Eles estão trabalhando em projetos para estender a expectativa de vida… mas o projeto do mamute e aqueles que trabalham com espécies transgênicas são os mais loucos.

Gizmodo: Você acha que se intrometer nos ecossistemas e reviver espécies perdidas pode ter efeitos negativos sobre os seres vivos?

Mezrich: Você precisa ser muito ético e responsável porque está trabalhando com tecnologia que é muito poderosa. A mesma tecnologia que permite que você recrie um mamute-lanoso ou uma espécie extinta permite que você elimine uma espécie se desejar. Você poderia eliminar os mosquitos (Nota do Editor: os cientistas estão discutindo a possibilidade de fazer isso com uma tecnologia controversa e especulativa chamada genética dirigida), mas isso traz enormes problemas para a ecologia. Penso que trazer de volta uma espécie extinta como o mamute geralmente é uma coisa boa. Acho que as pessoas que não querem que Church faça isso estão pensando no que isso significa para a população de elefantes asiáticos, que está em perigo. Mas não é um jogo de soma zero, não estamos abandonando essas espécies ameaçadas de extinção. Agora temos a tecnologia para trazer de volta uma espécie que caçamos até a extinção. É como um remédio para um erro que cometemos, e tem havido muita conversa sobre a sexta extinção, espécies estão sendo extintas no mundo todo, mas o fato de que podemos trazer uma de volta é algo imenso, penso eu, na história humana, é a capacidade consertar as coisas que estragamos. Temos que viver com o nosso meio ambiente, mas também temos que descobrir maneiras de melhorá-lo, e se trazer de volta um mamute-lanoso para ajudar o meio ambiente é algo que podemos fazer, é algo que devemos fazer.

universalImagem: Universal

Temos que viver com o nosso meio ambiente, mas também temos que descobrir maneiras de melhorá-lo, e se trazer de volta um mamute-lanoso para ajudar o meio ambiente é algo que podemos fazer, é algo que devemos fazer.

Gizmodo: Church não é o único trabalhando na clonagem de um mamute. Há também o laboratório coreano de clonagem de cães de Hwang Woo-suk, Soaam Technologies. Você pode falar sobre como você se envolveu com eles?

Mezrich: Esta é uma história selvagem, esta é a história de um cientista desonrado. Ele foi o único que afirmou clonar células humanas, mas aconteceu que ele estava forçando suas alunas a doar seus óvulos e, em segundo lugar, que suas células de clone eram fraudulentas, então ele está tentando ressuscitar sua reputação ao ser o primeiro a clonar um mamute . Então, ele supostamente conseguiu mamíferos congelados incrivelmente preservados do gelo [no Ártico] em conjunto com alguns russos, e vai usar essas células para clonar [o mamute]. Church não acredita que seja algo que vá funcionar. Esses materiais estiveram no gelo por muito tempo e bombardeados por radiação, não há muita prova que o DNA ainda seja clonável. Eles compraram pedaços de terra em Alberta, Canadá, e as pessoas acham que eles querem construir seu próprio Jurassic Park lá… É uma empresa muito estranha, e parece que o que estão perseguindo é impossível, mas Church diz que nada é impossível, então, quem sabe?

Gizmodo: O livro faz a clonagem de mamute parecer uma corrida armamentista, mas as tecnologias Sooam só aparecem perto do final do livro, isso foi de propósito?

Mezrich: Eu acho que é. A ciência é sempre uma corrida armamentista, e quando você começa a trazer de volta o mamute, acho que a equipe de Church está liderando, mas eles não são os únicos a tentar fazê-lo.

Gizmodo: Depois dos primeiros mamute-lanosos nascerem, o plano é que eles sejam mandados para a Sibéria…

Mezrich: …Isso que é legal, é a parte legal da história. Sim, o bioma tundra tem um permafrost que é como uma bomba relógio que, se fosse embora, seria pior do que se queimássemos todas as florestas na Terra três vezes. E este permafrost está sempre perto do derretimento (Nota do Editor: Mezrich está falando sobre o potencial de uma libertação catastrófica de metano a partir do derretimento do gelo permanente ártico). Esses cientistas, os Zimoffs, estão executando esse experimento desde os anos 80, onde eles cortaram uma parte da tundra e a repovoaram com herbívoros do tipo da era do Pleistoceno. Colocaram bisões, renas, cavalos, um tanque da era da Segunda Guerra Mundial que eles dirigem para imitar um mamute, derrubando árvores. E eles descobriram que podem baixar a temperatura em até 15 graus, o que é incrível (Nota do Editor: Esta é uma idéia especulativa que Mezrich descreve mais detalhadamente no livro, na qual os herbívoros do Pleistoceno podem ajudar florestas de transição, arbustos e pastagens, que absorvem menos calor). A idéia é repovoar a área com mamutes. O objetivo de Church é de que, com 80 mil mamutes, [ele espera que] você possa baixar a temperatura do permafrost por gerações.

Gizmodo: Este é o seu terceiro livro que será transformado em um filme, (depois que Bringing Down the House foi adaptado para Quebrando a Banca e The Accidental Billionaires em A Rede Social), então você deve ter aprendido algo sobre Hollywood até agora. Quem deveria interpretar Church no filme?

Mezrich: Eu adoraria Tom Hanks pare esse personagem, Jeff Bridges é outra escolha também. Hanks já deixou a barba crescer para fazer O Naufrago, e Jeff Bridges tem uma ótima barba, então Hanks ou Bridges.

Imagem do topo: Flying Puffin – Mammu CC BY-SA 2.0

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