Restos do planeta Theia estão nas profundezas do manto da Terra; veja os detalhes
Um novo estudo trouxe luz a uma dúvida que permanecia entre os cientistas desde a década de 1980. Na epoca, geofísicos descobriram dois aglomerados de material desconhecido no centro da Terra.
Conhecidos como LLVPs (Províncias de Baixa Velocidade de Cisalhamento), cada um deles têm o dobro de tamanho da Lua. Agora, pesquisadores parecem ter descoberto de onde esses aglomerados vieram: um estudo sugere que são remanescentes de um planeta antigo que se chocou violentamente contra a Terra.
Aparentemente, os vestígios do astro adentraram o manto terrestre após a colisão de bilhões de anos de anos atrás. Os resultados da pesquisa foram publicados em um artigo na revista científica Nature.
O mistério da Lua
Há muito tempo, pesquisadores acreditam que a Lua foi criada após um grande impacto entre a Terra e um planeta menor — apelidado de Theia. Contudo, nenhum resquício dessa colisão foi encontrado até o momento (a não ser a própria Lua no céu).
No entanto, a nova descoberta sobre o material desconhecido no centro terrestre parece ter reforçado a teoria. De acordo com cientistas envolvidos, o impacto que deixou pedaços do planeta nas profundezas da Terra pode ser o mesmo que criou a Lua.
Inclusive, o novo estudo sugere que a jovem Terra absorveu a maior parte de Theia. Dessa forma, formaram-se as LLVPs, enquanto os detritos remanescentes do impacto em órbita se uniram para formar a Lua.
Entenda a pesquisa
Na década de 1980, pesquisadores descobriram a presença do material desconhecido no manto da Terra. Isso porque, na região mais profunda, o padrão das ondas sísmicas é dominado pelos dois grandes aglomerados.
Em geral, as ondas sísmicas viajam a diferentes velocidades através de materiais distintos. Próximo aos aglomerados, elas passavam e desaceleravam – o que levou ao nome “Províncias de Baixa Velocidade de Cisalhamento”.
Isso acontece porque o material é rico em ferro e, portanto, mais denso que as áreas do entorno. Da mesma forma, os pesquisadores observaram que a Lua também é relativamente rica em ferro.
Para confirmar a suspeita de que as estruturas e o satélite poderiam ser frutos dos restos de um planeta, os cientistas da Caltech, nos EUA, modelaram diferentes cenários para a composição química de Theia e seu impacto com a Terra.
As simulações confirmaram que a física da colisão poderia ter levado à formação das LLVPs e da Lua. O estudo sugere que parte do manto de Theia poderia ter sido incorporada à própria Terra.
Contudo, grande parte da energia do impacto permaneceu na metade superior do manto terrestre. Isso fez com que a região inferior ficasse mais fria, de modo que o material rico em ferro permaneceu praticamente intacto e não se misturasse totalmente à composição da Terra.
Se o manto inferior estivesse mais quente — ou seja, se tivesse recebido mais energia do impacto –, teria se misturado mais completamente com o os vestígios de Theia.
Agora, o próximo passo é examinar como a presença dos resquícios do planeta Theia nas profundezas da Terra pode ter influenciado os processos internos terrestres. Por exemplo, a formação das placas tectônicas, dos primeiros continentes e a origem dos minerais mais antigos.