[Review] Samsung Odyssey G9: um monitor curvo que faz jus ao preço e tamanho
Quando a Samsung nos convidou para testar o Odyssey G9, inicialmente pensei: “Ok, legal. Um monitor ultrawide”. Tinha visto fotos e acompanhado as notícias do lançamento nacional, em setembro do ano passado, mas até então era só isso. O que eu não esperava é que fosse o maior e melhor que já usei.
Visualmente falando, o Samsung Odyssey G9 dispensa apresentações. Com suas 49 polegadas em um painel QLED curvo de até 240 Hz e 5.120 x 1.440 pixels de resolução, além de suporte às tecnologias G-Sync e FreeSync 2 e brilho de até 1.000 nits, o dispositivo me causou um estranhamento nas primeiras horas de uso — e talvez eu levei mais tempo do que imaginava para me habituar ao tamanho do display. Ele é grande. Muito grande. Só que essa vantagem transformou a forma como venho trabalhando em casa nos últimos trinta dias.
Agora, eu conto para você como tem sido minha experiência. Logo de cara já adianto: embora tenha um apelo dedicado aos gamers (no final das contas, essencialmente ele é um monitor dessa categoria), o G9 é uma excelente alternativa para quem deseja ter o máximo de produtividade no trabalho. Basta estar disposto a investir mais do que você gastaria em uma TV OLED.
Samsung Odyssey G9
O que é
Um monitor curvo de 49 polegadas e suporte às principais tecnologias gamer da atualidadePreço
Sugerido: R$ 11.599. No varejo: entre R$ 7.880 e R$ 8.299Gostei
Tela enorme que você acaba se acostumando; brilho e HDR impecáveis; pedestal com altura ajustável; modos picture-in-picture e picture-by-picture transformam a experiência; produtividade nas alturasNão gostei
Custa mais do que uma TV OLED; games tendem a ficar achatados nas laterais; sem entradas USB-C e HDMI 2.1
Design
Monitores curvos são uma tendência nesse mercado, mas por alguma razão (eu chuto que seja preço) ainda não deslancharam. É uma pena, já que a sensação de imersão causada por esse tipo de curvatura seja, de fato, significativa. O Samsung Odyssey G9 eleva esse e outros quesitos graças ao painel de 49 polegadas que exige um espaço considerável na sua casa. Pense como se fossem dois televisores de 27 polegadas cada, um ao lado do outro.
Ele também é bem pesado: a tela e o suporte juntos totalizam 16,7 kg, mais até do que algumas TVs de 50 polegadas. Toda a parte traseira é revestida em um branco brilhante que dá uma aparência premium ao produto, apesar de terem sido poucas as vezes que eu prestava atenção em outra coisa que não fosse o painel. E claro, por se tratar de um monitor gamer, não poderia faltar algum detalhe em RGB. Neste caso, ele fica na traseira, em um anel de LED que faz a “conexão” entre a base e o display. É algo bem discreto, até nos padrões mais coloridos, e você pode desativar a qualquer momento nas configurações do aparelho.
A montagem não é das mais fáceis e você vai precisar de alguns minutos, já que é necessário parafusar a base na traseira. Por segurança, a própria Samsung recomenda que você monte o G9 diretamente na caixa antes de remover o monitor pela base de sustentação que, a princípio, parece não ser muito resistente. Mas, no final das contas, ela acaba bem firme sobre a mesma. É por essa mesma base que os fios do G9 ficam escondidos, ajudando a economizar espaço e manter a mesa mais limpa, sem aquele emaranhado de cabos. Lembrando: assim como uma TV convencional, você pode instalar o monitor em uma parede.
Na parte traseira fica uma tampa removível que revela as principais conexões do produto. São duas DisplayPorts 1.4, uma entrada HDMI 2.0, duas portas USB-A 3.0, entrada para o cabo de força e saída para fone de ouvido P2 (o produto não tem alto-falantes embutidos). Na maior parte do tempo, eu usei uma das DisplayPorts, para ligar o monitor no notebook, e as duas portas USB-A para teclado e mouse. Talvez a Samsung pudesse ter incluído entradas USB-C, Thunderbolt e HDMI 2.1, mas não foi algo extremamente necessário no meu dia a dia.
[foo_gallery]
O display ainda pode ser movido para alturas diferentes, sem precisar de uma alavanca ou algo do tipo. Se quiser deixá-lo mais alto ou baixo, basta empurrar para cima ou para baixo. É possível girá-lo para a esquerda ou direita (apesar de não se rotacionar em 360°), ou incliná-lo mais para cima ou baixo.
Já abaixo da luz de LED, que indica se o aparelho está ligado, há um pequeno botão de acesso rápido às configurações do G9. É por esse menu que você define níveis de resolução, modo picture-in-picture (PiP) para dividir a tela entre múltiplas conexões, seleciona a taxa de atualização, entre outras opções. Sem dúvida, é uma forma simplificada de acesso a todos esses menus, sem precisar apertar vários botões. Eu só achei o botão único bem barulhento, além de me passar a impressão de ser frágil, podendo quebrar com o tempo.
Tela
No quesito proporções, o Samsung Odyssey G9 deve atender todas as parcelas de pessoas que procuram um monitor grande. Além das já citadas 49 polegadas em um painel QLED, o G9 conta com resolução máxima de 5.120 x 1.440 pixels e taxa de atualização de até 240 Hz na proporção de 32:9. Ele também é compatível com HDR e até 1.000 nits de brilho, Nvidia G-Sync e AMD FreeSync 2, e cobertura de 125% da gama de cores sRGB. Também é possível, pelo menu de configurações do monitor, alternar entre cinco modos de temperatura de cor e equalizar os níveis de preto da tela.
Essas são as melhores configurações que você vai encontrar hoje em um monitor. O QLED, embora não tenha os mesmos níveis de preto que uma tela OLED, cumpre o seu papel – em partes graças à combinação com o HDR. Visualmente falando, jogos como Destiny 2 e Gears 5 ficam belíssimos no Odyssey G9, com um alto contraste que eu nunca tinha visto em nenhum monitor (gamer ou não). Mas é isso: uma fusão de todas essas tecnologias, que juntas são capazes de alcançar índices que muito provavelmente não podem ser obtidos em monitores comuns.
Por falar em fusão, é triste dizer isso, mas o monitor, mesmo em toda a sua glória, não funciona sozinho. Ou seja, você precisa ter um computador ou notebook de ponta para aproveitar as especificações máximas do G9. Eu diria até que, mesmo com a máquina mais avançada do mundo, dificilmente você vai obter tudo o que o monitor da Samsung promete.
A própria resolução máxima de 5.120 x 1.440 pixels excede a largura de banda das portas Display Ports 1.4 e do HDMI 2.0. A Samsung até desenvolveu uma alternativa chamada Display Stream Compression (DSC), que comprime a contagem total de pixels do monitor sem perda de qualidade. No entanto, esse padrão, que já foi disponibilizado por uma atualização de firmware, só é suportado para PCs e notebooks com a série RTX 20 ou superior, da Nvidia, e as placas da série 5000 ou superior, da AMD. Por isso, você vai ter que checar se a sua placa de vídeo é compatível com o DSC da Samsung.
Outra questão é que, para usufruir da resolução nativa de 120 Hz, você é obrigado a usar uma das DisplayPorts, já que a entrada HDMI 2.0 é limitada a 60 Hz. Não que você esteja perdendo muita coisa: para o trabalho, eu sinceramente duvido que alguém se importe com taxas mais altas de atualização. Para jogos, a maioria deles não roda acima dos 120 quadros por segundo.
É muito importante esclarecer que todos esses detalhes não são culpa da Samsung. E nem das outras fabricantes. O que acontece é que a marca sul-coreana desenvolveu um painel que, por ser extremamente avançado e cheio de tecnologias focadas em resolução, ainda não está preparado para a maioria dos PCs e notebooks que você encontra hoje no mercado. Foi como disse: mesmo que sua máquina seja a mais poderosa do mundo, é pouco provável que ela atenda 100% dos requisitos disponíveis no Odyssey G9.
Games
Ligar o aparelho pela primeira vez me fez pensar que seria difícil a adaptação, justamente por conta do tamanho. Parece uma mistura de cockpit da nave USS Enterprise de Star Strek com os monitores futuristas de Minority Report. Contudo, esse mesmo estranhamento eu tive com outros dispositivos, como notebooks e até smartphones. Hoje, eu tenho preferências por telas maiores: quanto maior, melhor. Tanto é que voltar para um laptop de 16 polegadas fez ele parecer minúsculo.
De acordo com a própria Samsung, o Odyssey G9 é um monitor voltado para o público gamer, que tem como principal vantagem a tela widescreen maior do que modelos concorrentes. Mas quando colocadas no papel todas as características que eu citei falando sobre a tela, imersão foi uma das últimas coisas que me chamou atenção durante o meu uso nas últimas semanas.
A primeira barreira diz respeito ao hardware. Nos meus testes, eu fiz uso de um Samsung Odyssey Notebook equipado com uma Nvidia GeForce RTX2060. A placa é já não é das mais recentes, mas ainda assim dá conta do recado, então fica aqui o que reforcei: é necessário ter um PC minimamente poderoso para aguentar o tranco.
Em segundo lugar, é incrível ter um campo de visão que cubra praticamente todo o meu redor. Controlar aviões em Flight Simulator e andar de pardal pelas paisagens geladas de Europa em Destiny 2 são experiências muito satisfatórias. Só que a grande maioria dos games não está adaptada a essa proporção de 32:9, e isso se nota principalmente ao reparar nas laterais que, diferente da visão central, parecem achatadas, como se tivessem sido esticadas para caberem ali. Também como resultado, os jogos acabam sendo menos imersivos. Isso, contudo, não tem nada a ver com o monitor da Samsung, mas sim dos próprios jogos, que ainda não são desenvolvidos pensados para esse formato.
Aqui vão as capturas de tela em 32:9 para exemplificar. Começando por Destiny 2:
Aqui Apex Legends:
E aqui Warframe:
Produtividade
Se os games não foram tão imersivos para mim, o mesmo não posso dizer do fator produtividade. E acredito que esse é um ótimo motivo que justifique o investimento no Odyssey G9, que, para o trabalho, pode substituir tranquilamente três ou até quatro monitores.
Do mesmo jeito que acontece com os jogos, a grande maioria dos aplicativos não está adaptada à proporção de 32:9 do G9. Isso, no entanto, não quer dizer que você precisará recorrer a uma dúzia de ferramentas para deixar a utilização menos confusa. A Samsung não criou nenhuma plataforma específica que ajude no multitarefa, mas utilitários como o FancyZones são essenciais para melhorar a experiência.
O uso mais óbvio é na divisão de janelas. Em um PC ou notebook, você consegue deixar duas janelas abertas simultaneamente sem achatar tanto a visualização. No G9, usando o gerenciador de janelas do FancyZones, é possível deixar pelo menos três programas operando lado a lado – ou mais, se você personalizar as janelas de acordo com suas preferências. No meu caso, eu deixo abertos o Google Chrome, Discord, Bloco de Notas, Notion e uma aba do Chrome com o Apple Music ou YouTube. E todas ficam em tamanho excelente, sem diminuir tanto o zoom.
Uma aplicação que pode ser interessante explorar no Odyssey G9 são as planilhas. A primeira coisa que me vem à mente é aquele monte de gente que trabalha na Bolsa de Valores e precisa lidar com dois ou três monitores. Enquanto uma janela tem o Excel aberto, outra pode ficar para o monitoramento de dados, e uma terceira janela para checar mensagens de investidores.
O G9 também é compatível com o Samsung DeX, que leva a tela de smartphones da marca para o monitor, transformando o celular em uma estação de trabalho semelhante a um PC convencional. Neste modo, você também pode usar mouse e teclado, do mesmo jeito que faria no computador.
Outras duas funcionalidades muito legais no Odyssey G9 são os modos picture-in-picture e picture-by-picture a partir das conexões na parte traseira. O primeiro sobrepõe uma janela em cima do conteúdo – por exemplo, colocar o player de um vídeo sobreposto ao resto do monitor. Já o segundo segue esse exemplo de divisão de janelas do FancyZones, dividindo o painel em duas partes (como se fossem dois monitores de 27 polegadas cada).
Isso significa que você pode deixar o monitor principal conectado ao seu computador via DisplayPort e a entrada HDMI no modo picture-in-picture. Outra possibilidade é dividir essas conexões em duas: de um lado fica o sistema Windows do PC conectado pela DisplayPort; do outro, um console de videogame ou um MacBook. Para quem faz streaming, isso é de grande ajuda, porque você pode deixar uma tela menor sobreposta, sem que isso impacte por completo o game no restante do monitor.
Meu único alerta é quanto à conexão com um Mac. Diferente de um PC com Windows, que é reconhecido automaticamente, você vai precisar gastar uns bons minutos procurando tutoriais na internet de como evitar que a tela fique rosada por conta de problemas de configuração.
Vale a pena?
O Samsung Odyssey G9 é um monitor bem caro: R$ 11.599. Isso é mais do que você pagaria em uma boa TV OLED e quase o triplo de três monitores de ponta. Se você tem essa grana e quer uma solução poderosa no mercado de telas gamer, pode investir sem medo. Ele combina o que há de melhor em tamanho, proporção, resolução (com suporte a HDR) e taxa de atualização. Não somente para quem joga pelo PC, mas também para quem deseja extrair o máximo de produtividade e multitarefa ao visualizar diversas janelas sem ter de abrir uma por uma.
Em contrapartida, o Odyssey G9 esbarra em duas questões. Uma, obviamente, é o preço. A outra é a exigência de um hardware minimamente compatível. O notebook Odyssey que venho usando nos testes, por exemplo, custa em média R$ 10.000. E olha que já saíram modelos com placas mais recentes, então pode colocar mais alguns milhares nessa conta. O tamanho do Odyssey não chega a ser um ponto negativo. Afinal, quem for comprar um desses já sabe que vai precisar de um espaço considerável em casa.
Quem prefere investir em uma TV, minha sugestão é a linha OLED CX da LG. O tamanho mínimo encontrado no Brasil é o de 55 polegadas, que é bem maior do que o Odyssey G9 e ainda traz taxa de 120 Hz, suporte para G-Sync e FreeSync, e quatro entradas HDMI 2.1 prontas para o Xbox Series X e PlayStation 5. Talvez seja um pouco mais difícil trabalhar usando um display tão grande, porém é uma opção menos cara e com ligeiras vantagens. Tomara que a Samsung leve essas características em consideração caso lance uma nova versão do Odyssey G9. Tamanho ele já tem; falta agora explorar esse potencial.