[Review] Moto 360 Sport: um companheiro para corridas bom e muito caro

A Motorola criou uma versão Sport do smartwatch Moto 360 para tentar conquistar quem gosta de correr.

Os smartwatches chegaram ao mercado há quase três anos. Ainda assim, há muita desconfiança sobre a real utilidade desses relógios inteligentes. A mais nova tentativa de encontrar um público para este tipo de dispositivo vem da Motorola, que criou uma versão Sport do seu Moto 360 para tentar conquistar quem gosta de correr.

Nós testamos o relógio por três semanas e contamos para você o que achamos dele.

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O que é?

A segunda geração do Moto 360 veio com uma versão esportiva, o Moto 360 Sport. Nas especificações, ele é praticamente idêntico ao modelo simples, com processador Snapdragon 400, 512 MB de RAM, 4 GB de armazenamento interno e monitor óptico de batimento cardíaco — você pode ver a lista completa de especificações aqui. A grande diferença da versão Sport é que o relógio tem GPS embutido para medir as distâncias das suas corridas.

Design e tela

Se, por dentro, a única diferença do Sport para a versão normal é o GPS, por fora a aparência dos dois é bem diferente. O Moto 360 regular é mais elegante, enquanto o Sport é mais casual.

O relógio vem com uma pulseira de silicone que, ao contrário do que acontece na versão regular, não pode ser substituída — pense bem antes de escolher entre as opções preto, branco ou laranja, pois você não poderá trocá-la futuramente.

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Ela é bem confortável, mas acumula muita poeira e sujeira. Felizmente, o relógio tem proteção IP67 contra água e poeira, então dá para limpá-lo sem grande dificuldade — e você não precisa tirar o relógio do pulso cada vez que for lavar as mãos.

A tela tem uma borda mais espessa que na versão regular do relógio. Mesmo assim, ele não é exageradamente grande (45mm de diâmetro) e o display ocupa grande parte do espaço.

Como acontece desde o lançamento do Moto 360, ainda falta um “pedaço” do círculo na parte de baixo, onde fica o sensor de luminosidade do relógio. Isso fez a tela ser chamada de “pneu furado”, mas isto não é um problema na maior parte do tempo – só em alguns apps específicos, desenhados para telas perfeitamente circulares, ou quando você usa certos mostradores de relógio.

Ainda sobre a tela, ela é a primeira a usar a tecnologia chamada Moto AnyLight. Ela combina, nas palavras da empresa, “uma tela transmissora (retroiluminada) tradicional com tecnologia refletiva… [O relógio] possui o brilho da tela LCD em ambientes internos, mas ao sair para correr, a luz natural do sol ajuda a iluminar a tela, ao invés de deixá-la sem leitura”.

De fato, é bem isso que acontece: a tela é muito boa em ambientes fechados ou com pouca iluminação; debaixo de um sol forte, as cores ficam distorcidas, apagadas, mas ainda assim é possível ler o que o relógio está mostrando.

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Usando

Antes de mais nada, é bom esclarecer: foi a primeira vez que usei um smartwatch por mais tempo que uma breve demonstração durante eventos. Além disso, deixei de usar relógios desde que tenho celular, há mais de dez anos (!), e não sou grande entusiasta de smartwatches.

O Moto 360 Sport roda Android Wear — o aparelho foi, inclusive, atualizado para a versão Marshmallow durante os testes. Apesar de alguns apps personalizados e uns mostradores próprios de cada fabricante, o SO do robozinho para relógios muda bem pouco de um aparelho para outro.

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(Se você sabe como o Android Wear funciona, pule os próximos quatro parágrafos.)

Deslize o dedo da direita para a esquerda e você tem acesso a uma lista de aplicativos — qualquer aplicativo instalado no seu smartphone que tenha uma versão para Android Wear aparecerá ali. Deslize mais uma vez e você tem acesso aos seus contatos favoritos. Deslize mais uma vez e você chega à terceira e última tela: uma lista de ações rápidas e configurações, que vão desde enviar mensagens usando WhatsApp ou Hangouts até medir seus batimentos cardíacos.

Outro caminho possível é deslizar o dedo de baixo para cima na tela do mostrador, para percorrer cards do Google Now e notificações. Deslize a notificação para a esquerda para mostrar mais ações, ou para a direita se quiser dispensá-la.

O sentido contrário, de cima para baixo na tela do mostrador do relógio, dá acesso ao status do aparelho (bateria e conexões) e a configurações rápidas, como o Não Perturbe, o Modo Cinema (que desliga a tela do relógio) e o brilho máximo. Por fim, dizer “Ok Google” ativa o Google Now para ouvir seus comandos de voz.

Toda essa navegação também pode ser feita por gestos: gire o pulso para cima rapidamente para mostrar a próxima notificação; e para baixo para mostrar a anterior. Abaixe o braço para mostrar mais opções, levante o braço para fechar o aplicativo e, por fim, chacoalhe rapidamente o pulso duas vezes para retornar ao mostrador das horas.

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Ok, depois dessa apresentação básica sobre como o sistema funciona, vamos a como ele funciona na prática.

Em primeiro lugar, foi difícil parear o relógio e o smartphone e, mesmo depois de a conexão Bluetooth ter sido estabelecida, ela caía com frequência e demorava a reconectar.

Em algumas situações, como em casa ou no trabalho, isso não é grande problema, já que o Moto 360 Sport tem conexão Wi-Fi também. Entretanto, fora de casa e do escritório, a falta de conexão com o smartphone faz com que o smartwatch vire praticamente um relógio comum, pois as notificações e o Google Now dependem de internet para funcionarem corretamente.

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Quando funciona, o relógio se mostra bem interessante. Eu gostei muito de poder ver mensagens recebidas em WhatsApp e Telegram no meu pulso, sem precisar tirar o smartphone do bolso. Também é muito bom acompanhar resultados de jogos no Google Now, conferir o tempo que meu ônibus vai demorar para chegar no ponto com o Citymapper, checar a previsão do tempo com o Weather Timeline ou fazer check-in no Swarm.

Claro, nem tudo funciona muito bem. O Android Wear ainda precisa de mais consistência, principalmente no ecossistema. OneFootball e Todoist, dois dos meus apps preferidos, simplesmente não funcionaram no relógio — o primeiro sempre travava, o segundo sempre pedia um login que eu já tinha feito no app do smartphone. O Spotify, por sua vez, é consideravelmente lento — aliás, é bom dizer que, se você tiver um fone Bluetooth, pode ouvir música sem precisar do celular, o que é ótimo na hora de correr.

A navegação também é um pouco difícil. Tanto toques quanto gestos têm seus problemas. Várias vezes o relógio interpreta mal a direção em que seu dedo desliza pela tela, ou acha que você tocou e abre um app ou configuração. Percorrer menus longos rapidamente faz com que o aparelho mostre um pouco de lentidão. Já os gestos de girar o pulso, além de pouco intuitivos, não respondem como desejado. Depois de usar o Moto 360 Sport, passei a achar a navegação pela coroa giratória do Samsung Gear S2 no mínimo interessante.

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A bateria, um dos grandes problemas desse tipo de aparelho, tem duração razoável. Em nossos testes, com tela sempre ativada (ela tem um modo mais escuro, monocromático, que entra em ação após alguns segundos de inatividade) e GPS ligado, os 300 mAh mantinham o relógio ligado por não mais que um dia.

Você terá que carregar seu Moto 360 Sport toda noite. Para carregá-lo, você precisa do suporte que vem com o relógio. O suporte tem entrada microUSB, então qualquer carregador de celular – ou mesmo um cabo USB ligado a um computador – pode ser usado.

Correndo (ou andando)

O Moto 360 Sport, como já dissemos, é um smartwatch com vocação esportiva. Além do GPS e do design menos formal do relógio, ele vem com o aplicativo Moto Body pré-instalado, que serve como monitor de atividades físicas durante o dia e app para corridas.

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Primeiro, falemos sobre o monitor de atividades. Ele conta quantos passos você andou durante o dia, estima suas calorias queimadas e conta o tempo de atividade cardíaca elevada. Não dá para mudar as metas definidas no app: 10 mil passos, 250 calorias ativas ou 30 minutos de atividade cardíaca diários.

Essas metas, inclusive, ficam no mostrador de relógio padrão do relógio, e são atualizadas toda vez que a tela “principal” é ativada (dê uma olhada na imagem que abre o post) — na tela de repouso, monocromática, são mostradas apenas as horas.

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Você pode escolher se seu foco são os passos ou as calorias. Apesar de serem unidades ruins de estimar — ou você consegue dizer quantos passos anda ou quantas calorias queima do seu trabalho até o metrô mais próximo? — você tem dicas ao longo do dia, indicando quantos minutos de caminhada você precisa para cumprir a meta. Isso é ótimo, já que facilita o entendimento e serve como um incentivo.

O Moto Body também estima quantas calorias você queima em repouso. Eu, particularmente, achei o número que ele dava bem elevado: cerca de 2.700 calorias por dia, sendo que o Google Fit do meu celular mostra um pouco mais de 2.000 e meu nutricionista tinha falado entre 1.700 e 2.000.

O aplicativo também tem a opção de enviar para você um email semanal com seus dados de atividade física e sugestões para melhorar, o que eu achei bem interessante — são informações que funcionam melhor quando vão até você, e não quando ficam esperando você abrir o app para ver.

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O Moto Body também serve para acompanhar você nas corridas — e só nas corridas. Se você pedala, faz natação, pratica exercícios na academia, ele não tem essa opção. Há alguns apps que podem ajudar você no seu esporte favorito, como o Ghostracer ou o Endomondo, que podem ser usados sem o smartphone e tiram proveito do GPS do relógio.

Como companheiro de corridas, ele vai bem. Dá para definir metas de distância, tempo ou calorias para seu exercício ou iniciar rapidamente sem definir objetivos. O monitor cardíaco mostra em tempo real as zonas de frequência cardíaca.

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Tanto o GPS quanto o contador de passos são bem precisos — tanto em testes na esteira quanto em testes ao ar livre, os resultados apresentados foram bem confiáveis, quando comparados ao mostrado em outros apps ou na própria esteira.

Gostamos

Usar o Moto 360 Sport é bastante agradável, no geral. É realmente prático ver mensagens, notificações e informações no seu pulso, e o relógio em si é bem bonito. O contador de passos do Moto Body é ótimo, e ter avisos ao longo do dia sobre como você está progredindo em relação a sua meta ajuda no combate às tentações do sedentarismo.

Não gostamos

O Android Wear ainda não é um sistema operacional tão maduro quanto o Android para smartphones. Isso também vale para o ecossistema, já que alguns bons apps não são tão satisfatórios no relógio como são no smartphone. As frequentes quedas na conexão Bluetooth também irritam bastante, ainda mais levando em conta o preço deste brinquedinho.

Vale a pena?

Apesar de ter, no geral, gostado de usar o Moto 360 Sport, eu não pagaria o preço sugerido de R$ 1.999 — em algumas lojas, você já acha um valor 10% mais barato. É muito dinheiro por um dispositivo que, no fim das contas, é secundário. Dá para comprar um smartphone muito bom com esse preço, por exemplo.

O fato é que, por ser completo, o Moto 360 Sport acaba cobrando muito por isso. Ao que parece, o aparelho quer abraçar todas as possibilidades de uso (smartwatch, monitor cardíaco, relógio para corridas, pulseira fitness), mas sem se concentrar em nenhuma delas. E você provavelmente não precisa de tudo que ele tem.

Se você quer um smartwatch, há várias opções mais baratas por aí, que trazem um ou outro atrativo do Moto 360 Sport, dependendo do que você procura e do seu estilo de vida.

A versão básica do Moto 360 e o LG G Watch Urbane custam pouco mais da metade, trazem o sensor óptico para medição de pulso e parecem ser suficientes para funcionar como monitor de atividade física ao longo do dia.

Se você quer um companheiro para esportes ao ar livre, o Sony Smartwatch 3 tem GPS (mas não tem sensor cardíaco) e já pode ser encontrado na casa dos R$ 900, sem contar os inúmeros relógios esportivos destinados a corrida que existem por aí.

E eu? Bem, eu continuarei usando o Google Fit e o Runkeeper no meu celular para medir minhas caminhadas. O único problema é que eu voltei a pegar a mania de olhar para o pulso para ver as horas. Acho que vou ter que comprar um relógio.

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