Desde que os smartphones estão por aí — e isso já tem mais de uma década, caramba — eles evoluíram bastante em praticamente todos os aspectos: câmeras, sistemas operacionais, desempenho, telas. Um deles, talvez, ainda deixa a desejar: a bateria.
Uma noite voltando mais tarde para casa, por diversão ou por necessidade, pode te deixar offline. Uma madrugada em que falte energia elétrica na sua casa pode virar uma surpresa desagradável pela manhã. Todo mundo que tem um smartphone já precisou caçar uma tomada por aí ou andar com um desajeitado power bank. É esse o preço que pagamos para levar uma boa câmera e um bom processador por aí.
As coisas estão melhorando, porém – praticamente todo celular razoável hoje em dia tem bateria na faixa dos 3.000 mAh, e os topos de linha já estão superando a marca dos 4.000 mAh. Isso dá uma folguinha, mas não garante muita coisa além de voltar para casa ao fim do dia com alguma carga para até voltar para a tomada. Se você quer tranquilidade, você precisa ir além disso.
O Moto G7 Power é uma opção bem interessante. Com 5.000 mAh de capacidade, ele promete resolver esse problema. E aí, resolve? E o resto? É bom ou não é? Usamos por algumas semanas e respondemos essas perguntas.
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O que é?
O Power foi a grande novidade dessa geração da família Moto G da Motorola. Desde que a companhia passou a criar diferentes modelos para uma letra, tínhamos visto o Play – um celular mais baratinho com processador e memória mais modestos – e o Plus – um modelo mais caro, com especificações mais potentes. O Power é um novo modelo, e ele tem em sua bateria com capacidade para 5.000 mAh seu grande argumento de vendas.
Cabe dizer, porém, que não é a primeira vez que um Motorola tem uma bateria desse tamanho. O Moto E4 Plus e Moto E5 Plus não tinham Power no nome, mas suas baterias contavam com o mesma capacidade de 5.000 mAh. Mesmo o Moto G6 Play tinha uma bateria bastante respeitável, com 4.000 mAh.
O nome Power, portanto, parece ser também uma estratégia de marketing para identificar melhor o produto entre os consumidores, como se dissesse “ei, esse aqui é o da bateria grande”. De resto, ele é um modelo simples, muito mais parecido com o Moto G7 Play do que o Moto G7 regular.
Em relação ao modelo mais barato, ele tem obviamente uma bateria maior (5.000 mAh versus 3.000 mAh), uma tela maior (6,2 polegadas versus 5,7 polegadas) e 1 GB a mais de RAM (3 GB versus 2 GB). Tem uma versão mais completa, com 64 GB de armazenamento e 4 GB de RAM, mas nós testamos a mais barata mesmo.
Características mais sofisticadas do Moto G7, por outro lado, ficaram de fora: o Moto G7 Power não tem câmera dupla na traseira nem tela Full HD, só para mencionar dois aspectos. É, portanto, um telefone intermediário sem nenhum recurso de telefone premium.
A decisão pela câmera simples é mera redução de custos e pode ser um fator que pese negativamente para muita gente na hora de optar pelo Moto G7 Power. Quem gosta de tirar fotos provavelmente não vai querer abrir mão de uma câmera secundária e as opções que ela traz consigo, como maior ângulo de abertura ou possibilidade de desfoque de fundo em retratos.
Mesmo assim, a câmera do Moto G7 Power faz um trabalho digno – falaremos mais sobre isso adiante.
A tela HD+, com 1520 x 720 pixels, também deve ter custo menor do que um painel FullHD, de 1080 pixels de largura, como os que equipam os modelos G7 e G7 Plus.
Aqui, porém, eu acho que cabe uma defesa: telas com resoluções menores gastam menos bateria. Se a ideia é ter um aparelho com boa autonomia, faz sentido abrir mão de uma resolução maior para conseguir algumas horas a mais longe da tomada.
Compreendo que para quem gosta de ver filmes, séries ou mesmo fotos a resolução maior pode ser um diferencial e tanto. Para o meu uso, digo com sinceridade, isso é perfeitamente dispensável. Se eu tivesse que optar entre qualidade de imagem superior ou duração de bateria melhor, eu escolheria a segunda alternativa sem pensar muito.
Usando
De resto, o Moto G7 Power é um Moto G, com as linhas e características do produto que ficou tão famoso entre os brasileiros.
Ele tem uma traseira curvada, assim como as bordas superior e inferior do aparelho. Na mão, ele fica muito bem – a curva das costas do aparelho se ajusta bem aos dedos, e o polegar alcança praticamente tudo que precisa ser alcançado, com uma exceção, talvez, à extremidade superior esquerda (se você for destro como eu), mas dificilmente você precisará de alguma coisa por lá.
Na traseira, uma pequena protuberância abriga a lente única da câmera e o LED que é usado com flash. Um pouco abaixo, fica um leitor de impressões digitais, disfarçado de logo da Motorola. Como o design com tela que ocupa toda a frente do aparelho vem se tornando padrão, nem cabe mais discutir a opção por colocar este sensor na traseira.
Daqui a alguns anos, sensores sob a tela podem se tornar populares. Por enquanto, só aparelhos de topo de linha e preço altíssimo contam com o recurso.
O que dá para dizer é que o leitor de digitais do Moto G7 Power tem um bom posicionamento e fica ao alcance do indicador. O módulo da câmera fica distante, então você não vai ficar sujando a lente a cada vez que tentar desbloquear o celular.
A tela agora tem um notch e molduras menores, mas ainda bastante perceptíveis. A qualidade do painel LCD parece boa. O sistema dá três opções de saturação de cor: Naturais, Realçadas ou Saturadas. A primeira opção me pareceu muito branda, e a terceira, muito artificial. Escolhi a segunda opção e fiquei satisfeito com o resultado – cores vivas e não “lavadas” como costumam ser os painéis desse tipo.
O contraste, entretanto, fica devendo em comparação com uma AMOLED, e você percebe isso em textos, mesmo. E, se é pra falar de economia de energia, temos que levar em consideração que as telas AMOLED gastam menos eletricidade, já que podem se dar ao luxo de acender menos pixels ao mostrar imagens e interfaces em preto.
Com relação à resolução, ela é bem satisfatória. Não senti falta dos 1080p ao ver vídeos e fotos. Algumas miniaturas de imagem em redes sociais e textos, porém, mostram pequenos serrilhados, mas isso só me incomodou um pouco e foi apenas nos primeiros dias. Depois, me acostumei e isso deixou de ser uma questão.
Ah, vale dizer que a tela tem um notch, entalhe, recorte – chame como você preferir. Foi a primeira usei por um período mais longo um aparelho com esse detalhe de design.
Eu sou um grande crítico da ideia do notch: acho uma das tendências mais feias que a indústria de smartphones adotou até hoje. No iPhone, vá lá, você tem o Face ID e as câmeras dele, e a tela realmente ocupa grande parte da frente. O Moto G7 Power não tem nada disso, e há alguma borda ao redor da tela.
Devo dizer, porém, que usar um aparelho com isso é menos incômodo do que eu esperava. Em alguns momentos, é até bastante lógico e racional. Afinal de contas, por que perder espaço com ícones irrelevantes como status do Bluetooth e notificações que não são tão urgentes? É melhor deixar esse espaço para a câmera e o alto-falante.
Seria ainda melhor se o Moto G7 Power oferecesse a opção de deixar a barra de notificações sempre preta para ela se “integrar” ao notch, mas não é o caso.
Isso nos leva ao próximo ponto: o sistema operacional. O Moto G7 Power roda Android 9 Pie com poucas alterações, como já virou tradição da Motorola. Há pequenas diferenças de recursos para o Pixel 3, nossa referência de Android puro:
- A barra de busca do Google não aparece na tela do multitarefas, como acontece no Pixel.
- Por padrão, a barra de navegação vem com os três botões clássicos do Android: Voltar, Início e Multitarefas.
- Há a opção de mudar para a navegação com um só botão, mas ela se comporta de um jeito um pouco diferente do Pixel 3. Deslizar o botão para a direita apenas alterna entre o aplicativo atual e o último a ser usado. No Pixel 3, esse recurso pode ser usado para rolar pelas janelas dos apps recentes.
- Não há sugestões de ações rápidas na gaveta de aplicativos.
Foi também a minha primeira experiência mais longa com o Pie. Devo dizer que achei o sistema mais inteligente que as versões anteriores do Android. Essas foram as novidades que eu mais achei dignas de nota.
- Se você dispensa com certa frequência notificações de um determinado aplicativo, por exemplo, o sistema sugere que bloquear aquele tipo de notificação daquele app. Nem sempre você vai concordar, às vezes rola um medo de perder alguma coisa importante. Mas, francamente, precisamos dizer isso aqui, tem aplicativo que é chato. O sistema sugerir para você uma medida mais drástica é ótimo.
- O Não Perturbe mudou de novo. Sua função, agora, é sumir com notificações. Antes, elas continuavam aparecendo, mas sem fazer barulho. Agora, elas simplesmente não aparecem. É uma opção bem interessante e pode te ajudar a não ser interrompido nem mesmo silenciosamente em algumas situações.
- Uma mudança relacionada a essa é nos controles de volume. O modo silencioso voltou e está desvinculado do Não Perturbe. Você pode alternar entre silencioso, vibração e som em um ícone que aparece ao apertar o botão de volume. O controle deslizante e os botões agora mudam o volume da reprodução de mídia (a música ou os vídeos). Eu achei que faz bastante sentido essa nova configuração. Eu dificilmente preciso ajustar o volume de toque — silenciar ou colocar em modo vibração é mais que suficiente. Poder ter o volume de mídia mais acessível é bem mais útil – pense quando você quer ver um vídeo em uma situação em que não é recomendável fazer barulho, por exemplo.
Praticamente não há bloatware (apesar de vir com um app do Facebook instalado, mas que pode ser desinstalado), e algumas adições de recursos estão no aplicativo Moto. Todo o clássico da linha Moto G está aqui: os movimentos de girar o aparelho para ativar a câmera e agitar para ligar a lantera. A tela acende para mostrar ícones de notificação, data e hora, e há atalhos rápidos para responder mensagens ou marcar e-mails como lidos, por exemplo.
O conjunto de processador Snapdragon 632 (octa-core de 1,8 GHz), GPU Adreno 506 e 3 GB de RAM mostra bom entrosamento. No meu uso – aplicativos de redes sociais e trabalho e alguns jogos simples como TwoDots e Bouncy Hoops – não notei lentidões ou travamentos. Não é um desempenho impressionante, mas é bastante seguro e estável, sem deixar o usuário na mão. O multitarefas segura bem aplicativos em segundo plano – você não vai perder a mensagem que está escrevendo se for conferir um e-mail rapidinho, por exemplo.
O que é bem chato, por outro lado, são os 32 GB de armazenamento. Com cerca de 30 apps instalados, 6 GB de biblioteca do Deezer offline e fotos e vídeos, a capacidade do telefone para salvar meus arquivos acabou e eu precisei fazer uma limpeza. Para quem instala pouca coisa no smartphone, isso deve ser suficiente, mas para usos mais avançados, é pouca memória. Felizmente, há slot para cartão microSD, e ele é independente dos dois chips de operadora do tipo nanoSIM.
Bateria
Ok, você já sabe como o Moto G7 Power funciona. Mas o grande diferencial dele não está no desempenho, nem na tela, nem no design. O negócio aqui é bateria. E aí? Como ela se sai?
A resposta curta: a bateria do Moto G7 Power se sai muito bem, ela aguenta dois dias de uso – tirando da tomada na manhã do primeiro dia e colocando de volta na noite do segundo – com redes sociais por três a quatro horas por dia, música por uma hora por dia, acessos esporádicos a e-mail, internet banking, listas de tarefas.
A resposta longa: eu instalei o aplicativo AccuBattery no Moto G7 Power para ter uma ideia melhor de como é o consumo de energia no aparelho. Nos próximos parágrafos, há alguns comentários sobre o desempenho da bateria.
De acordo com os dados coletados, o smartphone gasta entre 4% e 5% de sua bateria por hora com a tela ligada. Fazendo uma continha de padaria, na ponta do lápis, isso dá entre 20 e 25 horas de uso (veja bem, de uso direto e contínuo, ficar mexendo no smartphone) com 100% da capacidade. Você precisar ficar um dia inteiro usando seu smartphone para fazer a bateria do Moto G7 Power acabar. Com a tela desligada, o Moto G7 Power faz algo entre 0,7% e 1,8% de consumo por hora.
As sessões mais longas registradas pelo AccuBattery no têm entre 36 e 40 horas (entre tela ligada e tela desligada) para ir de 100% a 10%. Ou seja, você consegue tirar o telefone da tomada na manhã do primeiro dia, usá-lo, ir dormir sem carregar, pegar o smartphone no dia seguinte e usá-lo de novo. Você chegará à noite com o celular funcionando e tempo suficiente para colocá-lo para carregar.
Para se ter ideia de alguns usos mais reais, eu tive um dia de uso extraordinariamente intenso com ele, com uma hora de uso de GPS no Google Maps mais uma hora de uso como roteador quando tive problemas com a internet de casa. Mesmo assim, ele chegou ao fim do dia com 40% de bateria, sem sustos. Ver meia hora de streaming ao vivo em tela cheia, em outro dia, gastou só 2% da carga.
A título de comparação, eu tenho um Asus Zenfone 3 Zoom, que tem os mesmos 5.000 mAh de capacidade do Moto G7 Power. De acordo com o AccuBattery, a bateria dele descarrega, em média, 9% por hora com a tela ligada. Ou seja, ele gasta praticamente o dobro.
Isso se deve, provavelmente, à menor resolução da tela – o Moto tem tela HD, o Asus tem tela FullHD. Otimizações do Android 9 Pie, que usa inteligência artificial para entender seus padrões de uso e desativar aplicativos pouco utilizados, e o fato de o Moto ter um processador da linha Snapdragon 6xx mais moderno e econômico podem entrar nessa conta também.
Com a tela desligada, meu Zenfone 3 Zoom faz cerca de 0,5%. Eu não sei se o AccuBattery considera nessa conta o fato de a tela do Moto acender quando chega alguma notificação — talvez o aplicativo só considere que a tela está ligada quando ela é desbloqueada. Seja como for, podemos imaginar que o Moto Tela consome bastante bateria – a tela do aparelho é LCD, o que significa que, mesmo com fundo preto, o gasto é mais alto.
Uma das grandes vantagens de uma bateria desse tamanho é dar mais segurança para o usuário. Se você estiver trabalhando de casa e a luz acabar, você pode usar o celular como roteador para concluir suas tarefas, sem medo de ficar sem bateria. Se a luz acabar durante a noite, ele terá bateria suficiente para chegar no outro dia ligado, sem chance de você perder a hora porque o despertador não tocou.
O carregador também é bastante digno de nota. O AccuBattery registrou, em média, 45% de carregamento por hora na tomada. Isso significa que em cerca de duas horas você tem seu Moto G7 Power carregado por completo, com o suficiente para dois dias. Isso é bastante coisa.
Câmera
Como dissemos, o Moto G7 Power está meio defasado em relação ao que há de mais moderno em fotografia. Enquanto muitos intermediários já têm câmeras duplas (ou até triplas e quádruplas), o Power vem com apenas um conjunto de lente com abertura f/2.0 e sensor de 12 megapixels. Na frente, uma câmera seflie de 8 megapixels e abertura f/2.2. É básico, bem básico, básico até demais.
O resultado me surpreendeu. Não porque ficou ótimo, mas porque minhas expectativas eram baixas mesmo. As fotos ficam entre o razoável e o bom.
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Com boa iluminação, há uma boa fidelidade com as cores, e o aspecto geral é bastante aceitável. O nível de detalhes, mesmo com os 12 megapixels, parece se perder no processamento, e a impressão que dá ao aproximar de alguns detalhes é de uma imagem chapada, artificial. Para postar no Instagram, no entanto, está de bom tamanho.
Com pouca iluminação, não há milagre: às vezes, o que sai é um borrão. Em algumas situações como shows, porém, eu achei que o HDR fez um trabalho bastante competente ao conseguir fotos razoáveis, sem estourar muita coisa nem borrar movimentos.
A câmera também tem uns truques de software, como modo retrato (feito com inteligência artificial para desfocar o fundo), modo de seleção de cor e fotos animadas.
Conclusão
O Moto G7 Power foi lançado há dois meses com preço sugerido de R$ 1.399. Hoje, você já o encontra em lojas online por volta de R$ 1.100.
Eu sei o que vocês vão dizer. Por esse preço, dá para comprar aparelhos importados com especificações melhores, em que pese a falta de garantia e suporte técnico oficial no País. Eu sei disso. Vocês sabem disso. A Motorola sabe disso.
Mesmo assim, acho que o Moto G7 Power pode ser uma boa compra para quem procura um smartphone com uma ótima bateria, mesmo levando em conta aparelhos que não estão oficialmente no mercado brasileiro. Os chineses nessa faixa de preço chegam “só” até 4.000 mAh de capacidade, e têm telas FullHD que provavelmente gastam mais.
Acho que a Motorola teve méritos de fazer um smartphone com foco em um aspecto e um bom argumento de vendas. O negócio aqui é esse: bateria, autonomia, tempo longe da tomada. E, ao contrário do que aconteceu na minha experiência com o Moto E5 Plus, eu achei o G7 Power ok para usar. Não trava, o multitarefas funciona bem. A câmera poderia ser melhor, mas passa. Como alguém que valoriza a bateria, eu consideraria comprar um Moto G7 Power.
Especificações do Moto G7 Power
- Tela: 6,2 polegadas,
- Resolução de 1.520 x 720 pixels (densidade de 271 ppi)
- Sistema operacional: Android Pie
- Processador: Snapdragon 632 (1,8 GHz)
- Armazenamento: 32 GB, expansível
- RAM: 3 GB
- Câmera traseira: 12 megapixels, abertura f/2.0
- Câmera frontal: 8 megapixels, abertura f/2.2
- Bateria: 5.000 mAh
- Conectividade: 4G LTE, Bluetooth 4.2, Wi-Fi 802.11n
- NFC: varia de acordo com o mercado
- Tamanho: 159,4 x 76 x 9,3 mm
- Peso: 193 g
- Cores: lilás e azul navy
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