[Review] Xbox Series X: um console com jeitão de PC
Há mais ou menos um mês, publiquei aqui no Gizmodo Brasil as minhas primeiras impressões do Xbox Series X. De lá para cá, continuei testando o aparelho com alguns outros jogos, alguns deles lançados na data ou depois do lançamento mundial, que aconteceu no último dia 10 de novembro. E agora venho com a análise final do novo console da Microsoft.
Se você deu uma olhada no meu hands-on, não estranhe se eu acabar repetindo algumas coisas. Na verdade, muito pouco mudou desde então, mas com testes mais apurados trago a vocês um veredito: como a própria Microsoft diz, é, de fato, o console mais poderoso de todos os tempos, com uma performance surreal em comparação com o Xbox One. Nem parece um console, tanto em questão de software quanto hardware. É jeitão de PC mesmo.
Seria hipocrisia da minha parte dizer que todo esse poder de processamento não vale a pena — vale sim, e muito. Em contrapartida, você precisa analisar algumas perguntas antes de tomar uma decisão. Você tem um monitor ou TV compatível para tirar proveito de todas as especificações? Você dá muita importância para jogar em 4K? E a principal: está disposto a desembolsar R$ 4.599 para isso?
Prometo tentar responder essas e outras questões neste review.
Xbox Series X
O que é
“O console mais poderoso do mundo”, segundo a Microsoft
Preço
Sugerido: R$ 4.599
Gostei
Extremamente silencioso; performance muito rápida; suporte para jogos em 4K/HDR/60 fps/120 Hz; retrocompatibilidade com dezenas de games; Quick Resume é o melhor recurso
Não gostei
Caríssimo no Brasil; requer TV ou monitor compatível para obter 100% da experiência gráfica; nenhum título exclusivo de peso no lançamento
Um hardware potente e silencioso
Quando eu digo que o Xbox Series X está mais para um PC do que para um console não é só por causa do design quadrado que lembra um gabinete de CPU.
Por dentro, temos as seguintes configurações:
- processador AMD Zen 2 de 8 núcleos rodando a até 3,8 GHz;
- placa de vídeo AMD RDNA 2 com 52 unidades de execução (Compute Unit ou CUs – e eu sei que você deu uma risadinha) e 12 Teraflops;
- armazenamento SSD Gen 4 NVME de 1 TB;
- suporte para resolução 4K a 60 quadros por segundo, podendo atingir até 120 fps.
Todos esses números se refletem no desempenho do console, que é extremamente rápido em todas as tarefas. Nesse pouco mais de um mês de uso, não notei nenhum travamento (com exceção de uma vez ou outra no recurso Quick Resume, de que vou falar mais adiante). E desde a inicialização até abertura de um jogo ou aplicativo, são necessários não mais do que alguns segundos. Mesmo após ter baixado muita coisa e ocupado quase todo o armazenamento, o aparelho segurou o tranco muito bem.
Por falar nisso, o Xbox Series X tem 1 TB de espaço interno, mas você só consegue usar 800 GB. Cerca de 200 GB são reservados apenas para o sistema operacional. É possível expandir esse armazenamento usando um cartão proprietário de 1 TB da Seagate, e até o momento essa é a única opção disponível. A fabricante já tem uma página do produto traduzida para o Brasil, mas ainda não colocou o acessório à venda. De qualquer forma, ele não deve sair barato: nos Estados Unidos, o valor oficial é US$ 220, ou R$ 1.180 na conversão direta, sem impostos. Ouch.
Nas conexões, o console tem na parte traseira duas portas USB do tipo A, uma entrada para cabo de rede, uma HDMI 2.1 e uma entrada para memória expansível de 1 TB. Todas elas possuem relevos em Braille, para tornar o aparelho mais acessível a jogadores com problemas de visão. E também para ajudar a localizar mais facilmente as portas: as duas USB 3.2, por exemplo, possuem três pontinhos cada, enquanto a entrada para o cabo de energia tem apenas um.
Apesar de ser um monstro na performance, o Xbox Series X me surpreendeu por ser muito, muito silencioso. Seja navegando pela tela inicial ou loja de apps, ou durante o download de jogos inteiros: ele permaneceu quieto a todo momento.
Beleza, estamos falando de um aparelho novo em folha, sem sofrer com o desgaste do tempo. Contudo, acredito que essa característica deva perdurar, e isso graças a uma ventoinha enorme na parte superior interna, separada por uma grade côncava e cheia de furinhos que ajudam a dissipar o calor. Aliás, ele não esquentou nada durante os meus testes, então pode ficar tranquilo porque não tem o perigo do videogame começar a soltar fumaça igual àquela trolagem de algumas semanas atrás. Meu único conselho é cobrir a parte desses furos com um pano enquanto você não estiver jogando para evitar o acúmulo de poeira.
É recomendado que você deixe o console em uma área com bastante circulação de ar para aumentar essa dissipação do calor. Sim, você pode deixar o Xbox Series X na horizontal. Mas convenhamos: ele fica bem mais bonito na vertical. Não só porque ajuda nessa parte da ventoinha, mas também porque esconde a base circular no “pé” do dispositivo (que não é removível). Inclusive, ao contrário do rival PlayStation 5, o console não pode ser desmontado tão facilmente.
E só um último comentário sobre o design: esta geração de consoles faz jus ao ditado de “ame ou odeie”. Vendo o Xbox Series X de perto, ele até que tem seu charme, com seus 15,1 cm de largura e comprimento, 30,1 cm de altura e peso de 4,45 kg. Pode confiar: ele não é tão grande assim quanto aparenta ser nas fotos e vídeos.
Olha aí o “pezinho” do console.
Software: mudar para quê, né?
Eu já tinha uma ideia de como era a interface de um Xbox — esta é a primeira vez que fico por um tempo maior com um console da marca. E no Series X eu confirmei o que já achava: é basicamente a mesma experiência de utilizar um PC com Windows 10. Ok, não é exatamente igual, porém o formato mais quadrado dos aplicativos, as fontes, a loja — tudo me remete ao sistema operacional da Microsoft. E isso é ótimo.
O Windows 10 já é um bom software, talvez o melhor e mais intuitivo que a Microsoft já desenvolveu. Particularmente, acho a interface do Xbox Series X mais fácil de usar que a do PlayStation 5, que também estou testando. No console da Sony, eu ainda preciso apertar dois ou três botões para chegar aonde quero, enquanto no Xbox as principais funções ficam resumidas ao botão de menu.
Interface sem muitas mudanças. Com exceção da loja.
De resto, se você tem um Xbox One e vai adquirir um Series X, não vai encontrar nada de novo no quesito interface, que ainda oferece algumas opções de customização de cor e posicionamento (embora sejam um tanto limitadas). A maior mudança é na loja, que passou por uma reformulação e está mais simples de navegar, com itens melhor organizados. Mas de novo: não espere por nada muito surreal.
O que acaba sendo excepcional nessa interface,junto com o uso do SSD interno, é o chamado Quick Resume. Trata-se de uma funcionalidade que, além de permitir uma troca quase que imediata entre jogos e apps, também salva a última tela no console. Assim, quando você ligá-lo novamente, ele voltará exatamente de onde parou da última vez. É incrível saber que posso desligar o Xbox Series X quando quiser, mesmo durante um jogo, sem ter que me preocupar em salvá-lo antes.
Meu único porém é que o Quick Resume parece não estar totalmente otimizado. Em casos isolados, me deparei com alguns bugs que travaram ou o jogo aberto no momento. Ori and the Will of the Wisps, por exemplo, custou a responder meus comandos no controle quando eu voltava para a home e abria o game novamente. Isso também me aconteceu com Gears 5, mas foi uma única vez. Com certeza a Microsoft está investigando as ocorrências, mas quero declarar aqui minha paixão pelo Quick Resume. É a melhor parte do Xbox Series X.
O controle é familiar
Assim como o software, se você esperava grandes mudanças no controle do Xbox Series X, sinto em lhe desapontar. É praticamente o mesmo acessório da geração passada, salvas algumas adições. Aliás, controles do Xbox One funcionam no console atual, então você poderá guardar o item antigo para usá-lo no dispositivo recém-lançado.
A primeira delas é que o joystick tem uma entrada USB-C na parte superior. Outra novidade é um botão dedicado para capturar e compartilhar telas e clipes de jogo (finalmente!). Os gatilhos ganharam um aspecto mais enrugado, para dar mais firmeza aos dedos, e os botões do D-Pad foram alocados em um círculo com textura em relevo.
Agora as más notícias. O controle ainda usa duas pilhas AA. E sim, eu sei que dá para trocar por uma bateria interna ou usar pilhas recarregáveis, porém eu realmente preferiria que houvesse o componente internamente, porque é só recarregar e pronto. Essa deve ter sido a primeira vez em anos que uso um controle assim, e as pilhas acabaram já na primeira semana de uso do Xbox Series X. Desde então, tenho jogado usando um cabo USB-C para alimentar o joystick. Também achei que o D-Pad faz um barulho absurdamente alto, como se estivesse prestes a quebrar.
Outra coisa que não me agradou é que, mesmo com a adição muito bem-vinda do botão de compartilhar, a função salva no máximo 30 segundos em resolução 4K. Não deu para capturar quase nada de algumas cenas que gostaria de ter salvo em vídeo. E nas imagens, o console demorou um tempão para salvar capturas de tela, mesmo em alguns momentos tendo deixado o aparelho offline. Às vezes eu apertava o botão de captura, e quase dez minutos depois é que aparecia a notificação de salvamento da screenshot.
Quase um papa-léguas
O Xbox Series X não é só um console poderoso, mas também é rápido. E bota rápido nisso.
Lá em cima eu citei a função Quick Resume, que faz uso do SSD para iniciar um jogo ou app quase que instantaneamente. E sem esse SSD não seria possível alcançar toda essa performance.
Ela é percebida desde a inicialização, que dura cerca de 20 segundos, até ao download de conteúdos, que utiliza 100% da velocidade disponível. Isso vale tanto na conexão via cabo Ethernet ou Wi-Fi (a banda larga aqui de casa varia entre 100 Mbps e 170 Mbps). Por sinal, é importante destacar que o Series X não é compatível com Wi-Fi 6, padrão mais recente de conexão wireless. O PS5, por sua vez, sim.
As especificações do Xbox Series X têm seu papel, mas o SSD é o principal responsável por influenciar diretamente na rapidez com que as coisas são executadas. Dos games que eu venho jogando, e isso eu já falei no artigo de primeiras impressões do console, o que ainda me deixa impressionado é Destiny 2. Do momento que eu abro o jogo, seleciono meu personagem e vou para a órbita, me foram necessários somente 22 segundos — metade do que eu havia noticiado anteriormente. Eu dou risada só de lembrar do parto que é fazer isso no meu PS4 Fat, que me faz esperar por volta de 4 minutos nesse processo todo.
Essa otimização também é válida para a navegação nos menus do Xbox Series X. Você aperta um botão no controle, e na mesma hora o menu se abre, sem o risco de engasgos ou travamentos. Até para ligar/desligar o console você só precisa de alguns segundos — mais precisamente oito, de acordo com os meus testes. O melhor é que se trata de uma especificação do próprio console, o que significa que você não precisa de acessórios externos para tornar o Xbox mais rápido.
Jogos a 60 fps e 120 Hz
Com Halo: Infinite adiado para 2021, o Xbox Series X chegou às lojas sem nenhum título exclusivo que coloque à prova tudo aquilo que a Microsoft promete para sua nova máquina. É por esse motivo que a companhia vem com tudo na retrocompatibilidade: com exceção de títulos que usam o Kinect, a biblioteca inteira do Xbox One, Xbox 360 e Xbox original (estes dois últimos retrocompatíveis via Game Pass) pode ser jogada no novo aparelho.
Alan Wake, lançado originalmente no Xbox 360, é um dos títulos do Game Pass.
E cara, que coisa maravilhosa é o Xbox Game Pass. Não tem só aqueles indiezinhos, não: jogos maiores, como Mortal Kombat X e Batman: Arkham Knight, e também games de lançamento, como Destiny 2: Além da Luz e o vindouro Halo Infinite, estão no catálogo do serviço. Ao meu ver, ele cobra um preço bastante justo para ter acesso a um monte de games sem precisar pagar por cada um deles. Hoje, são mais de 100 títulos disponíveis por uma assinatura mensal a partir de R$ 30. No Game Pass Ultimate, por R$ 45, o jogador tem acesso a jogos no Xbox, no PC, além de Xbox Live Gold e EA Play, com vários títulos da EA. Direto a Microsoft faz promoção de R$ 1, então é bom ficar de olho.
No Xbox Series X, os jogos rodam pelo menos a 30 quadros por segundo, mas a maioria dos que eu testei rodavam a 60 fps nativos, em resolução 4k e com HDR. Somada a essa capacidade está a taxa de 120 Hz da tela, que pode ser habilitada nas configurações de cada game. Eu joguei Dirt 5, Ori and the Will of the Wisps e o modo multiplayer de Gears 5 nessa taxa de atualização, e o sentimento era que eu estava jogando em um PC. Quanto maior for essa taxa, mais natural e mais fluída será a exibição das imagens.
No multiplayer de Gears 5, você configura a taxa de atualização para até 120 Hz.
Na galeria abaixo, reuni algumas capturas de tela de jogos rodando no Xbox Series X:
[foo_gallery]
Outra novidade que começa a chegar nos consoles de nova geração é o ray-tracing. Trata-se de uma tecnologia que cria melhores efeitos de luz em tempo real, dando uma sensação ainda maior e mais imersiva de realismo nos jogos. Ao passar por um espelho, por exemplo, seu personagem consegue se enxergar perfeitamente, e não com um efeito embaçado que a gente via até então. O chão molhado da chuva parece realmente molhado, e não como se tivessem jogado um filme plástico em cima para simular o efeito.
Nem todos os jogos têm suporte para essa tecnologia. O único que eu testei foi Watch Dogs: Legion. É um game belíssimo, visualmente falando, que dá um bom panorama do que poderemos acompanhar nos próximos anos. No entanto, eu tive que diminuir de 60 para 30 fps para que o ray-tracing funcionasse. Por mim, beleza fazer essa troca, já que não notei uma queda absurda na qualidade de imagem.
É difícil explicar a “mágica” do ray-tracing. Mas é bonito de se ver em ação.
Só que agora vem o pulo do gato: para você experimentar tudo isso, é obrigatório ter um monitor ou TV compatível com HDR, resolução 4K e entrada HDMI 2.1. Nos meus testes, eu usei o Xbox Series X com um televisor LG OLED CX, que é mais caro que o próprio console e traz essas especificações. Logo, muita gente talvez não consiga aproveitar todo o potencial gráfico do novo Xbox. Não só porque ainda não há uma oferta significativa de games que explorem essa capacidade, mas também porque você terá de investir mais alguns milhares de reais além do videogame, que já não é barato.
Um Xbox One 2.0… por enquanto
Lembra do início desastroso da geração do Xbox One, lá em 2013? Bom, tudo aquilo que a Microsoft idealizou naquele ano enfim está saindo do papel com o Xbox Series X. O console é um vislumbre do que ainda vem por aí nesta e nas próximas gerações de consoles: telas de loading quase inexistentes, 60 fps ou mais, taxa de atualização de 120 Hz, resolução 4K e retrocompatibilidade. Tudo envolto em uma caixa que bate de frente com um PC, em especial se você já joga nessa plataforma.
No momento, essa é a minha visão do Xbox Series X: uma prévia. Ele é mais poderoso que seus irmãos antecessores, mas parece mais uma extensão do Xbox One do que uma máquina inovadora. E que talvez só seja vantajosa se 1) você faz questão de entrar na nova geração de consoles agora no início, ou 2) se você tem aparelhos compatíveis que extraiam tudo o que a Microsoft promete. Não vamos esquecer do preço: investir mais de R$ 4.599 em um aparelho certamente é algo para avaliar com muita cautela.
Acho que muita gente está ansiosa para acompanhar o potencial do Xbox Series X nos próximos anos. E quando isso acontecer, tomara que faça valer cada centavo.