Em janeiro, recebemos um teaser de que a Roku chegaria ao Brasil. O primeiro pensamento foi que Amazon e Google teriam concorrentes à altura no ramo de set-top-boxes. Ledo engano, pois a plataforma líder dos EUA chegou no fim daquele mês ao País em uma parceria com a AOC, com a interface RokuOS em dois modelos de SmartTV da marca asiática.
Por ora, a Roku tem apenas esta parceria com a chinesa, mas há rumores de que podemos ter em breve set-top-boxes no mercado brasileiro. Enquanto isso, posso dizer, após ter acesso a um dos modelos da Roku TV — como são chamados esses modelos da AOC com RokuOS — que a plataforma é bem interessante e conta com os principais apps e funcionalidades comuns no mercado. Leia abaixo as principais impressões da plataforma.
Configurando a TV
Não tem muito segredo configurar a Roku TV. Após ligá-la e selecionar o idioma, você deve escolher seu tipo de conexão e fazer login, no caso de uma rede wireless (você pode também tranquilamente conectar um cabo de rede).
Na sequência, a TV exigirá que você a ative. Para isso, é necessário acessar um navegador no desktop ou smartphone e digitar um código que aparece na tela da TV. Segundo o processo de instalação, a ativação permitirá que a pessoa possa usar apps de streaming e canais Roku. Por fim, o sistema pedirá que você crie uma conta, que ficará vinculada ao modelo de TV.
Usando
A plataforma RokuOS é um sistema operacional para a TV, que acabou me lembrando bastante os “tiles” (azulejos) presentes nos finados Windows 8 e Windows Phone. Na tela inicial, você pode alternar entre os diferentes dispositivos conectados, como Blu-Ray, TV aberta, TV a cabo ou videogame. A vantagem é que se alguém ficar perdido, basta apertar o botão Home no controle que ele voltará para a tela de início.
O sistema tem uma loja com os principais aplicativos de streaming e canais. O que o Roku chama de canais pode ser tanto conteúdo gratuito feito por redes de TV quanto canais do YouTube conhecidos adaptados para um formato próprio do sistema.
RokuOS
O que é?
Sistema operacional para TVs da Roku. No Brasil, há dois modelos de RokuTV produzidos pela AOC.
Preço
RokuTV HD 32’’ por R$ 1.200 / RokuTV FullHD 43’’ por R$ 1.600.
Curti
Fácil disponibilidade, tem todos os principais apps, bom app de controle para iOS e Android.
Não curti
Pouquíssimos canais com conteúdo em português e modo privado funciona com atraso.
Quanto aos apps, não deve ser uma preocupação para o usuário, pois, por ser uma plataforma independente, tem de tudo por lá: Netflix, Spotify, Deezer, Dazn, Starz Play, Prime Video, YouTube, Google Play Filmes, Looke, AppleTV+, Crunchyroll, Globoplay, entre outros.
Diferente do serviço dos EUA, não há compra de conteúdo direto na TV. Ao tentar fazer isso, a TV recomendará que você acesse o app no smartphone ou uma página web para fazer a contratação. Uma vez que a assinatura é feita, basta fazer login e ele estará lá disponível — pelo menos foi assim que rolou nas vezes que comprei filmes na Google Play Filmes no meu celular.
Sobre os canais Roku, eles são opções grátis de entretenimento. A variedade é grande, mas a maioria deles é em inglês. O bom é que você consegue assistir a reportagens do Euronews, canal de notícias europeu em diversas línguas (inclusive o português com sotaque da terrinha), ou assistir à Bloomberg ao vivo para informações do mercado financeiro em inglês.
Tem uns canais bem esquisitos no RokuOS, a maioria deles em inglês
Fora isso, não vi grandes utilidades para esses canais Roku que, na maioria das vezes, são em inglês. Para o público que entende, pode ser uma boa. Durante o teste, acessei a alguns conteúdos do Popular Science (um site americano de ciência bem legal) e do Serious Eats (um canal de culinária com várias receitas bacanas). Mas, para a maioria das pessoas, talvez seja um pouco frustrante.
Via de regra os conteúdos desses canais são os mesmos do YouTube, só que adaptados para o serviço. Talvez com o tempo, haja mais opções em português, mas, por ora, se você não consome conteúdo em inglês, não é tão interessante.
Aliás, algo curioso é que, ao cavucar a plataforma por conteúdos conhecidos pelo público brasileiro, acabei me deparando com a Gallina Pintadita, que nada mais é que a versão em espanhol da Galinha Pintadinha. Porém, para ser justo com a plataforma, se você usar a busca geral da plataforma, ele mostrará que tem Galinha Pintadinha na Netflix, como você poderá ver em uma captura de tela mais abaixo.
Hay el canal de la Gallina Pintadita, pero no hay da Galinha Pintadinha
Ao utilizar apps de streaming, o uso do aplicativo da Roku (disponível para Android e iOS) ajuda bastante, pois você precisa fazer login nos diferentes serviços e, como você deve saber, é um saco ficar buscando letra por letra utilizando o controle remoto para digitar seu e-mail. Com o aplicativo, basta ativar o teclado e digitar o que quiser.
Depois da primeira configuração, é possível resolver tudo pelo controle físico mesmo. Em casa, isso foi uma mão na roda para que outras pessoas, que não manjam tanto de tecnologia, conseguissem facilmente navegar pelos apps e procurar o que elas queriam assistir no serviço de streaming preferido delas.
Sem contar que o app da Roku conta com um mecanismo de busca que exibe em que serviço determinada série ou filme está disponível — nos meus testes, deu certo em títulos da Netflix e alguns do HBO Go, mas não achou muitos séries e filmes de serviços como Apple TV+, Google Play Filmes ou Amazon Prime Video.
Outro recurso interessante do app é o que eles chamam de modo Privado. Com ele, você pode transmitir o áudio de um aplicativo direto para o seu smartphone. Aí é só conectar um fone de ouvido no seu telefone para escutar o que está rolando na TV — isso serve para apps e canais Roku, mas não para, por exemplo, TV a cabo. O modo Privado funciona bem, mas você pode notar um atraso no áudio, já que tudo isso é feito via conexão Wi-Fi. No entanto, se o objetivo é não acordar alguém com o filme, ele executa bem a tarefa.
Antes da RokuTV, usava um Chromecast em casa. Confesso que fiquei preocupado se perderia as capacidades de transmitir o que eu quisesse para a TV. De fato, há algumas diferenças.
De modo geral, só é possível fazer cast com apps que estão no RokuOS. Por exemplo: você está vendo um vídeo no YouTube no Chrome e quer transmitir, basta ir no menu do navegador e escolher a opção Transmitir; o mesmo rola com a Netflix.
No smartphone, a mesma coisa: ao abrir apps de streaming famosos, muito provavelmente vai ter um ícone para fazer cast para a TV. Pelo menos foi assim com Netflix, Prime Video e HBO Go.
O que o RokuOS não faz que o Chromecast oferece é a possibilidade de transmitir uma aba qualquer. Imagine que você fez uma apresentação e quer transmitir do seu computador para a TV. Isso não rola.
Há formas de contornar isso usando o Firefox. Após instalá-lo na RokuTV, você pode facilmente transmitir uma página web com o app do Firefox para Android diretamente para a TV. Há ainda outras opções dentro da plataforma RokuTV como o R-Cast, que deve ser instalado na TV e no seu smartphone, seja ele Android ou iOS.
Como nos set-top-boxes vendidos nos EUA, o modelo de TV da AOC conta com entrada USB. Isso significa que é possível espetar um pendrive e ver arquivos de vídeo e fotos presentes nele ao abrir o app Roku Media Player.
Conclusão
O bom de ter uma plataforma como a Roku disponível no Brasil é o compromisso de oferecer um bom sistema operacional para TVs. Então, muito provavelmente a marca não vai deixar seu modelo desatualizado.
O grande trunfo do sistema da Roku é ter as principais plataformas de streaming e sua boa integração com o aplicativo para smartphone. Ainda que seja possível fazer tudo pelo controle convencional, o app do serviço ajuda bastante o processo de configuração e busca de conteúdos.
Talvez falte maior adaptação para o público brasileiro. Ainda que a plataforma esteja toda em português e tenha serviços locais, como o Globoplay, falta ainda ter canais em português brasileiro e oferecer mais conteúdos personalizados localmente, como recomendações de conteúdos gratuitos, disponível nos EUA no RokuOS como “featured free”, ou mesmo a possibilidade de assinar serviços dentro do próprio RokuOS.
Este ainda parece ser um primeiro passo tímido da plataforma no mercado brasileiro, que tem como concorrentes o webOS (disponível em aparelhos LG), Android TV (disponível em modelos da TCL, Sony, entre outras) e o Tizen (exclusivo da Samsung). Para o consumidor médio, pode ser difícil considerar a plataforma norte-americana, já que é possível achar modelos baratos de fabricantes concorrentes.
A impressão é que o RokuOS tinha de ter chegado ao Brasil no início da popularização de TVs conectadas — nos EUA, o set-top-box deles ficou conhecido informalmente como “tocador de Netflix”, dada a popularidade e o bom timing deles no mercado americano.
No atual cenário, a empresa parece apostar no número de potenciais consumidores do País e que ainda tem muita gente sem uma SmartTV em casa. Segundo dados do IBGE, cerca de 20% da população já acessou internet via TVs conectadas, então pense só nos olhos de cifrão que as marcas têm para os 80% restantes.
Para quem quer o básico, que é ver suas plataformas de streaming favoritas ou até mesmo colocar umas músicas do Spotify ou Deezer para rodar na TV, a RokuTV faz bem este papel e não deve desagradar marinheiros de primeira viagem nesse mundo de TVs conectadas.