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Seis coisas para anotar na estreia de Dorival

O Brasil não foi fantástico, mas não decepcionou na estreia de Dorival. Mas, se ele não quiser se contentar com as oitavas de final na Copa, precisa fazer bem mais
Imagem: Rafael Ribeiro/CBF

A estreia de Dorival Júnior no comando da Seleção não foi perfeita – porque isso não existe – mas foi bastante promissora, apesar de algumas falhas estruturais que não fazem diferença num amistoso, mas vão decidir se Dorival vai durar aquele tempinho padrão até a Copa, dar uma surra em algum vizinho sul-americano para ter ilusões na Copa e voltar depois de uma derrota inesperada contra uma seleção de média para grande. Vamos listar algumas das coisas a observar.

O ataque é bom, mas isso meio que engrena sozinho. Ter o luxo de poder deixar Richarlison no banco já mostra que o potencial ofensivo – sempre um ponto forte nos times de Dorival – não precisa do técnico. Atletas experientes e jogando semanalmente contra os melhores times do mundo vão marcar gols com qualquer técnico. Todos os jogadores no setor mais alguns que Dorival não convocou na primeira chamada deixam poucas dúvidas sobre o estado da nossa vocação ofensiva.

A defesa… certamente é o que vai fazer Dorival ficar mais ou menos no seu emprego. O Brasil não defendeu particularmente mal, mas para ter alguma ambição, o Brasil precisa aprender a defender o tempo todo, não só quando está sob pressão. Mais: as passagens dos rivais nas costas dos brasileiros sinalizam que o setor ainda não tem pai nem mãe. O lado positivo é que aparentemente mesmo os jogadores já consagrados estão dispostos a correr para fechar espaços, o que deixa a liberdade para Dorival não precisar de marcadores “puros”, como também fazem os grandes times e seleções da atualidade.

O goleiro Bento não decepcionou e mesmo sabendo que não tem como ser titular na competição de Ederson e Alisson, teve uma estreia que podia ter dado muito errado (o goleiro espanhol que o diga). Não consigo ver Rafael como nome fixo em escalações futuras, mas Bento pode sonhar com novas convocações.

Endrick… com suas atuações, o palmeirense decretou oficialmente o fim da “era Neymar” na Seleção. Focado no jogo e objetivo, Endrick mostrou que um jogador, mesmo muito jovem, pode oferecer garantias a Dorival. É pouco provável que ele vire titular absoluto no momento porque o Brasil não precisa arriscar, mas claramente o Real Madrid fez um bom negócio contratando-o. Ainda mais do que técnica, Endrick parece comprometido com o seu papel. Com a orientação correta e sem deixar a cabeça vazia, o camisa 9 ou 10 do Brasil pelos próximos 10 anos convenceu.

E Neymar… oficialmente já não é o maior expoente do Brasil. Mesmo lesionado, passou o bastão para Endrick. Todo o hype da expectativa de promessas que nascem na Vila Belmiro não podem mais garantir a ele um papel principal. Jogando numa sub-liga, com muito mais relevância no Instagram do que em campo e com um histórico de lesões que sugere uma carreira mais curta do que o possível, Neymar deve ser convocado quando não estiver mais machucado, mas a realidade é que ele não é mais necessário, e sua presença causa uma série de desconfortos. Provavelmente ele terá de escolher entre o salário mais overpaid da história do futebol e uma transferência para o Flamengo por uma fração disso para garantir visibilidade.

Dorival não comprometeu, mas a interrogação persiste. Nesses dois jogos, o seu mérito foi o de montar um setor ofensivo sem volantes ou centroavantes, com todo mundo empenhado no ataque, além de uma leitura correta de não jogar com um trequartista atrás de um centroavante que o Brasil não tem (algo que Felipão não conseguiu ver em 2014, levando Fred e Jô). Os desafios de Dorival seguem sendo a montagem de uma defesa consistente (algo que ele nunca fez) e a gestão do peso de Neymar, seus patrocínios e a pressão da CBF. Numa frase, Dorival não deixou a bola de Tite cair, mas não pode se contentar com os resultados do antecessor.

Point Blank

O acerto da convocação foi a montagem de um time dinâmico, que topa correr. É uma excelente notícia para Dorival, se ele conseguir manter o comprometimento dos medalhões. Meio-campo e ataque juntos num setor só é um requinte que não é qualquer treinador que consegue.

Mas… na defesa, é notória a falta de entrosamento (o que é natural) e a falta de movimentos dos jogadores na cobertura dos defensores. A quantidade de duelos individuais nos quais os defensores brasileiros ficam sem ajuda é preocupante. Não se trata da tática escolhida, mas de um mindset que ainda não está presente.

Cassiano Gobbet

Cassiano Gobbet

Jornalista, vive na trilogia futebol, tecnologia e (anti) desinformação. Criador da Trivela, ex-BBC, Yahoo e freelancer em três continentes. Você o encontra no Twitter, Bluesky ou por aí.

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