Sérvia, o mais antigo rival do Brasil nas Copas

O país dos Bálcãs não é um pequenino sem tradição no futebol. O adversário de estreia da Seleção no Catar apenas atendia por outro nome antigamente: Iugoslávia

Gerações mais novas podem pensar que a Sérvia é apenas mais um entre tantos países que surgiram na Europa nos anos 1990 após o fim do comunismo, sem muito a dizer quando se trata de futebol. Não é bem assim. Na verdade, os sérvios são os mais antigos adversários do Brasil nas Copas. Como integrantes da Iugoslávia, derrotaram nossa Seleção por 2 a 1 logo na estreia na Copa de 1930, no estádio Centenário, em Montevidéu.

A equipe que o então Reino da Iugoslávia enviou para o Uruguai era realmente a Sérvia com outro nome. Todos os jogadores eram daquela região.

A Iugoslávia se classificou no grupo que também tinha a Bolívia e foi direto para as semifinais contra o Uruguai. Tomou 6 a 1 e ficou nisso. Não houve decisão de 3º lugar contra os EUA, também derrotados na semifinal contra a Argentina pelo mesmo 6 a 1.

Antes de prosseguir, recapitulemos o que foi a Iugoslávia. Após a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), os povos da região dos Bálcãs se uniram para criar seu próprio país. Antes, faziam parte do Império Austro-Húngaro, derrotado e dissolvido na guerra.

O nome inicial do novo país foi Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, e também agregava as regiões que hoje constituem os países Bósnia-Herzegovina, Montenegro, Macedônia do Norte e Kosovo.

Em 1929, o país mudou seu nome para Iugoslávia, que significa “terra dos eslavos do sul”. Ao fim da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), o reino foi derrubado e o poder acabou nas mãos do marechal Josip Broz Tito, que instalou um regime comunista no país.

O croata Tito foi o comandante do Exército de Libertação Nacional, popularmente conhecido como “Partisans Iugoslavos”, que combateu os nazistas, que invadiram e dominaram a Iugoslávia durante a guerra.

1950: Brasil 2 x 0

Como República Socialista Federativa da Iugoslávia, o país voltou à Copa do Mundo em 1950, após ficar ausente em 1934 e 1938. Uma delegação meio sérvia, meio croata, com um bósnio de penetra.

Novamente a equipe caiu no grupo do Brasil, o país-sede. O duelo entre os dois ficou para a última rodada do Grupo 1 no Maracanã.

Com duas vitórias, a Iugoslávia só precisava empatar para se classificar para o Quadrangular Final. O Brasil tinha empatado com a Suíça no Pacaembu e precisava vencer de qualquer jeito.

Um incidente logo na hora do jogo começar pode ter afetado os iugoslavos. O atacante sérvio Mitić, maior craque do time, bateu a cabeça no corredor do Maracanã e voltou para o vestiário para ser atendido.

Mitić só entrou em campo aos 10 minutos do 1º tempo, com a cabeça toda enfaixada. Àquela altura, o Brasil já vencia por 1 a 0 desde os 4 minutos, gol de Ademir.

No 2º tempo, o meia Zizinho, supercraque da Seleção que estreava na Copa depois de uma contusão, fez um golaço que o juiz anulou. Logo depois, fez exatamente uma jogada praticamente igual e marcou o gol de novo. Este valeu.

1954: 1 x 1

E o sorteio da Fifa mais uma vez colocou Brasil e Iugoslávia no mesmo grupo na Copa de 1954 na Suíça. Um torneio com regulamento doido em que cada equipe enfrentava apenas dois dos três adversários na chave.

Pelo Grupo 1, os dois se enfrentaram em Lausanne pela segunda rodada. Empate de 1 a 1, que classificava a ambos. Só que o regulamento maluco daquela Copa obrigou os times a disputar uma prorrogação. Não houve mais gols.

No tempo extra, os brasileiros correram feito malucos achando que tinham de ganhar de qualquer jeito. Os iugoslavos estavam bem informados e tentaram alertar que não era preciso tanto esforço porque o empate era bom para ambos.

A falta de um tradutor em campo deixou os brasileiros gastarem toda sua energia à toa.

Os sérvios do time se destacavam. No ataque, Mitić (agora como capitão) e Miloš Milutinović. Na defesa, Vujadin Boškov, que disputaria mais duas Copas. E, como técnico, ajudou a classificar a Iugoslávia para a Copa de 1974, foi campeão espanhol no Real Madrid e campeão italiano e vice europeu pela Sampdoria.

1974: 0 x 0

Brasil e Iugoslávia ficaram um bom tempo sem se enfrentarem em Copas. Os europeus chegaram às quartas-de-final em 1958 e acabaram em 4º em 1962. Nesse intervalo, foram campeões olímpicos e vices da primeira Eurocopa em 1960.

Ausentes em 1966 e 1970, os iugoslavos retornaram em 1974. E adivinhe em que grupo caiu…

O tricampeão Brasil e a renovada Iugoslávia fizeram o jogo inaugural do mundial na Alemanha Ocidental. Entre os sérvios, o ponta-esquerda e capitão Džajić, na época o maior craque do país, e o habilidoso camisa 10 Aćimović.

Com eles, vinham os croatas Ilija Petković e Šurjak, o esloveno Oblak e os bósnios Marić e Katalinski. Um time bem bom.

No campo pesado e debaixo de chuva em Frankfurt, um Brasil medroso e defensivo dirigido por Zagallo ficou no 0 a 0 com os azarados iugoslavos, que acertaram a trave por duas vezes.

E foi o último duelo entre os dois em Copas. O Brasil enfrentaria a Croácia em 2006 e 2014, e a Sérvia em 2018 (2 a 0, gols de Paulinho e Thiago Silva). Mas Iugoslávia nunca mais.

O fim da Iugoslávia

Os iugoslavos voltaram na Copa de 1982 e caíram na primeira fase. Em 1987, uma geração incrível foi campeã mundial sub-20 no Chile. E essa turma foi para a Copa do Mundo de 1990 na Itália.

Estrelavam aquela equipe o sérvio Dragan Stojković, os croatas Prosinečki, Jarni e Šuker, o montenegrino Dejan Savićević e o macedônio Pančev. Chegaram às quartas-de-final e acabaram eliminados nos pênaltis pela Argentina de Maradona, após 0 a 0 em 120 minutos.

Eis que a Iugoslávia acabou em seguida. Em 1990, o fim do comunismo e a independência das antigas repúblicas da União Soviética animaram os povos da Iugoslávia a fazer o mesmo.

A Sérvia sempre predominou em poder sobre as outras regiões iugoslavas. A capital Belgrado era em seu território. O presidente Slobodan Milošević queria que tudo continuasse como antes.

A Croácia bateu pé em se tornar independente e fez com que os sérvios do poder central começassem a Guerra Civil Iugoslava em março de 1991. Um dos conflitos mais sangrentos e desumanos da história, que se arrastou por dez anos – embora os primeiros cinco tenham sido os piores.

Invadindo e pilhando seus vizinhos, o exército sérvio devastou a antiga Iugoslávia. Milošević teimou em comandar uma Iugoslávia que era composta basicamente de Sérvia e Montenegro.

Slobodan Milošević caiu em 2000 e foi imediatamente preso. Julgado e condenado pelo Tribunal de Haia por crimes contra a humanidade, morreu na cadeia da cidade holandesa em 2006.

Sob o nome de República Federativa da Iugoslávia, o país jogou a Copa da França em 1998 sem brilho. E ainda viu a Croácia acabar em 3º logo em sua primeira Copa.

O nome Iugoslávia foi finalmente abolido. E, em 2006, o time foi à Alemanha sob o nome Sérvia & Montenegro. Curiosamente, tal país tinha deixado de existir oficialmente poucos dias antes do início do mundial. Montenegro decidiu se tornar independente.

E aquele último suspiro de Iugoslávia teve como destaque foi perder de 6 a 0 da Argentina e sofrer o primeiro gol de Lionel Messi em Copas.

Já como Sérvia, o país disputou as Copas de 2010 e 2018, além da de 2022. Com camisas vermelhas em vez da clássica azul da Iugoslávia.

Assine a newsletter do Giz Brasil

Marcelo Orozco

Marcelo Orozco

Jornalista que adora música, cultura pop, livros e futebol. Passou por Notícias Populares, TV Globo, Conrad Editora, UOL e revista VIP. Colaborou com outros veículos impressos e da web. Publicou o livro "Kurt Cobain: Fragmentos de uma Autobiografia" (Conrad, 2002).

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas