O que há de diferente na sexta extinção em massa que está começando na Terra

Uma nova análise abrangente comparou os fósseis marinhos de cinco eventos anteriores de extinção em massa na Terra com o que está acontecendo agora.

A sexta extinção em massa, que sete bilhões de humanos estão se esforçando para causar, deve ser algo como nada que nosso planeta já viu. Essa é a conclusão de uma nova análise abrangente, que comparou os registros fósseis marinhos de cinco eventos anteriores de extinção em massa na Terra com o que está acontecendo nos oceanos agora.

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“Não há nenhum evento passado que se parece biologicamente com o que está acontecendo hoje”, diz Jonathan Payne, da Universidade de Stanford e principal autor do estudo, ao Gizmodo. Ao contrário do passado, “processos como o aquecimento e a acidificação dos oceanos não são a causa dominante de ameaça no oceano moderno”.

Em vez disso, a ameaça dominante são os humanos. São as redes, arpões e arrastões que estão esvaziando sistematicamente os oceanos de peixes e outras formas de vida marinha. Considerando que as extinções em massa do passado tendiam a alvejar organismos em determinados ambientes, a sexta extinção em massa está pronta para atingir mais forte os animais maiores. E isso poderia ter implicações profundas para o futuro do nosso planeta.

Comparando extinções

Paleontólogo por formação, Payne e seu grupo de pesquisa começaram a compilar dados sobre organismos marinhos modernos de vários anos atrás, a fim de estudar como o tamanho do corpo e características ecológicas mudaram ao longo do tempo evolutivo.

Payne, que estudou a extinção do Permiano-Triássico – que dizimou mais de 95% de todas as espécies marinhas há 250 milhões de anos – logo percebeu que seu conjunto de dados, incluindo membros vivos e extintos de quase 2.500 gêneros marinhos, poderia servir a outro propósito.

“Nós pensamos que nossos dados nos permitiriam examinar a extinção na era moderna de uma forma que seria muito comparável ao registro fóssil”, diz Payne. “Nossa esperança era que pudéssemos identificar eventos passados ​​que biologicamente eram mais similares à ameaça de extinção que os oceanos estão enfrentando hoje.”

Então é exatamente isso o que os pesquisadores fizeram. Ao comparar a ameaça de extinção enfrentada por gêneros marinhos modernos (baseado em seu status oficial de conservação) com os seus homólogos ancestrais, Payne e seus colegas descobriram que a ameaça moderna de extinção é mais fortemente associada ao tamanho do corpo. Ou seja, animais de maior porte enfrentam um maior risco de desaparecer do que animais menores.

Em eventos passados de extinção em massa, o tamanho do corpo não importava muito. Em vez disso, era o habitat do organismo que ditava seu destino. Animais que viviam no oceano aberto, ou na zona pelágica, foram extintos a uma taxa maior do que as criaturas bentônicas que viviam no fundo do mar.

Antes vs. agora

Esta diferença na “seletividade de extinção” pode ser explicada por diferentes controladores. Acredita-se que, durante a extinção do Permiano-Triássico, mudanças na química do oceano desencadeadas por micróbios, vulcões ou alguma combinação dos dois criou um ambiente tóxico para boa parte da vida marinha.

No final do período Cretáceo, o enorme impacto de um asteroide seguido por erupções de supervulcões enviou plumas de poeira ao céu, sufocando a luz solar e cortando o fornecimento de energia na parte inferior da cadeia alimentar. Em ambos os casos, os organismos que viviam em ambientes mais isolados, abrigados longe da superfície do oceano, se saíram melhor.

Hoje, o condutor dominante da extinção marinha são as pessoas, e nós não somos muito seletivos sobre os ambientes dos quais obtemos animais. Nós preferimos capturar animais maiores e retirar predadores do topo da cadeia alimentar. Até mesmo dentro de uma mesma espécie, tendemos a caçar os indivíduos maiores, razão pela qual ostras e bacalhau do Atlântico Norte são historicamente muito maiores. “Em certo sentido, nós estamos direcionando a evolução”, diz Payne.

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Coral morto em torno da Lizard Island após o evento de branqueamento de corais na Grande Barreira de Coral em maio de 2016. Image: XL Catlin Seaview Survey

Limitações

Há algumas grandes ressalvas quanto à análise. Para efeito de comparação, Payne e seus coautores só analisaram gêneros marinhos que têm contrapartes fósseis, ou seja, certos organismos de corpo mole que não se preservam bem (como polvos) foram excluídos.

Além do mais, eles só olharam para os organismos cujo risco de extinção foi avaliado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Isso cria um viés bastante grave para grupos como peixes, tartarugas marinhas, mamíferos marinhos e afins. Existem inúmeras espécies de invertebrados marinhos sobre os quais nós simplesmente não temos dados suficientes para fazer uma avaliação adequada de ameaça.

Talvez mais significativo, o estudo excluiu os corais, que estão atualmente no meio de um ciclo mundial catastrófico de morte. Como um habitat para cerca de um quarto de todas as espécies marinhas, os recifes de coral perdidos devido ao aquecimento global e à acidificação dos oceanos seriam um grande golpe para a saúde global dos oceanos.

“Este estudo em grande parte não aborda o impacto que nós temos sobre os ecossistemas do oceano através da mudança climática global”, diz Mark Eakin, oceanógrafo biológico da NOAA que não esteve envolvido no estudo, ao Gizmodo. “O aumento do CO2 atmosférico vai aumentar o impacto encontrado pelos autores e ampliar o alcance destrutivo da nossa espécie.”

Uma trajetória única

Mesmo considerando as omissões, o padrão descoberto pelos autores implica que a trajetória da sexta extinção em massa pode ser única. A perda de grandes animais tende a causar o que os ecologistas denominam de “cascata dos trópicos” – basicamente, um efeito cascata descendo a cadeia alimentar. Organismos maiores desempenham um papel desproporcional no ciclo global de nutrientes – o excremento de baleias fertiliza os oceanos com ferro, por exemplo, enquanto as migrações de salmão redistribuem nitrogênio e fósforo nos mares.

Não está claro se a perda desses serviços ecossistêmicos vai dificultar a recuperação da vida marinha, mas é certamente uma possibilidade. O estudo não mede palavras quanto a este ponto: “A remoção preferencial dos animais maiores nos oceanos modernos, sem precedentes na história da vida animal, pode perturbar os ecossistemas por milhões de anos.”

Há, no entanto, algo relativamente positivo: as coisas não ficaram muito terríveis ainda. No conjunto de dados de Payne, há apenas um gênero que realmente foi extinto nos últimos 500 anos. Ou seja, estamos na melhor das hipóteses começando a sexta extinção em massa – e talvez possamos reverter a situação.

“Temos a oportunidade de evitar isto totalmente se tomarmos as decisões corretas”, diz Payne. “Mesmo na terra firme, onde perdemos diversas grandes espécies, quase tudo ao nível de gênero ainda está aqui. Afirmar que estamos em uma sexta extinção em massa é algo muito grande. Isso é uma possibilidade – não é ainda a realidade.”

[Science]

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