Sol laranja, chuva preta, rio verde: tudo sobre a maior seca do Brasil
A seca de 2024 — que começou em 2023 — é a mais extensa já registrada no Brasil. Em nota, o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) declarou que 59% do país está sob algum grau de seca. Até então, a estiagem mais ampla registrada era a de 2015-2016, em 54% do território. As informações são do jornal O Globo.
Sol laranja, rio verde, chuva preta…
A seca deste ano afetou muito o Acre, Amazonas, Mato Grosso, São Paulo e o Triângulo Mineiro, com municípios há 12 meses consecutivos em seca. Em partes do Cerrado, como o Norte de Minas, a seca é a pior em 700 anos, segundo um estudo da USP publicado na revista Nature Communications. Enquanto isso, regiões mais ao Norte e ao Sul apresentam uma condição mais favorável, com menos de 30 dias consecutivos sem chuva.
Na última segunda-feira (9), a cidade de São Paulo atingiu a pior qualidade do ar entre as grandes cidades do mundo de acordo com o IQAir, instituição que mede a qualidade do ar. Além disso, a poluição e os incêndios florestais deixaram o sol na capital paulista laranja. Já o Rio Pinheiros ficou verde devido à proliferação de algas nas águas, favorecida pelo tempo seco, como noticiou o portal UOL.
Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, moradores registraram o fenômeno da “chuva preta” também na segunda. Segundo o Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da UFPel (Universidade Federal de Pelotas), o motivo é a mistura da fuligem da fumaça das queimadas com a chuva. Em Porto Alegre, o sol também apareceu alaranjado e com o céu cinza, efeito da interação dos raios solares com a fumaça, explicou Guilherme Borges, da Climatempo, ao G1.
Qual o motivo da seca? Vai melhorar?
A causa da seca está ligada à fraca estação chuvosa de 2023 no Centro-Oeste e no Norte, tanto pelo El Niño quanto pelo aquecimento do Oceano Atlântico. A estação seca também começou mais cedo, em abril, enquanto a chuvosa está atrasada na América do Sul
Além disso, incêndios criminosos potencializam a propagação do fogo, junto a um clima favorável. O especialista em ecologia do fogo Christian Berlinck, do ICMBio, explica que a grande maioria deles dos incêndios é “causada por um isqueiro ou fósforo e alimentada por querosene ou gasolina”. “Não existe incêndio natural em período seco no Brasil porque não há raios”, pontua.
Futuramente, o climatologista Tercio Ambrizzi, da USP, diz que secas extremas devem se tornar mais frequentes, em especial no Norte e no Nordeste. 2025 ainda deve manter a tendência, mesmo com a formação do fenômeno climático La Niña. Por ora, segundo o Cemaden, a previsão é de calor intenso na maior parte do Brasil nas próximas duas semanas.
O que dizem as autoridades?
Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou o Amazonas nesta terça-feira (10). Ele anunciou a criação de uma Autoridade Climática para enfrentar os efeitos das mudanças ambientais. Isso já tinha sido prometido pela campanha na adesão de Marina Silva, atual ministra do Meio Ambiente.
A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) disse em nota que “continua em alerta neste período crítico [de seca no Brasil] e monitorando as condições de qualidade dos rios e represas” na região metropolitana e no estado. “É muito importante que a população faça o descarte correto do lixo e tenha consciência de que manter a cidade limpa depende de todos os paulistas”, declarou o órgão.
Para minimizar os efeitos do ar seco na saúde, a SMS (Secretaria Municipal da Saúde) de Porto Alegre emitiu uma série de recomendações para a população:
- Se tiver sintomas respiratórios, busque atendimento médico o mais rápido possível;
- Beber mais água e líquidos para manter o aparelho respiratório úmido e mais protegido;
- Se possível, ficar menos tempo em ambiente aberto, durante o dia ou à noite;
- Manter portas e janelas fechadas, para diminuir a entrada da poluição externa no ambiente;
- Evitar atividades em ambiente aberto enquanto durar o período critico de contaminação do ar pela fumaça.