Ciência

Solidão faz mal à saúde? Veja o que diz a ciência

Estudos estão se aprofundando na relação entre a solidão e diversos problemas de saúde; pessoas solitárias têm mais risco de depressão e doenças cardiovasculares
Imagem: Sasha Freemind/ Unsplash/ Reprodução

Cerca de um quarto dos adultos no mundo se sentem muito solitários, segundo pesquisa da Meta com a empresa de pesquisa Gallup e um grupo de consultores acadêmicos. Embora a solidão pareça um sentimento comum, ela pode ter tantas implicações negativas à saúde que a OMS (Organização Mundial da Saúde) a chamou de “ameaça à saúde urgente”.

Diferente do que muitos pensam, o conceito de solidão não diz respeito a uma pessoa que  tem poucos relacionamentos sociais. Na verdade, isso se refere ao isolamento social.

A solidão, por sua vez, ocorre quando uma pessoa está insatisfeita com os relacionamentos sociais que tem – em geral, é uma experiência subjetiva. Para muitos, não é fácil sair de um período solitário.

E quando a solidão aguda se torna crônica, os efeitos na saúde podem ser abrangentes.

O que a solidão pode causar

De acordo com o relatório do cirurgião-geral Vivek Murthy, a solidão crônica pode ser tão prejudicial quanto a obesidade, a inatividade física e o tabagismo. Além disso, há uma longa lista de problemas de saúde associados ao sentimento.

Entre elas, estão a depressão, doenças cardiovasculares, a morte precoce e a demência – pessoas que se sentem solitárias têm 1,64 vezes mais chances de desenvolver esse tipo de neurodegeneração. 

Em geral, essas são consequências do fato de que pessoas solitárias têm maior risco de pressão alta e disfunção do sistema imunológico em comparação com aquelas que não se sentem dessa forma. 

Também há influência de vários efeitos fisiológicos. Por exemplo, a capacidade de dormir, níveis aumentados de hormônios do estresse e maior suscetibilidade a infecções.

Solidão subindo à cabeça

Nos últimos anos, pesquisas têm buscado respostas sobre a relação da solidão e os problemas de saúde decorrentes. E, claro, muito dessa interação se passa no cérebro.

De acordo com um estudo de 2020, quando pessoas solitárias observam outros indivíduos interagindo, ativam uma região localizada bem no meio do cérebro. Chamada de substância negra, ela faz parte do sistema de motivação e se ativa quando uma pessoa quer algo. 

Curiosamente, o processo também acontece quando uma pessoa com fome vê imagens de comida. 

Provavelmente por isso, pessoas que sentem solidão se tornam mais propensas a aceitar recompensas. Por exemplo, uma pesquisa de 2023 demonstrou que adolescentes isolados pro quatro horas aceitavam de maneira mais fácil uma recompensa em dinheiro do que aqueles que continuaram interagindo.

Além disso, outro estudo mostrou que, ao gerar estresse, a solidão estimula o aumento dos níveis de duas proteínas envolvidas na doença de Alzheimer. Em geral, as placas de proteína que se emaranham ao redor dos neurônios e interferem na memória e cognição.

Por fim, a solidão também é associada a um volume menor de matéria cinzenta no cérebro. De acordo com especialistas, socializar mantém conexões neurais e pessoas solitários provavelmente perdem esse exercício mental.

Para remediar a solidão

Assim como grande parte das doenças, a solidão também exige um tratamento que demanda hábitos saudáveis. Entre eles, a atividade física, mas também a interação social. 

Em geral, o exercício pode forçar as pessoas a usar outras partes do cérebro, interrompendo os processos neurais associados à auto-reflexão. Dessa forma, caminhar de quatro a cinco quilômetros ao longo de uma hora reverteu completamente os sentimentos de mau humor associados à solidão em algumas pessoas.

E, claro, exercitar-se também é uma ótima maneira de socializar.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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