A sonda InSight já pousou em Marte — e agora?
Agora que a sonda InSight, da NASA, pousou com sucesso, você pode imaginar o que vem a seguir. Bem, a mais recente sonda humana a chegar à superfície do planeta vermelho não está interessada apenas em rochas e moléculas. A InSight está interessada em Marte como um todo, incluindo o que está ocorrendo nas profundezas de sua superfície.
• Os pequenos satélites da NASA a caminho de Marte já enviaram seus primeiros sinais
A sonda, que partiu da Califórnia e levou seis meses para chegar ao seu destino, conta com três novos instrumentos para a superfície de Marte. Um vai medir como o calor flui para fora do planeta. Outro usará os polos do planeta para estudar seu núcleo; e, por fim, o terceiro irá caçar “marsquakes” (terremotos marcianos). Esses aparelhos vão oferecer uma perspectiva aos cientistas que eles nunca tiveram antes.
“A InSight é a primeira missão enviada para observar o interior de Marte”, disse Tanya Harrison, diretora de pesquisa da iniciativa NewSpace, da Universidade do Estado do Arizona, ao Gizmodo. “Temos tantas questões não respondidas sobre o seu interior, pois nunca tivemos uma boa visão sobre este aspecto antes.”
Marte e Terra são planetas rochosos que parecem que tiveram água em sua história, mas que evoluíram de formas muito distintas. A InSight deve ajudar no estudo de como planetas rochosos se formam e evoluem. Ela também vai tentar entender se há atividade tectônica em Marte — e o nível de atividade que se move sobre e sob a superfície.
Agora que a InSight pousou, os cientistas passarão de dois a três meses analisando a sua área de pouso para determinar onde deixar dois destes três instrumentos. São eles: o SEIS ou (Seismic Experiment for Interior Structure) e o HP3 (Heat Flow and Physical Properties Probe). Um terceiro experimento, o RISE (Rotation and Interior Structure Experiment), vai ficar na sonda e monitorar a posição do polo norte de Marte para determinar o quanto o planeta está balançando. Isso pode fornecer informações sobre o núcleo do planeta, incluindo se ele tem ou não líquido e se contém outros elementos além de ferro.
Cientistas do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), da NASA, têm um local para ensaio que conta com uma pilha de cascalho no laboratório, com direito a pedregulhos e tudo, além de um modelo da InSight, em que eles podem recriar o local de pouso da sonda. Eles usarão este espaço para praticar o posicionamento do SEIS e do HP3. O SEIS deve ficar na superfície do planeta abaixo de um escudo que o protegerá do vento e do calor para assegurar que suas medidas sísmicas captem apenas as alterações do planeta. O HP3 ficará enterrado a quase cinco metros de profundidade da crosta marciana para estudar o calor liberado do planeta. Um braço robótico implantará ambos.
A atividade sísmica poderia vir de várias fontes, conforme nos contou Kirsten Siebach, professora assistente do Departamento de Ciências Planetárias, Ambiente e Terra, da Universidade Rice. As potenciais fontes incluem impactos de meteoros, deslizamentos de terra ou movimentos abaixo da superfície. Essa atividade pode também determinar se há alguma substância em sua composição. O equipamento poderá ainda determinar se há algum congelamento ou derretimento líquido abaixo da superfície, disse Harrison.
É claro, a quantidade de dados que a sonda pode reunir é limitada, e ela ficará em apenas um local de Marte. Sem contar que levará um tempo para a missão revelar informações interessantes. Os pesquisadores vão ter de esperar pelo impacto da geração de ondas sonoras que deverão viajar pelo planeta, por exemplo.
Em última análise, essas medidas não só informarão os cientistas sobre Marte, mas sobre planetas rochosos de modo geral. Por que, por exemplo, a Terra tem atividade tectônica, enquanto Marte não tem? Quanto a composição de um planeta influi para que a vida e água exista em um, mas faz com que desapareceça em outro?
“Isso é uma nova forma de comparar o que está acontecendo em outro planeta com o que vemos na Terra”, disse Siebach. “Isso vai nos ajudar a entender a formação e a evolução de planetas como um todo.”