Ciência

Sua garrafa de água pode ter mais de 240 mil nanoplásticos

A cada litro de água engarrafada, estudo encontrou quantidade de nanoplásticos 100 vezes maior do que estimativas anteriores
Imagem: Jonathan Chng/ Unsplash/ Reprodução

Pela primeira vez, cientistas encontraram nanoplásticos em garrafas de água – não apenas na embalagem, como também no conteúdo. Essas partículas são ainda menores que os microplásticos, produto da decomposição de polímeros que compõem plásticos.

De acordo com o estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, há cerca de 240 mil nanoplásticos a cada litro de água engarrafada. Isso é de 10 a 100 vezes mais do que as estimativas anteriores previam.

Estudos anteriores já haviam encontrado a presença de microplásticos nas garrafas de água. Uma pesquisa realizada em 2018 pela organização internacional sem fins lucrativos Orb Media analisou 259 produtos. Deles, em apenas 17 o plástico estava somente na embalagem.

O que diz a nova pesquisa

Para os testes, cientistas utilizaram uma técnica chamada microscopia de espalhamento Raman estimulado. Ela foi co-inventada pelo coautor do estudo, Wei Min, um biofísico da Universidade de Columbia, e consiste em utilizar dois lasers ao mesmo tempo para ressoar moléculas específicas do material estudado.

No total, os pesquisadores testaram três marcas populares de água engarrafada vendidas nos Estados Unidos. Assim, encontraram de 1220 mil a 370 mil partículas de plástico em cada litro de água.

De todas elas, 90% eram nanopartículas e o restante microplásticos. Além disso, eles também identificaram quais os tipos de plásticos mais presentes, buscando pelos sete tipos do material que já são conhecidos. Surpreendentemente, o mais comum era a poliamida, um tipo de nylon.

Em segundo lugar, o plástico mais comum presente por meio de nanopartículas nas garrafas de água era o polietileno tereftalato, popularmente conhecido como PET.

Outros plásticos comuns que os pesquisadores encontraram incluem poliestireno, cloreto de polivinila e metacrilato de polimetilo, todos usados em vários processos industriais.

No entanto, as partículas identificadas representaram apenas 10% de toda a amostra encontrada. Isso significa que os pesquisadores não fazem ideia de qual tipo de plástico são feitas 90% das nanopartículas achadas nas garrafas de água.

De onde vêm os micro e nanoplásticos

De acordo com o estudo, a presença de PET na água engarrafada não surpreende, porque ele é o material utilizado nas embalagens. Segundo os cientistas, os nanoplásticos podem entrar na água quando pedaços da garrafa se soltam, por exemplo ao abrir e fechar repetidamente, e quando ela fica exposta ao calor.

Já a presença do nylon provavelmente se deve aos filtros plásticos usados para supostamente purificar a água antes de ser engarrafada. 

Contudo, estudos anteriores já identificaram que a presença dos produtos da decomposição de plásticos não está somente nas garrafas de água. Isso porque, com mais de 30 milhões de toneladas do material despejadas anualmente na água ou na terra, os microplásticos e nanoplásticos chegam até a água das torneiras de casa.

Então, são ingeridos por meio da alimentação, por exemplo. Assim, estudos mostram que os microplásticos já chegaram até mesmo ao coração humano.

Ainda menores, os nanoplásticos podem atravessar intestino e pulmões diretamente para a corrente sanguínea. Dali, também podem viajar para órgãos, como o cérebro.

“Há um grande mundo de nanopartículas a ser estudado. Mas não é o tamanho que importa. São os números, porque quanto menores são as coisas, mais facilmente elas podem entrar em nós”, explicou Min.

O outro lado

Em nota, a ABIPET (Associação Brasileira da Indústria do PET) afirma que “o PET é uma das melhores embalagens para a água, refrigerantes, sucos, lácteos, alimentos e inúmeras aplicações. É aprovado por todos os órgãos de saúde e agências sanitárias em todo mundo. O PET não contém em sua fórmula elementos químicos que poderiam gerar dioxinas ou outras substâncias nocivas ao ser humano ou animais.”

Ainda de acordo com a entidade brasileira, e a partir de dados da Union for Conservation of Nature, as maiores fontes de microplásticos são as roupas com fibras sintéticas que, durante o processo de lavagem, acabam por arrastar essas micropartículas pela água e que podem migrar para esgoto, corpos de água, aquíferos e, por fim, os oceanos.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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