O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) está sofrendo com falta de verba e, para economizar, poderá desligar o Tupã — um supercomputador utilizado para fazer previsão meteorológica e climática. Este seria o primeiro desligamento da história e traria diversos problemas ao Brasil.
“Ficaremos com um ‘buraco’ nessas informações e isso, obviamente, vai deixar o governo desguarnecido a respeito do que vai acontecer, de quais são as possibilidades para o próximo semestre”, comenta o professor Pedro Luiz Côrtes, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP, em entrevista ao Jornal da USP.
Além disso, há consequências para a economia, uma vez que o computador está relacionado ao funcionamento do operador nacional do sistema elétrico, que coordena o desempenho das usinas hidrelétricas, termelétricas e das plantas eólicas — e à atuação da Agência Nacional de Energia Elétrica na distribuição da energia pelo Brasil. “Isso tem um impacto muito grande na inflação: o IPCA já vem crescendo também em função do aumento das tarifas elétricas”, explica Côrtes. O planejamento do governo em relação à agricultura e à avaliação da qualidade das safras em função dessas questões hídricas poderia afetar, por exemplo, a balança de pagamentos e as exportações.
A saúde pública também seria gravemente afetada porque há aumento de temperatura em locais onde chove muito, contribuindo para o crescimento de doenças como dengue, zika e chikungunya — que poderiam ser contidas com políticas de prevenção amparadas em dados do monitoramento.
Tudo isso está acontecendo porque, neste ano, o Inpe recebeu R$ 44,7 milhões, frente a um total previsto de R$ 76 milhões, junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Ao G1, Ricardo Galvão, ex-diretor da instituição, disse que nunca houve um orçamento tão enxuto e que levasse a medidas tão radicais. “É uma situação crítica que o governo nunca poderia ter deixado acontecer”, afirmou.
Ainda assim, essa não é a primeira vez que isso acontece no país. Em 2016, o Santos Dumont, equipamento do Laboratório Nacional de Computação Científica, foi desligado para economizar energia. Ao todo, ele gastava R$ 500 mil por mês, 80% dos recursos do laboratório.