Cultura

Supla revela ao Giz Brasil: “Tecnologia é uma ferramenta, mas não quero viver só dela”

Em entrevista exclusiva ao Giz Brasil, músico celebra trabalho com irmão, agenda de shows e proximidade com fãs para além das "caixinhas" de duplo sentido do Instagram
Supla/Reprodução

“Papito, manda um beijo para o meu amigo Jacinto”. Supla não tem constrangimento nenhum com as piadas de duplo sentido que seus seguidores mandam no seu Instagram. Aliás, respondê-los ali é uma forma de fugir das “caixas do comportamento”.

Aos 57 anos, o roqueiro mantém a identidade divertida e punk do começo de carreira nos anos 80. E, de uns tempos para cá, usa a tecnologia como aliada nessa irreverência. Ele dispensa assessoria de imprensa e interage pessoalmente com os seguidores.

“A vida é curta. Quando faço a parada da interação é uma coisa que me dá prazer. Tento organizar meu tempo para responder às perguntas da galera.” (Supla)

Papo com o Giz Brasil

Em conversa exclusiva com o Giz Brasil, Supla falou um pouco de seu novo álbum “Supla e os Punks de Boutique”, e do projeto “Brothers of Brazil” com o irmão João. Mas o foco principal foi a sua vida digital, o uso da tecnologia na música e a inteligência artificial nas canções. Confira os principais tópicos.

Papito in off

Mas o assunto mais comentado na entrevista com o Giz foi a relação de Supla com a tecnologia. O filho dos políticos Eduardo Suplicy e de Marta Suplicy foi um dos pioneiros de celebridades em reality shows no início dos anos 2000 — ficou com o segundo lugar no “Casa dos Artistas” do SBT. Passou também pela revolucionária MTV Brasil e emplacou seus realities, como o “Papito in Love”. 

Inovar estava em seu DNA desde a banda Tokyo, ainda nos anos 80, antes de despontar para carreira solo. “Já na música tinha a parte da eletrônica, música eletrônica mesmo. Foi onde a tecnologia mais entrou [na minha vida]”, contou.

Se jogar em novidades sem medo não impede Supla de ter um olhar crítico sobre novidades tecnológicas.

Eu já venho criticando desde meus primeiros trabalhos. Desde a música ‘Humanos’ no Tokyo. Depois, ‘Fanáticos Virtuais’ com suas crises existenciais despejadas nas redes sociais, escondem carências. Também tem ‘Cresça e Aconteça’ no álbum. A tecnologia está aí como uma ferramenta, mas não quero viver só dela. Tenho uma música nova chamada ‘Queixo Novo’, nem lancei. A máquina é uma puta ferramenta, mas não tira o sentimento.” 

Sem usar IA, champs

A troca com os fãs respondendo perguntas no Instagram — sua rede social preferida — surgiu em meio à pandemia e acabou como uma marca registrada. Supla dispensa assessoria. Prefere ser independente, inclusive para o uso de inteligência artificial.

“É uma ferramenta para ajudar a tocar as pessoas também. Quando respondo coisas de duplo sentido, eu tento não repetir. Mas, ao mesmo tempo, quando estou respondendo, também estou dando toque com base no que ao longo da minha vida eu aprendi. Não sou pai de ninguém, só estou passando minha experiência para ajudar a molecada”, disse.

@suplaoriginal

#DiaDosProfessores

♬ As It Was – Supla

As redes sociais mostram músicas com versões de outras vozes feitas com IA ou vídeos com uso de deep fake, substituindo um rosto por outro.  Em maio deste ano, o Spotify retirou músicas feitas por IA da plataforma.

Em meio ao movimento de roteiristas e atores de Hollywood protestando contra o uso de inteligência artificial sem regulamentação nas produções, o músico confessa não estar acompanhando tanto. Mas já cantou sobre o assunto.

Não [uso IA]. Fiz uma música tirando sarro disso. Acho legal, é o queixo novo. Como o próprio dono do Twitter disse, vai tirar emprego de muita gente. Eu não quero que fique uma coisa só artificial. O nome já não diz que é artificial? Tem que saber usar a tecnologia. Que nem tudo. Se você beber muito, vai fazer mal. Tem que saber dosar as coisas. Isso vale para a tecnologia, porque ela é um adianto na vida de todas as pessoas.”

@suplaoriginal

Supla Zombie! C mmon kids!

♬ som original – Supla

Supla lembra que os CDs e DVDs piratas também eram uma ameaça aos direitos autorais. Otimista ou realista, ele vê que o importante “é o artista estar protegido”.

É uma coisa incontrolável. Tudo em excesso tem que saber levar. O pessoal tem razão, tem que lutar pelos direitos deles. A própria inteligência artificial é acionada, ela mesma faz as perguntas. Tem que tomar cuidado. É o mundo capitalista. O surreal virou normal. Tá cheio gente de gente morrendo e a gente passa como se estivesse tudo bem.”

E tem algo que Supla valoriza muito e não abre mão de jeito nenhum.

Ver uma pessoa jovem e eu estar me conectando. Me dá muito prazer. Estamos conectados. Temos a necessidade de se conectar. Somos humanos, não somos máquinas. Máquina não sofre, ela é artificial”.

“Quem Você Quer Ser Hoje”?

Em “Supla e os Punks de Boutique” a crítica ao modo de vida 100% conectado ao online é um tema que vai e volta nas canções. Em especial na faixa “Quem Você Quer Ser Hoje”, onde Supla passa pelas Trends do TikTok — os conteúdos que viralizam e se tornam um comportamento compartilhado.

Ele mesmo confessa que fica presente nos aplicativos, mas devido ao ofício.

“[É] 24 horas nas redes sociais. Pode ser qualquer horário. É tipo home office. Trabalhar na internet é trabalhar, não é brincadeira. Você que faz o seu tempo”, comenta.

Comedido entre o divertido e punk mais uma vez, Supla só deixa se exagerar em uma coisa.

“A música eu amo. Ela pode exagerar. É o que eu mais gosto. Eu amo ficar no estúdio.

Ele tem se aventurado novamente na mescla de ritmos, mas desta vez tem focado no trap — uma variação dentro do rap nacional. Isso não muda quem ele quer ser hoje e em todos os dias.

“Quem eu sou. Não estou…. Por exemplo, se eu fizer trap ou funk, vai ter uma atitude punk. Vai ter minha atitude lá. Vai estar impresso.”

@suplaoriginal

Aprendendo as gírias do trap C mmon kid s! #trapbr #supla #rapfalando

♬ som original – Supla

Os “Brothers” seguem firmes

Seu projeto com o irmão João Suplicy, “Brothers of Brazil”, continua a todo vapor com um álbum recém lançado, o “Brothers Again”. Com músicas apresentadas em outubro, este último trabalho tem a participação de Erasmo Carlos, morto em 2022, e de Pete Doherty, vocalista do Libertines. Confira abaixo:

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Pedro Ezequiel

Pedro Ezequiel

Pedro Ezequiel é jornalista pela ECA - USP. Passou pela Rádio USP, Jornal da USP, UOL e DOC Films. Não dispensa café e podcast. É fã de "Moleque Atrevido" do Jorge Aragão.

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