Ciência

Suplementos: mitos que o marketing quer que você acredite

Na crescente da indústria de suplementos, mitos são espalhados para convencer a população do seu consumo; veja o que diz esta especialista
Imagem: Daily Nouri/ Unsplash/ Reprodução

Da vitamina C à D, do colágeno a um complexo com todos os minerais e passando pelos prebióticos, os suplementos ganharam espaço no mercado e na rotina das pessoas. No Brasil, 59% dos lares possuem ao menos um indivíduo que consome esse tipo de produto, segundo pesquisa de 2020 da Abiad (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres).

Nos EUA, o consumo de suplementos também é alto. Por lá, 74% dos adultos tomam vitaminas, prebióticos e similares. Embora haja razões para tomá-los, cada caso é específico e a banalização não deve ser incentivada.

Para a especialista em Saúde Pública e pesquisadora da Universidade da Georgia, Katie Suleta, na indústria de suplementos, mitos são espalhados para convencer o indivíduo da compra. Assim como em outras áreas, o marketing cumpre seu papel.

Pensando nisso, a cientista elaborou e publicou no site The Conversation um guia com três dos principais mitos vendidos pelas fabricantes de suplementos. Confira abaixo as dicas da especialista para não cair nos argumentos de marketing.

Suplementos: mitos para ficar atento

1. Se é natural, é bom

O primeiro aspecto explorado pela indústria de suplementos é o apelo ao natural. Em muitas embalagens, as marcas recorrem às palavras que invocam a natureza e a discursos que estimulam pessoas a evitar o que é artificial.

Por exemplo, se eu disser “vitamina C”, o que você imediatamente pensa? Provavelmente em laranjas ou em frutas cítricas em geral e na prevenção da gripe. Mas se eu disser “a vacina contra a gripe”, o que vem imediatamente à mente? Provavelmente consultórios médicos, um pouco de dor e empresas farmacêuticas. Um desses é clinicamente comprovado para prevenir infecções por gripe e diminuir a gravidade da doença. O outro foi comercializado como se fizesse as mesmas coisas, mas não há evidências clínicas para apoiar isso.

Katie Suleta

Assim, a indústria convence as pessoas de que elas precisam desse produto para serem saudáveis. Sob esse argumento, Suleta afirma que natural não significa melhor.

2. Quanto mais, melhor

Apoiado no primeiro mito sobre suplementos, está o segundo. Por se apresentarem como naturais, o raciocínio vendido pelo marketing desses produtos leva a pensar que não fazem mal à saúde e, assim, quanto mais se tomar, melhor.

Por exemplo, se a vitamina C é essencial para o organismo, consumir muito dela deve fazer bem para a saúde. Contudo, o corpo regula por si só os níveis de vitaminas e minerais ingeridos. 

Se uma pessoa não tem deficiência de alguma dessas substâncias, o organismo automaticamente eliminará o suplemento do corpo. E isso acontece por meio da urina – o que gerou a famosa crítica aos suplementos de que são apenas um xixi caro.

Na prática, existem diversas demonstrações de como isso ocorre. Por exemplo, a especialista ressalta as dosagens em que as cápsulas de vitaminas são vendidas. 

Embora as pessoas adultas precisem, em média, de cerca de 75 a 120 miligramas de vitamina C por dia, as embalagens oferecem comprimidos que podem chegar a 750 ou mil miligramas da substância.

O mesmo acontece com os suplementos de vitamina D. Enquanto o organismo de um adulto precise de quatro mil UI (unidades internacionais), no máximo, as cápsulas contêm dosagens de até cinco mil UI. 

Para Suleta, assim “é fácil exceder o que precisamos”. E, em casos de exagero extremo, esse tipo de consumo de suplementos pode ter resultados negativos.

“Muito de vitamina C pode levar a diarréia, náusea, cólicas estomacais e mais. Muito de vitamina D pode levar a condições incluindo náusea, vômito e pedras nos rins”, explicou a cientista.

3. Você precisa fazer algo

O último mito apontado por Suleta é a ideia de que, ao ingerir um suplemento, você está fazendo mais pela sua saúde do que se não estivesse tomando nada. A lógica do “fazer algo é melhor do que não fazer nada”.

E isso funciona porque, em geral, tomar uma atitude faz as pessoas sentirem que têm mais controle sobre uma situação. De acordo com Suleta, isso é especialmente poderoso quando se trata de saúde.

Os suplementos também podem exagerar ou diminuir o efeito de medicamentos prescritos, como contraceptivos, remédios imunossupressores, estatinas e quimioterapia.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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