A ‘Taxa Apple’ no Brasil

Recentemente, traduzimos um post que fazia referência a um artigo do Gizmodo US intitulado “The truth about the Apple Tax” (a verdade sobre a Taxa Apple), uma análise de Matt Buchanan sobre o preço excessivo dos produtos dela. Surgiram pedidos para que traduzíssemos o texto de Buchanan. Pois bem, resolvemos fazer melhor: adaptar a ideia do artigo para a realidade brasileira. E aqui está o resultado. Fala-se em Taxa (ou imposto, tributo, encargo, whatever) Apple porque os produtos dela seriam mais caros do que os equivalentes de outras marcas, principalmente em computadores – ou seja, micros Mac seriam mais caros do que PCs com configurações semelhantes (ou até superiores). Assim como Buchanan, veremos como isso se dá no mercado de notebooks.

Recentemente, traduzimos um post que fazia referência a um artigo do Gizmodo US intitulado “The truth about the Apple Tax” (a verdade sobre a Taxa Apple), uma análise de Matt Buchanan sobre o preço excessivo dos produtos dela.

Surgiram pedidos para que traduzíssemos o texto de Buchanan. Pois bem, resolvemos fazer melhor: adaptar a ideia do artigo para a realidade brasileira. E aqui está o resultado.

Fala-se em Taxa (ou imposto, tributo, encargo, whatever) Apple porque os produtos dela seriam mais caros do que os equivalentes de outras marcas, principalmente em computadores – ou seja, micros Mac seriam mais caros do que PCs com configurações semelhantes (ou até superiores).

Assim como Buchanan, veremos como isso se dá no mercado de notebooks.

Esta é uma análise comparativa que procura se restringir ao hardware mais essencial dos laptops, aos componentes que julgamos fazer maior diferença no uso e no desempenho do computador. Está longe de ser definitiva e nem pretende sê-la. Muitos discordarão dela, e o espaço para comentários está livre para o debate. Mas desde já, peço com carinho aos fanboys (de qualquer “facção”): be polite, sejam polidos.

Eis a tabela que eu e Mr. Burgos compilamos. São 16 notebooks oficialmente à venda no Brasil, ordenados pelo preço – do menor para o maior, da esquerda para a direita.

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Peço perdão por algum dado não padronizado ou não detalhado na tabela – não sei bem por que, mas é comum as empresas não divulgarem ou dificultarem o acesso a alguns dados. Por exemplo, a Apple não revela o modelo de seus processadores Intel Core 2 Duo (P8600, T9550 etc.) – publica apenas a velocidade (clock), como se isso fosse o suficiente. Lógico que, com pesquisa, é possível achar a informação desejada, mas pra que isso? Um apelo às empresas: sejam mais transparentes, por favor. (OK, pedir isso para a Apple é realmente como gritar para uma maçã, mas… Ahn, vamos ao que interessa.)

 
Mac vs. PC

Eu já planejava escrever que o MacBook branco era um excelente negócio em sua faixa de preço, na qual aparentemente faltam bons concorrentes. Ao visitar os sites das empresas para conferir pela última vez os dados da tabela, percebi que me esquecera da seção de notebooks corporativos da Dell – uma grande mancada, já que a linha Vostro costuma ter preços muito competitivos.

E não deu outra. Olhem que beleza. O Vostro 1130, que é o primeiro da tabela – ou seja, o mais barato –, consegue “desafiar” não apenas o rival imediatamente ao lado, mas vários outros adiante. Com o MacBook branco de 2008, aliás, é covardia: eles têm o mesmo processador, mas a máquina da Dell humilha na RAM e na solução gráfica, além de ter um HD maior. Só peca mesmo pela falta de alternativas para uma saída de vídeo com qualidade superior à da VGA, ainda que ela não seja ruim.

De qualquer maneira, o MacBook branco tem preços razoáveis – para um Apple – quando comparado a concorrentes próximos. O modelo lançado em janeiro deste ano é R$ 400 mais caro do que o HP Pavilion dv4-1135BR e leva vantagem em relação a este principalmente no processador e no processador gráfico (GPU), mas perde na memória e no tamanho do disco rígido (por estreita margem em ambos os casos). A grande diferença, contudo, está no tamanho da tela – os modelos de 14 polegadas costumam ser mesmo mais baratos do que os de 13.

Agora compare o mesmo MacBook com os seus concorrentes mais caros que também têm telas de 13 polegadas (tirando o MacBook mais novo, de alumínio). O sistema da Apple perde na maioria dos componentes (chega a empatar em alguns) – mas perde de pouco, se considerarmos que os rivais custam mais de R$ 1.000 a mais!

OK, esta é a primeira conclusão: à parte o ótimo custo/benefício do Vostro, o MacBook branco tem um preço competitivo em relação aos seus concorrentes.

A segunda conclusão é possível adiantar antes de qualquer comentário, até pela sua obviedade: como são caros os MacBook de alumínio!

Eles têm configurações semelhantes às dos rivais da Dell (XPS M1330 e XPS Studio 13) e da HP (Pavilion dv3508BR), mas sempre perdem na quantidade de RAM, sem contar as coisas chatas típicas da Apple, como a falta de leitor de cartões de memória e a saída de vídeo limitada ao Mini DisplayPort. E são bem mais caros.

Aí você olha para a coluna imediatamente à esquerda do MacBook de alumínio mais barato do mercado. “Olha, um notebook de preço igual! Ah, tá explicado, é Sony Vaio!”

Sim, às vezes a Sony é vista como a Apple dos PCs, lançando modelos mais caros do que os concorrentes com configurações semelhantes. E tem também todo aquele papo de investir em design e em formatos proprietários ou mesmo exclusivos.

Que seja. Nessa tabela, a Sony parece bem mais razoável do que a Apple. O preço do MacBook é igual ao de um Vaio VGN-FW270AE, que tem processador mais rápido, mais memória, leitor de Blu-Ray, o dobro de armazenamento e tela de 16,4 polegadas com resolução full HD!

E o que dizer dos MacBook Pro de 15 polegadas? O mais barato custa R$ 1.009 a mais do que o Powernote M570, um desktop replacement (ou gaming notebook) de 17 polegadas que detona o modelo da Apple. O cara* é o único com um Intel Core 2 Quad na tabela, além de ter a placa de vídeo mais poderosa entre todas as listadas (o correto provavelmente é GeForce 9800M GTX – esse negócio de Go era da série 7 –, mas mantive a nomenclatura usada pela Powernote).

Ou seja, o M570 é imbatível aqui. Nem o mais caro da tabela é páreo para ele. O MacBook Pro de 17 polegadas é sem dúvida poderoso, mas R$ 13.499 é de chorar. Vocês conhecem alguém que gastaria essa grana toda nesse notebook? O preço é tão alto que certamente vale mais a pena ir aos Estados Unidos e comprar lá. A conta vai sair um pouquinho mais alta, mas quem tem cacife para comprar um Apple desses pode muito bem bancar a diferença… E a diversão da viagem compensaria tudo!

OK, muambas e afins devem ser desconsideradas nesta análise. Ao procurar por notebooks com preços próximos ao desse MacBook Pro, vemos um Lenovo e, claro, um Sony. O ThinkPad W500 é bem caro para o que oferece – de alguma maneira, podemos falar também de uma “Taxa ThinkPad”, pois essa linha da Lenovo costuma ter preços bem altos –, ainda que sua tela de 15,4 polegadas tenha uma incrível resolução de 1.920 x 1.200.

O Vaio VGN-AW180AU não deixa de ser ridiculamente caro, mas note que, por R$ 500 a menos do que o MacBook Pro de 17 polegadas, você leva gravador de Blu-ray e 1 TB de armazenamento. OK, o processador é levemente inferior, você fica sem a opção de usar a GeForce 9400M para economizar energia… Mas é um gravador de Blu-ray e 1 TB de espaço! Tem noção disso?

A intenção aqui, reforço, foi comparar o desempenho da máquina a partir dos dados levantados. Mas é claro que ao gastar milhares de reais você não se limitará apenas a isso.

É muito comum pessoas me consultarem sobre a compra de seu próximo computador. Quando isso ocorre, eu procuro ver qual é a melhor opção para cada uma, sem querer impor as minhas preferências. E em mais de uma vez eu já disse o seguinte: sim, por esse preço dá pra você comprar um PC mais potente do que esse Mac, mas vá em frente e compre o Mac. Você será mais feliz com ele.

Isso é normal. Produtos da Apple viraram incríveis objetos de desejo, e não raro a pessoa quer ter um Mac, precisa ter um Mac. É fácil perceber quando chega alguém com essa vontade incomensurável de ter um Mac. (Geralmente elas me abordam mais para “desencargo de consciência” do que qualquer outra coisa.) Para mim, é óbvio que ela será uma usuária de computador frustrada se não tiver um Mac. Aí, eu digo o que deve ser dito: vá de Mac, ora! And be happy.

Enfim, você pode muito bem justificar o pagamento da Taxa Apple ao considerar itens como o design do aparelho, a construção “unibody” e o sistema operacional (embora provavelmente todos os PCs da lista possam ser transformados em belos Hackintosh). Todos esses fatores justificam o preço excessivamente alto? Para mim, não. Para muitos, sim.

 
Mac vs. Mac

O problema é que a Taxa Apple varia absurdamente entre as próprias máquinas da marca. Por exemplo, quais as diferenças básicas entre um MacBook branco e um de alumínio? Este tem o mesmo processador, a mesma quantidade de memória (apenas um pouco mais rápida), a mesma solução gráfica, 40 GB a mais de disco rígido, tela com backlit de LED, corpo de alumínio e uma porta a menos (FireWire). Vale a pena pagar R$ 1.700 a mais por isso?

Você pode pensar o seguinte: é o preço da novidade, são gerações diferentes de design, apesar da atualização das especificações do MacBook branco. OK. R$ 1.700.

Se é assim, então vamos comparar os preços de dois MacBook com design semelhante, ou seja, com corpo de alumínio! Simples. As vantagens do modelo superior: processador mais veloz, o dobro de RAM, disco maior. And that’s all, folks. Quanto será que se paga por isso?

R$ 3.330.

Ou seja, a diferença de preço entre os dois MacBook Pro de 15 polegadas da mesma geração é: 1) maior do que a diferença de preço entre dois MacBook de 13 polegadas de gerações diferentes; 2) e maior do que o preço da versão mais barata do MacBook de 13 polegadas listada na tabela.

É isso mesmo. A diferença de preço entre dois modelos com o mesmo tamanho de tela e o mesmo tipo de corpo é maior do que o valor de um MacBook branco.

Essas diferenças absurdas entre modelos da própria marca derrubam o argumento pretensiosamente objetivo de que a Taxa Apple seria formada por itens concretos (design, construção, Mac OS X). Ela é muito mais complexa do que isso – a meu ver, é uma coisa extremamente insana, para a qual é impossível imputar uma explicação absolutamente lógica e racional, pelo menos dentro dos modestos limites deste artigo. Ficarei muito feliz se os nossos comentaristas conseguirem ir além.

 
Na balança

Assim, parece-me impossível deixar de lado aspectos abstratos quando se fala em Taxa Apple. Entram na conta não apenas possíveis características técnicas já mencionadas, mas também – e talvez principalmente – elementos mais sentimentais ou pessoais, como o hype, o coolness, o hipness e, claro, o fanboyism. Ser cool, ter estilo, ser dono de um objeto bonito.

E não há nada de errado nisso.

Atenção: não quero dizer que o consumo de produtos da Apple se dá exclusivamente por aspectos abstratos, apenas que eles são parte muito importante do processo. Mérito da marca.

Ao colocar na balança os prós e os contras de adquirir um produto, o consumidor não deixa de fora a relação (seja qual for) que ele tem com a marca. E quando a marca é Apple, essa relação tende a pesar muito para o lado dos prós. A Taxa Apple pesa para o lado dos contras.

Se não é possível justificar o pagamento da Taxa Apple exclusivamente com itens puramente objetivos, um sentimento já basta para fazê-lo.

  
* Lembrei de um amigo do meu pai. Ele teve uma escola de informática na época do Windows 3.x e usava muito a palavra “cara” em suas aulas. Você liga o cara e espera o DOS carregar. Digita DIR para ver os arquivos do cara. Você pega esse cara, arrasta e solta ali. Clica duas vezes nesse cara. Vai no menu Arquivo para salvar esse cara. Por aí.

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