Atingir uma taxa de vacinação em bebês acima da meta de cobertura dos imunizantes tem sido um dos desafios da saúde pública nos últimos anos. Um estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) revela que a taxa média de cobertura vacinal de crianças menores de dois anos foi de 77%, com tendência de queda em sete anos, de 89%, em 2015, para 62%, em 2021. Os dados estão publicados na edição de sexta (31) da “Revista Paulista de Pediatria”.
Em 2021, todas as vacinas analisadas que estão incluídas no calendário vacinal do Sistema Único de Saúde (SUS) tiveram cobertura vacinal abaixo de 74% no país, sem atingir a meta nacional (que é de 90% ou 95%, dependendo do imunizante).
O trabalho examinou a tendência de cobertura e abandono vacinal em menores de dois anos, no período de 2015 a 2021, para oito imunizantes do calendário nacional recomendado para a faixa etária, a partir de dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (PNI). Informações sobre a taxa vacinal de cada imunizante por região e por ano foram analisadas.
Em sete anos, houve uma tendência de queda na cobertura vacinal para todas as vacinas em todas as regiões brasileiras, com exceção da febre amarela nas regiões Sul e Sudeste. Neste período, a taxa média de abandono vacinal de imunizantes com mais de uma dose se manteve em 10%. Em algumas regiões, houve um aumento da tendência da taxa de abandono para as vacinas BCG, no Norte, Nordeste e Centro-oeste, e Meningo-C, no Norte e Nordeste.
Os pesquisadores já esperavam a confirmação desta tendência decrescente na cobertura vacinal ao acompanhar atividades práticas dos alunos de enfermagem em serviços de saúde e perceber a dificuldade de equipes da atenção básica em manter a adesão às vacinas das crianças. Essa ideia foi corroborada pela percepção de um aumento dos movimentos antivacina e negacionista, impulsionado pelo contexto da pandemia de Covid-19. “O que surpreendeu foi ver que essa tendência decrescente se aplicou a todas as vacinas analisadas, mesmo aquelas incluídas no calendário vacinal do SUS”, explica o pesquisador Ronaldo Antonio da Silva, coautor do estudo e doutorando de enfermagem da UFMT.
Para os cientistas, os resultados mostram um cenário preocupante em relação à imunização das crianças menores de dois anos no país, com a necessidade de uma melhor compreensão dos fatores que influenciam as taxas de cobertura vacinal e de abandono. “A partir dessa identificação será possível propor estratégias para aumentar a confiança dos pais e familiares nas vacinas”, aponta Silva.
Dados recentes divulgados pelo Ministério da Saúde mostram uma reversão deste cenário: em 2023, oito vacinas recomendadas pelo calendário infantil apresentaram aumento de cobertura vacinal em comparação a 2022, entre elas os imunizantes contra a poliomielite e tríplice viral. Mesmo assim, os estudos sobre fatores que afetam a vacinação continuam. O Grupo de Estudos em Saúde da Criança e do Adolescente da UFMT quer investir em pesquisas sobre hesitação vacinal e sobre diferentes estratégias para melhorar a cobertura vacinal de crianças.