Ciência

Técnica inovadora faz válvula cardíaca crescer junto com criança

Owen recebeu primeiro transplante parcial de coração e, também pela primeira vez, tecido de válvula se desenvolveu junto com seu organismo
Imagem: JAHFAR AHMED/ Unsplash/ Reprodução

Em 2022, um bebê chamado Owen Monroe passou pela primeira cirurgia de transplante parcial de coração já realizada. No procedimento, ele recebeu apenas vasos sanguíneos e válvulas necessárias para reparar seu problema cardíaco.

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A cirurgia foi um sucesso e, agora, médicos e pesquisadores acompanham a evolução do quadro. Em um cenário de transplante total de coração, uma criança precisa passar por procedimentos cirúrgicos durante vários anos de sua vida, conforme seu organismo vai se desenvolvendo.

Agora, um novo estudo publicado na revista JAMA indicou que Owen não precisará passar por isso. Pela primeira vez, o tecido usado para corrigir o coração do bebê cresceu junto com ele, acompanhando seu desenvolvimento.

O que é o transplante parcial

Em um transplante de coração, o órgão todo é retirado do organismo do doador e inserido no corpo do paciente que necessita. Já em um transplante parcial, médicos podem utilizar apenas as partes necessárias, como vasos sanguíneos e válvulas.

Essa técnica permitiu que um único coração doador salve as vidas de dois bebês doentes. Há duas maneiras de fazer isso: por meio de transplantes em cascata e de transplantes de raiz. 

No primeiro tipo, um bebê com problema no músculo cardíaco recebe o coração doado inteiro, enquanto o segundo recebe os vasos sanguíneos e as válvulas saudáveis do primeiro bebê. 

Já no transplante de raiz dividida, as partes funcionais de um coração são doadas para dois bebês.

Para o Dr, Joseph Turek, chefe de cirurgia cardíaca pediátrica da Duke Health e o cirurgião que criou o transplante parcial de coração, e também para outros especialistas, essa é uma maneira de aproveitar partes do doador que de outra forma não poderiam ser usadas. Isso amplia a quantidade de crianças beneficiadas.

O bebê Owen

Owen Monroe é filho de Nick e Tayler Monroe e nasceu com uma malformação cardíaca chamada tronco arterial. Assim, em vez de ter dois grandes vasos sanguíneos saindo de seu coração, o bebê tinha apenas um, que era resultado da fundição entre artéria pulmonar e a aorta.

Cada uma delas carrega um tipo de sangue e tem funções distintas. Enquanto a artéria pulmonar transporta sangue sem oxigênio para o pulmão, a aorta leva o sangue já oxigenado para os outros órgãos do corpo.

Como no organismo de Owen não havia a válvula que fazia essa separação, os dois sangues se misturavam. Isso, por sua vez, sobrecarregava os pulmões do bebê. 

Além disso, ele também tinha um defeito na válvula que já possuía, o que dificultava ainda mais seu quadro. De início, médicos disseram que ele precisaria de um transplante de coração completo. Mas o Dr. Turek sugeriu uma alternativa: o transplante parcial de coração.

Dessa forma, ele poderia substituir apenas as partes defeituosas do coração de Owen por vasos e válvulas vivos de um doador recentemente falecido. Frente a um cenário com poucas alternativas e o risco de vida do bebê, os pais aceitaram.

Quando surgiu um doador compatível – cujo músculo cardíaco não podia ser transplantado, mas outras partes do órgão, sim -, Owen tinha apenas 18 dias de vida e fez a cirurgia, que foi um sucesso. Desde então, ele é um bebê feliz e ativo, que completa normalmente seus marcos de desenvolvimento.

Seu caso foi tão marcante e inovador que chamou a atenção de roteiristas de Hollywood. Assim, sua história fez parte de em um episódio da famosa série “Grey’s Anatomy”.

Caso de sucesso

Se a família tivesse optado pelo transplante total ou outro tipo de reparo com técnicas mais antigas, os pais acreditam que o bebê Owen estaria se preparando para sua terceira cirurgia. 

Atualmente, sua única preocupação é com os remédios que precisa tomar diariamente, a fim de evitar que seu organismo rejeite as partes transplantadas. Em geral, eles precisam ser tomados para o resto da vida. 

E, como suprimem o sistema imunológico, podem trazer consequências negativas, como maior vulnerabilidade à infecções e ao câncer. 

Segundo especialistas, não há tantos marcadores nos tecidos que compõem vasos sanguíneos e válvulas cardíacas. Dessa forma, um transplante dessas partes tende a gerar menos reação. Por isso, a dose de remédios necessária para Owen é baixa.

No total, depois do pioneiro Owen, outras 12 crianças passaram por transplantes parciais de coração. De acordo com a reportagem da CNN, outra criança que recebeu um transplante parcial de coração não precisou de nenhum medicamento contra a rejeição.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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