Forte tempestade solar provavelmente detonou dúzias de minas navais dos EUA durante Guerra do Vietnã

Uma análise de documentos militares dos Estados Unidos recentemente tornados públicos confirma suspeitas de que, durante os últimos estágios da Guerra do Vietnã, uma poderosa tempestade solar fez com que dúzias de minas navais explodissem. A descoberta é um forte lembrete do potencial do Sol de perturbar nossas atividades tecnológicas de maneiras inesperadas. • Tempestades solares […]
Observatório de Dinâmica Solar da NASA

Uma análise de documentos militares dos Estados Unidos recentemente tornados públicos confirma suspeitas de que, durante os últimos estágios da Guerra do Vietnã, uma poderosa tempestade solar fez com que dúzias de minas navais explodissem. A descoberta é um forte lembrete do potencial do Sol de perturbar nossas atividades tecnológicas de maneiras inesperadas.

• Tempestades solares estão fazendo algo estranho com a nossa atmosfera

Como parte da Operação Pocket Money, a marinha dos Estados Unidos plantou uma série de minas navais Destructor perto de portos estratégicos na costa do Vietnã do Norte. Algumas semanas depois, em 4 de agosto de 1972, tripulantes a bordo da aeronave U.S. Task Force 77 de repente observaram uma série de explosões ao sul de Hai Phong. Ao todo, cerca de 20 a 30 explosões foram documentadas em apenas 30 segundos. Outras 25 a 30 manchas de água enlameada foram também observadas, indicando outras explosões.

A ocorrência foi bizarra, já que não havia razão para as minas terem detonado. Quase imediatamente, oficiais dos EUA começaram a contemplar a possibilidade de a atividade solar extrema ter sido a causa, conforme revelado nos documentos da marinha dos EUA recentemente tornados públicos. Uma nova pesquisa publicada em outubro na Space Weather, publicação da União Geofísica Americana, concorda com a avaliação feita à época, trazendo também novos detalhes sobre essa tempestade solar em particular, que perturbou mais do que minas navais. Os autores do estudo, liderados por Delores Knipp, da Universidade do Colorado, e Brian Fraser, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas em Boulder, dizem que o evento histórico deve servir como um chamado para ação.

As bombas que explodiram eram minas navais magnéticas, uma arma que data da Primeira Guerra Mundial. Quando um navio passa por cima dela, a mina sente uma mudança na densidade do campo magnético, ativando o artefato. Dias depois do incidente de agosto de 1972, militares dos Estados Unidos começaram a se perguntar se a atividade solar poderia ter sido a responsável pelas detonações inesperadas das minas.

Como o professor acadêmico Brett Carter, do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne, relata no Conversation, cientistas nos anos 1970 já estavam cientes do potencial do Sol de desencadear mudanças no campo magnético — eles só não tinham certeza se esse potencial era forte o bastante para levar minas a detonarem. Como parte de sua investigação, as Forças Armadas dos EUA enviaram oficiais ao Laboratório de Ambiente Espacial da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) perto de Boulder, no Colorado. Depois de consultar cientistas, os investigadores concluíram, com um “alto grau de probabilidade”, que a atividade de tempestade solar era a responsável pela destruição aparentemente espontânea das minas magnéticas.

Enterrados por quase cinco décadas, esses documentos agora públicos foram novamente analisados pela equipe de Knipp e Fraser. De fato, agosto de 1972 passou por um intenso período de atividade solar — um dos mais fortes já registrados.

Entre 2 e 4 de agosto, a região de mancha solar MR 11976 disparou uma série de explosões solares, ejeções de massa coronal e nuvens de partículas carregadas (chamadas de “plasma drivers” nos anos 1970). A ejeção de massa coronal que causou a explosão das minas navais alcançou a Terra em apenas 14,6 horas — um recorde para um evento do tipo (normalmente, leva um dia ou dois para que esses pulsos eletromagnéticos alcancem o campo geomagnético do nosso planeta e produzam tempestades magnéticas). A razão para essa velocidade, segundo os autores, é que dois pulsos anteriores do Sol, em 2 de agosto, limparam o caminho até a Terra, resultando na ejeção de massa “ultrarrápida” em 4 de agosto. Além da detonação das minas, a tempestade solar causou interrupções de energia e nas linhas de telégrafos, como relata Carter.

“Com base nas evidências apresentadas, sugerimos que o evento de 4 de agosto de 1972 tenha sido uma tempestade de nível Carrington”, escrevem os autores no estudo. “O tempo de trânsito para esse evento foi mais curto do que o evento de Carrington.”

Por evento de Carrington, os pesquisadores querem dizer uma poderosa tempestade solar geomagnética que ocorreu em 1859. Ela segue como uma das mais potentes tempestades solares já registradas. Um evento parecido causaria graves interrupções hoje em dia, derrubando satélites, redes elétricas, e, como aponta o novo estudo, tecnologias que sequer sabemos que são vulneráveis.

Para encerrar, os autores do estudo dizem que a tempestade de 1972 vale uma maior examinação e sugerem que outros pesquisadores juntem suas informações de arquivo para aprender mais sobre ela. Sem dúvidas, quanto mais contamos com tecnologias, mais vulneráveis estamos a esses eventos solares extremos. Saber o máximo possível sobre tempestades geomagnéticas pode nos poupar de muita dor de cabeça.

[Space Weather via The Conversation]

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