Ciência

Textos médicos de 2500 anos apontam que Alzheimer é uma doença (ou epidemia) moderna

Raro na antiguidade, cientistas apontam que Alzheimer é mais comum hoje devido ao estilo de vida moderno, sedentário e com poluição
Imagem: Huy Phan/ Unsplash/ Reprodução

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), há 55 milhões de pessoas com demência no mundo, número que cresce em quase 10 milhões de casos a cada ano. Entre suas diversas manifestações, o Alzheimer é a mais recorrente.

Movidos pela curiosidade de entender como a demência se tornou uma quase epidemia, pesquisadores analisaram textos médicos gregos e romanos, que remontam de um período entre dois mil e 2500 anos. 

Como resultado, eles encontraram evidências de que a condição era rara antigamente. Dessa forma, eles acreditam que o ambiente e o estilo de vida modernos são responsáveis pelo aumento de casos de demência ao decorrer dos séculos. 

Em especial, os pesquisadores apontaram o sedentarismo e a exposição à poluição do ar como os principais culpados. Os resultados foram publicados na revista Journal of Alzheimer’s Disease.

Os antigos gregos

Primeiramente, os pesquisadores analisaram escritos médicos antigos de Hipócrates e seus seguidores. Apesar de catalogar doenças de idosos, como por exemplo surdez, problemas digestivos e tontura, não há menções à perda de memória.

“Os antigos gregos tinham muito, muito poucas – mas encontramos – menções a algo que seria como comprometimento cognitivo leve”, disse o autor do estudo, Caleb Finch.

Em geral, os cientistas afirmam que embora poucos, os antigos registros gregos reconhecem que o envelhecimento comumente trazia problemas de memória. No entanto, eles sugerem que a população da época tinha apenas um comprometimento leve da cognição.

Segundo os autores da pesquisa, nada do que é descrito nos documentos se aproxima de uma perda significativa de memória, fala e raciocínio, como a causada pelo Alzheimer e outros tipos de demência.

O Império Romano

Então, quando analisaram escritos de séculos depois, já no período da Roma antiga, algumas menções a sintomas de demência surgiram. Por exemplo, documentos de Cícero indicam que há uma certa insensatez em idosos que não é comum em todas as pessoas com a mesma idade.

Há escritores que também sugerem a dificuldade de pessoas mais velhas aprenderem coisas novas e registros de homens que esqueceram o próprio nome. 

“Quando chegamos aos romanos e descobrimos pelo menos quatro declarações que sugerem casos raros de demência avançada – não podemos dizer se é Alzheimer. Então, houve uma progressão desde os antigos gregos até os romanos”, explica Finch.

Assim, os pesquisadores observaram que há uma relação entre a expansão das cidades modernas e o aumento de casos de declínio cognitivo. Em geral, eles apontam o crescimento dos níveis de poluição e o uso de materiais como chumbo como potenciais gatilhos para problemas de saúde que comprometem a cognição.

Comparação fora dos escritos

Para comparar os achados nos documentos com a vida prática dos humanos, os pesquisadores analisaram dados demográficos de uma comunidade indígena que vive na Amazônia boliviana.

Assim como antigos gregos e romanos, os Tsimane têm um estilo de vida pré-industrial e são muito ativos fisicamente. Como resultado, a comunidade tem taxas extremamente baixas de demência – em geral, apenas 1% deles possuem problemas cognitivos quando idosos.

“Esta é a população de idosos mais bem documentada que tem uma demência mínima, o que indica que o ambiente é um grande determinante no risco de demência. Eles nos fornecem um modelo para fazer essas perguntas”, conclui Finch.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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