Durante a Idade Média, a oferta de pergaminhos no deserto era escassa. Encontrar uma base para novas inscrições era difícil, o que abria brechas para as pessoas pegarem outros manuscritos, apagarem o que estava escrito neles e reutilizarem a tela.
Um escriba fez isso na Palestina há cerca de 1.300 anos. Ele pegou nada menos do que um dos livros dos Evangelhos, que estava inscrito com um texto em siríaco, e o apagou. O documento do Novo Testamento havia sido registrado durante a primeira metade do século 6.
A história, por sorte, não se perdeu. Pesquisadores da Academia Austríaca de Ciências encontraram um palimpsesto, pergaminho cujo texto original foi apagado, e o decodificaram através da fotografia ultravioleta.
O documento é apenas o quarto manuscrito já encontrado que traz a tradução siríaca antiga dos Evangelhos. Os anteriores estão guardados agora na Biblioteca Britânica em Londres, no Reino Unido, e no Mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai. O estudo completo foi publicado na revista científica New Testament Studies.
Segundo os pesquisadores, o texto pode ajudar a ciência a desvendar a fase inicial da história da transmissão textual dos Evangelhos. Por exemplo, enquanto o original grego de Mateus capítulo 12, versículo 1 diz: “Naquele tempo, Jesus passou pelas searas no sábado; e seus discípulos ficaram com fome e começaram a colher espigas e comer”, a tradução siríaca diz: “[…] começou a colher as espigas, esfregá-las nas mãos e comê-las.”
Povos antigos traduziram para o siríaco pelo menos um século antes dos manuscritos gregos mais antigos que sobreviveram ao tempo, incluindo o chamado Codex Sinaiticus. Pesquisadores consideram esse como um dos mais importantes do Novo Testamento.