Eduardo Suplicy revelou hoje na coluna da Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo que recebeu o diagnóstico de Parkinson no final do ano passado. No anúncio, o deputado estadual por São Paulo contou que iniciou o tratamento com Cannabis medicinal em fevereiro.
Segundo ele, a doença lhe causava tremores nas mãos e dores musculares na perna, que melhoraram depois do início do uso da Cannabis. Suplicy, de 82 anos, relatou que utiliza 15 gotas por dia: cinco de manhã, cinco à tarde e cinco à noite.
Quando interrompeu o tratamento para viajar à Coreia, onde a Cannabis é proibida, o deputado se sentiu mais impaciente e percebeu diferença no andar, que estava mais lento. Ao retomar o tratamento, os sintomas melhoraram novamente.
Tratamentos com Cannabis medicinal estão despertando crescente interesse para tratamento de doenças neurológicas, como o Parkinson. Acompanhe as atualizações.
A ação da cannabis medicinal no organismo
Os Canabinoides são um grupo de compostos químicos naturais, encontrados na planta de cannabis. Eles possuem propriedades neuroprotetoras, o que significa que têm ação protetora das células neurológicas.
Em geral, os Canabinoides atuam no sistema endocanabinoide do organismo humano. Ele consiste em uma rede complexa de sinais e receptores envolvidos no controle do movimento, memória, produção de hormônios e funções imunológicas.
Esse sistema envolve pelo menos dois tipos de receptores de canabinoides. Um conjunto está localizado no sistema nervoso central (CB1) e o outro nos órgãos e células do sistema imunológico (CB2).
Uma área do corpo que contém algumas das maiores concentrações de receptores CB1 é a substância negra – a mesma parte afetada pela doença de Parkinson.
A cannabis no tratamento de Parkinson
Em geral, a doença de Parkinson faz com que partes do cérebro se deteriorem ao longo do tempo. Isso acontece porque há perda de células nervosas na substância negra, área do cérebro que é crucial para a produção de dopamina.
Dessa forma, pessoas com a doença vivenciam sintomas como tremores, espasmos musculares, rigidez, dor, ansiedade, depressão, sono ruim e confusão.
Segundo um estudo de 2016, o uso da Cannabis medicinal para ativação dos receptores de canabinoides no sistema nervoso central pode proteger as células reguladores de dopaminas de danos.
Dessa forma, o memo estudo sugere que a Cannabis medicinal pode desempenhar um papel promissor no alívio dos sintomas do Parkinson. Além disso, ela poderia até mesmo atrasar ou interromper a degeneração progressiva da doença.
Vários estudos testaram em grupos reduzidos o uso dos compostos naturais da planta em pacientes com Parkinson, particularmente dos canabinoides THC e CBD.
Em geral, a Cannabis reduziu os tremores, a rigidez muscular e a lentidão de movimento. Também se mostrou eficiente na melhora da dor e do sono.
A Cannabis medicinal no Brasil
No Brasil, a discussão ainda é recente. Em 2016, a Cannabis medicinal entrou na lista de substâncias especiais de controle da portaria do Ministério da Saúde.
Apenas anteriormente, em 2017, a Anvisa aprovou o primeiro registro de um medicamento à base de Cannabis no Brasil. Depois, em 2020, a agência autorizou o primeiro produto de Cannabis.
Isso facilitou a importação de derivados da planta para uso pessoal, como o próprio Suplicy fez. No entanto, o valor para tratamento é alto e a Cannabis medicinal ainda não está disponível pelo SUS.
Por isso, alguns pacientes recorrem à Justiça em busca de autorização para o cultivo com objetivo de extrair o óleo medicinal da planta.
Em 2022, a 6ª Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) aprovou o plantio para uso pessoal da Cannabis medicinal em tratamentos de ansiedade e sequelas do câncer, o que abriu precedentes para outros casos semelhantes.
Além disso, pessoas também conseguem o medicamento por meio de associações terapêuticas que são autorizadas por liminares judiciais.
Nesta terça-feira (19), Suplicy vai participar de uma audiência pública na Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados sobre a proposta que prevê a regulamentação tanto do cultivo quanto da distribuição da Cannabis do Brasil.