Com novas aquisições, Twitter parece querer ser tudo – menos o próprio Twitter
O histórico de decisões um tanto surpreendentes do Twitter continua. Nesta semana, Michael Montano, executivo de engenharia da rede, anunciou que a empresa está adquirindo o aplicativo Breaker, uma plataforma social lançada há quatro anos e com foco na criação de podcasts.
No Breaker, os usuários podem curtir e comentar episódios de podcasts favoritos, além de seguir outros criadores de conteúdo. Pode ser uma fórmula manjada da grande maioria das outras redes sociais, só que com o adicional dos podcasts. Mas nem com todas as vantagens, o serviço alcançou uma popularidade expressiva. Então, o que teria feito o Twitter se interessar por ele?
Em primeiro lugar, é importante notar que não está claro que tipo de tecnologia a equipe do Breaker trará ao Twitter. Leah Culver, cofundadora do site de podcasts, disse estar “animada em ajudar a criar o futuro das conversas de áudio”. E Erik Berlin, também um cofundador da plataforma, afirmou que sua equipe está “inspirada a ir ainda mais longe ao repensar como nos comunicamos uns com os outros”, de maneiras que podem não ser tão centradas no podcast.
Especificamente, Montano deu a entender que a equipe de três pessoas por trás do Breaker se juntaria ao Twitter para ajudar a desenvolver o Spaces, uma função lançada há poucas semanas que permite criar salas de chat de áudio.
O Breaker pode ser a primeira aquisição do Twitter em 2021, mas é apenas a mais recente entre várias outras startups que a companhia vem comprando silenciosamente em sua busca para se tornar tudo, menos… no próprio Twitter.
No início de 2020, por exemplo, a empresa adquiriu uma pequena startup chamada Chroma Labs que, até aquele ponto, havia trabalhado principalmente na criação de diferentes designs de modelos para os Stories no Instagram e Snapchat. Foi um movimento estranho na época, mas que meses depois mostrou a que veio após o lançamento dos Fleets no estilo Stories. Em dezembro, o Twitter comprou outra empresa pouco conhecida chamada Squad, que era uma plataforma que tentava emular o tipo de compartilhamento de tela – parecido com o que você veria em algo como o Discord. Não muito antes disso, também comprou a adtech móvel CrossInstall.
Vale lembrar: nenhuma dessas aquisições teve seu valor revelado.
As tentativas do Twitter de emular outras plataformas podem ser uma aposta da companhia para agarrar alguns dos milhões de dólares destinados à publicidade – uma característica que, convenhamos, nunca foi o forte do Twitter. Olhando para a aquisição da CrossInstall, em particular, outros apontaram que esta é uma empresa mais conhecida por cortejar desenvolvedoras de jogos mobile que colocam anúncios dos games no Snapchat. Esse tipo de empresa tende a veicular o que é conhecido como anúncios de “resposta direta”, ou seja, que tentam obter uma resposta imediata – como um clique – de alguém que está navegando em um site. A questão é que as pessoas geralmente não clicam nos anúncios do Twitter.
Em 2017, o CEO do Twitter, Jack Dorsey, disse aos anunciantes que a empresa dobraria o investimento nesses orçamentos diretos, mas aparentemente não obteve muito sucesso nos anos que se seguiram. Enquanto isso, companhias de mídia passaram a investir seu dinheiro nos Stories de plataformas como Snapchat e Instagram. Diante disso, não é uma surpresa que o Twitter lançou a própria versão desse recurso (no caso os Fleets).
E considerando como o Spotify está aumentando sua plataforma de anúncios para lucrar com publicidade direcionada em cima de ouvintes de podcast, talvez a aquisição do Breaker seja um sinal de que o Twitter também quer uma fatia desse mercado. Pode ser que isso aconteça não por meio de um serviço específico de podcast com a marca do Twitter, mas sim trazendo criadores de conteúdo para o Spaces.