Ucranianos pedem que sites russos “.ru” sejam cortados da internet

Medida drástica não tem precedentes na história da internet. Veja qual foi a resposta ao pedido
Ucranianos pedem que sites russos ".ru" sejam cortados da internet

Nesta semana, ucranianos fizeram um apelo para que o acesso a domínios russos — como o “.ru”, “.рф” e “.su” — fosse desabilitado da internet.

O pedido foi enviado diretamente à ICANN, a entidade descentralizada e sem fins lucrativos responsável pelo gerenciamento e controle do endereçamento de páginas em toda a internet.

O documento foi assinado pelo vice-primeiro-ministro ucraniano, Mykhailo Fedorov, que já havia pedido que a Apple interrompesse a venda de produtos e serviços em solo russo.

Fedorov vai além, e pede que a Rússia perca a capacidade de utilizar endereços IPv4 e IPv6 de seus domínios. Outro pedido é a revogação da validade de certificados SSL, além do desligamento dos servidores DNS na Rússia. Ele apela para que essas medidas sejam adotadas de forma temporária ou mesmo permanente, algo considerado como extremo e sem precedentes na história da internet.

Imagine o caos que seria se todos os sites de instituições financeiras, varejistas e de prestação de serviços com final “.com.br” fossem retirados do ar de uma hora para a outra? Não seria possível acessar portais de notícias, entrar em plataformas de empresas para trabalhar, fazer um PIX ou realizar compras online no Brasil. Pois é exatamente isso que os ucranianos estão pedindo que ocorra.

Desconectando sites russos

O argumento do ucraniano é que a Rússia está utilizando a internet para espalhar desinformação, discursos de ódio e promover a violência. Ele diz ainda que os russos estão escondendo a verdade sobre a guerra na Ucrânia.

Na prática, a medida teria pouco efeito sobre o governo da Rússia, mas teria forte impacto na população civil russa. Com o corte dos domínios, as pessoas não conseguiriam acessar sites e e-mails russos, dentro ou fora da Rússia.

Sem os certificados SSL, os usuários ficariam mais vulneráveis a ataques cibernéticos, comprometendo a segurança de credenciais e senhas para acesso de instituições financeiras.

Por outro lado, a carta da Ucrânia afirma à ICANN que as “medidas solicitadas ajudarão os usuários a buscar informações confiáveis ​​em zonas de domínio alternativo, evitando propaganda e desinformação”.

Consequências da medida

De acordo com especialistas ouvidos pelo site Ars Technica, a ideia é considerada ruim, tanto no curto quanto no longo prazo.

No curto prazo, a medida deixaria os civis russos alheios às notícias e perspectivas internacionais da guerra, ficando dependentes da informação distribuída pelo governo russo. Já no longo prazo, isso geraria um precedente de que a ICANN poderia interferir politicamente no acesso de países em meio a conflitos, o que poderia motivar um movimento “separatista” na internet, em que um país se desconecta voluntariamente dos outros.

Em uma carta obtida pela Rolling Stone, o CEO da ICANN, Göran Marby, recusou o pedido ucraniano, afirmando que eles não podem e não querem tomar tal ação.

“Em nosso papel de coordenador técnico de identificadores exclusivos para a Internet, tomamos medidas para garantir que o funcionamento da Internet não seja politizado e não tenhamos autoridade para aplicar sanções. Essencialmente, a ICANN foi construída para garantir que a Internet funcione, não para que seu papel de coordenação seja usado para impedi-la de funcionar”, afirmou Marby.

Hemerson Brandão

Hemerson Brandão

Hemerson é editor e repórter, escrevendo sobre espaço, tecnologia e, às vezes, sobre outros temas da cultura nerd. Grande entusiasta da astronomia, também é interessado em exploração espacial e fã de Star Trek.

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