Ciência

Uma em cada duas cientistas brasileiras já sofreu assédio sexual, diz pesquisa

Dado foi revelado em relatório da Academia Brasileira de Ciências de 2023 e indica país precisa de iniciativas de combate ao assédio sexual
Imagem: ThisisEngineering RAEng/ Unsplash/ Reprodução

De acordo com relatório da ABC (Academia Brasileira de Ciências), 47% das mulheres cientistas no Brasil já tiveram que lidar com assédio sexual em sua atuação na academia. No total, isso significa que uma a cada duas pesquisadoras enfrentaram a situação em universidades brasileiras.

Em comparação, o mesmo relatório apontou que um a cada dez homens sofreram assédio sexual na academia, o que equivale a 12% dos respondentes da pesquisa. 

“Ainda há uma mensagem cifrada que diz que as mulheres – mesmo fazendo esforços imensos para serem reconhecidas por suas ideias – são um objeto. E isso é uma maneira de desqualificar as mulheres no ambiente acadêmico”, disse à Nature Tânia Mara Campos de Almeida, cientista social que pesquisa o tema.

O relatório “Perfil do Cientista Brasileiro Início e Meio de Carreira” foi publicado em setembro de 2023 e, recentemente, a revista Nature divulgou os resultados junto a depoimentos de mulheres que vivenciaram o problema.

Entenda a pesquisa

O estudo tinha como objetivo compreender o perfil dos cientistas brasileiros. Para isso, registrou respostas de mais de quatro mil pesquisadores que obtiveram seus doutorados entre 2006 e 2021.

As perguntas abrangiam contexto de financiamento, carga de trabalho, inclusão, oportunidades internacionais e disparidades de gênero. A partir dos resultados, também gerou informações sobre as condições de pesquisa no Brasil.

Por exemplo, o relatório concluiu que três quartos dos cientistas em início de carreira têm dificuldades para obter financiamento. Além disso, três em cada quatro pesquisadores não têm tempo suficiente para escrever e publicar artigos, uma vez que outras funções administrativas da carreira acadêmica já sobrecarregam a rotina.

A busca por oportunidades de pesquisa no exterior também se refletiu nas respostas: 17% dos respondentes tentaram se mudar do Brasil nos dois anos anteriores.

Por fim, 39% das mulheres indicaram grande impacto da chegada dos filhos em seu projeto de pesquisa, enquanto 16% entre homens também sentiram que a parentalidade teve implicações em sua carreira acadêmica.

Combate ao assédio sexual na academia

A ABC possui um Código de Ética, no qual condena qualquer tipo de assédio na academia, inclusive o sexual. No entanto, cabe às universidades monitorar, investigar, punir responsáveis e acolher as vítimas, dando suporte e segurança para quem faz uma denúncia.

Nos últimos anos, muitas delas criaram comissões permanentes para a equidade de gênero junto a políticas, canais de reclamação e campanhas de conscientização sobre o tema. Mas, como cada universidade enfrenta o problema de sua maneira, há uma lacuna nos dados sobre assédio sexual na academia, o que dificulta ainda mais a ação combativa.

Segundo disse à Nature a líder estratégica de combate à violência contra as mulheres no Ministério da Mulher do Brasil, Denise Dau, sua secretaria está colaborando com o Ministério da Educação para combater o assédio sexual na academia.

“As universidades têm sua autonomia, mas estamos conversando com para criar comitês de prevenção ao assédio e ética, que várias universidades públicas já têm. Criamos um grupo de trabalho para discutir as melhores maneiras de abordar a questão”, disse.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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