Ciência

Vacina BCG: imunizante deve ser aplicado nas primeiras horas de vida e é melhor estratégia para proteger crianças das formas graves da tuberculose

Aumento de casos da doença entre menores de 15 anos é tendência desde 2020; cobertura vacinal da BCG flutuou cerca de 30% nos últimos anos e segue abaixo do indicado
Imagem: Unsplash/Reprodução

Reportagem: Natasha Pinelli/Instituto Butantan

É logo ao nascer, se possível ainda nas primeiras 12 horas de vida, que os bebês devem receber a vacina BCG. Conhecida por deixar aquela famosa “marquinha” na parte superior do braço direito, ela protege o organismo da Mycobacterium tuberculosis, a bactéria causadora da tuberculose.

O objetivo da vacinação precoce, considerada até hoje a melhor forma de prevenir as formas graves da doença entre os pequenos, é justamente garantir que o sistema imunológico da criança, ainda imaturo, aprenda a se defender do bacilo que causa a enfermidade. Como a tuberculose é endêmica no Brasil, com alta incidência em todo o território nacional, o risco de contato com o microrganismo desde cedo é bastante alto.

De acordo com o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, desde 2020 a incidência da doença tem aumentado entre os menores de 15 anos no país. Em 2023, o público representou quase 4% dos mais de 80 mil casos registrados – sendo a maior proporção entre crianças de 0 a 10 anos.

A irregularidade da cobertura vacinal da BCG, que flutuou em mais de 30% nos últimos anos, pode ter contribuído para a construção desse cenário preocupante. Apesar de ter acusado recuperação em 2022, chegando ao índice de 90% preconizado pelo órgão federal, a média caiu para 61,4% em 2023 – segundo a pasta, a unificação dos diferentes sistemas utilizados para registrar as vacinas aplicadas pode ter impactado os números. Até junho deste ano, a cobertura do imunizante girava em torno dos 75%, segundo painel do ministério.

Celebrado no último 1º de julho, o Dia da Vacina BCG é uma forma de resgatar a importância do imunizante. “Estamos vendo muitas pessoas dizerem que ninguém mais pega tuberculose e que, por isso, não vão vacinar. Mas a ciência mostra o contrário: quanto mais nossas crianças estiverem vacinadas, menores são as chances de pegarem a doença”, aponta a pesquisadora científica do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Butantan Luciana Leite, que lidera uma vertente de estudos em prol da melhoria do imunizante.

As crianças que porventura não receberam a BCG na maternidade – a vacina não é aplicada em bebês que nasceram com peso inferior a dois quilos – devem ter a caderneta atualizada logo na primeira visita ao posto de saúde ou, o mais tardar, até os 4 anos e 11 meses, conforme a preconização do Ministério da Saúde.

Transmissão, sintomas e tratamento

A contaminação pela bactéria da tuberculose acontece, basicamente, pela dispersão no ambiente de partículas aerossóis, produzidas pela tosse, fala ou espirro de uma pessoa com a doença ativa. Calcula-se que um paciente infectado possa transmitir a doença para até 15 outros indivíduos.

Febre vespertina, sudorese noturna e emagrecimento são alguns dos indícios da tuberculose, mas o principal sintoma é mesmo a tosse persistente, que pode ser seca ou vir acompanhada de catarro. Caso a tosse dure por mais de três semanas, a recomendação é buscar o serviço de saúde mais próximo para que o quadro seja investigado.

O diagnóstico se dá, principalmente, por testes laboratoriais, que são feitos de forma complementar a uma avaliação clínica detalhada, além de radiografia do tórax. Já o tratamento da tuberculose é longo: dura no mínimo seis meses e inclui o uso de quatro medicamentos diferentes. Ainda nas primeiras semanas de cuidados o paciente tende a se sentir bem melhor, mas é imprescindível seguir à risca todos os protocolos terapêuticos para garantir o sucesso do tratamento.

Brasil livre da tuberculose

Apesar de ser uma doença antiga (e inclusive bastante representada nos versos de poetas clássicos da literatura brasileira, como Castro Alves e Manuel Bandeira), mais de 7 milhões de pessoas ainda adoecem anualmente por conta da tuberculose em todo o mundo – dessas, mais de um milhão vão a óbito, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Para reduzir esses números, desde 2014 a entidade tem colocado em prática uma estratégia global para o enfrentamento do problema. Por ser um dos países com maior incidência da doença, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir o coeficiente de tuberculose para menos de 10 casos por 100 mil habitantes e limitar o número de mortes para menos de 230 ao ano. Dentre as estratégias elencadas no Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose destacam-se a expansão da rede de diagnósticos, a implementação de novas tecnologias de tratamento e prevenção e a consolidação de uma cobertura vacinal alta e homogênea.

“Um ponto que temos discutido bastante é que por mais que a BCG seja muito eficaz entre as crianças, ela não desempenha tão bem entre os adultos. Por isso, ainda não existe uma dose de reforço. No momento, estamos procurando algo que confira uma resposta imune mais apropriada para esse público”, observa Luciana Leite, que participa de alguns dos fóruns promovidos pela iniciativa. Mas a pesquisadora é enfática: “Até o momento, a vacina BCG segue sendo a melhor estratégia que temos disponível para proteger a todos contra a tuberculose.”

Referências:

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Tuberculose

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Vacina BCG

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