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Vaporizadores eletrônicos podem prejudicar a capacidade do corpo de combater a gripe, diz pesquisa

Pesquisa sugere que vaporizadores e cigarros eletrônicos também podem prejudicar o sistema imunológico, dificultando o combate a gripe e outras infecções.

Crédito: Getty Images

Se você fuma regularmente, sabe que resfriados e gripes podem atingi-lo com mais força do que um não fumante. Mas as pessoas que utilizam vaporizadores podem estar com o mesmo tipo de problema, de acordo com uma pesquisa recente (e muito preliminar) publicada na segunda-feira (20). Ela sugere que os cigarros eletrônicos podem enfraquecer a capacidade do corpo de combater o vírus da gripe, embora possivelmente de uma maneira diferente do cigarro convencional.

Pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill realizaram um estudo com três grupos de voluntários (47 no total): não fumantes, fumantes regulares e usuários regulares de cigarros eletrônicos e vaporizadores.

Todos os três grupos receberam uma forma enfraquecida do vírus da gripe — exatamente o mesmo tipo de vírus usado na vacina de spray nasal contra a gripe. Nesta forma enfraquecida, o vírus não pode nos deixar doentes, mas o sistema imunológico do corpo ainda responde a ele como um típico invasor viral. Antes e depois da dose do vírus, foram coletadas amostras de sangue dos voluntários, além de secreções da garganta e do nariz.

Como esperado, os sistemas imunológicos dos fumantes tiveram pior desempenho em organizar suas defesas contra a gripe em comparação com os não fumantes. Em fumantes, foram detectados níveis mais elevados de RNA mensageiro, indicando que o vírus foi capaz de se replicar. Essa mudança não foi observada entre os usuários de cigarros eletrônicos, mas outras foram.

Nesses usuários, genes e proteínas envolvidos no sistema imune inato — a defesa imediata de primeira linha contra a infecção — e a resposta antiviral em geral foram suprimidos. Outra resposta à gripe, a produção de anticorpos IgA especificamente adaptados à gripe, foi fraca em pessoas que também usavam cigarros eletrônicos.

Mais adiante, especularam os autores, essas diferenças também poderiam ter afetado a resposta de longo prazo do corpo ao vírus, conhecido como imunidade adaptativa (a parte do sistema imunológico que “lembra” vírus e bactérias que encontrou antes).

De acordo com a autora Meghan Rebuli, pesquisadora de pós-doutorado na Universidade da Carolina do Norte, no Centro de Medicina Ambiental, Asma e Biologia Pulmonar de Chapel Hill, essas mudanças poderiam afetar mais do que apenas a capacidade do organismo de combater a gripe.

“Qualquer desregulação da nossa resposta imune a patógenos pode potencialmente aumentar nossa suscetibilidade a infecções virais e até mesmo a eficácia das vacinas”, disse Rebuli ao Gizmodo. “Assim, embora nosso estudo tenha focado na gripe, ele também poderia ser aplicável a outros tipos de infecção respiratória que ocorrem durante todo o ano.”

Existem algumas grandes advertências para os resultados do estudo, no entanto. O principal deles é que os pesquisadores ainda não publicaram seu trabalho em um periódico revisado por outros especialistas. Em vez disso, eles vão apresentar a pesquisa na conferência anual da American Thoracic Society nesta semana.

Isso não significa que o estudo seja irrelevante, nem que os estudos revisados ​​por outros pesquisadores sejam sempre totalmente confiáveis. Significa apenas que temos que olhar para os resultados com um cuidado adicional. Rebuli afirmou, no entanto, que uma versão do estudo revisada por outros pesquisadores deve ser lançada no próximo mês.

Outras pesquisas sugeriram uma ligação entre um sistema imunológico mais fraco e o uso de cigarros eletrônicos, incluindo um estudo no ano passado mostrando que utilizar vaporizadores pode prejudicar diretamente certas respostas imunológicas e aumentar a inflamação no tecido pulmonar — pelo menos no laboratório.

A questão iminente, como acontece com diversos estudos sobre vaporizadores, é se os efeitos implícitos no corpo representam um dano significativo.

Organizações como a Public Health England concluíram que os cigarros eletrônicos, se não completamente inofensivos, são muito menos tóxicos do que os cigarros de tabaco tradicionais e podem ajudar os fumantes a abandonarem o vício.

Portanto, mesmo que utilizar vaporizadores torne seu sistema imunológico um pouco pior durante a temporada de gripe, resta saber se seus efeitos são insignificantes e/ou quase tão ruins quanto o do cigarro.

Rebuli disse que como eles observaram mais mudanças gerais no sistema imunológico em usuários de cigarros eletrônicos do que em fumantes, existe a possibilidade de que os vaporizadores prejudiquem ainda mais a nossa capacidade de combater essas infecções do que o cigarro tradicional. Mas ainda é preciso realizar pesquisas para confirmar por que isso acontece. O principal argumento de seu trabalho agora, acrescentou, é a evidência de que vaporizadores afetam o sistema imunológico de maneiras diferentes do que o tabaco.

De fato, alguns especialistas em saúde pública argumentam que ainda há muitas questões que não sabemos sobre os cigarros eletrônicos e seus potenciais riscos à saúde, especialmente a longo prazo.

Eles (e o FDA – Food and Drug Administration) também apontaram que o aumento drástico do uso de vaporizadores por adolescente definitivamente não é uma coisa boa (e pode até criar novos fumantes). E são os jovens em geral, disse Rebuli, que podem ter mais com o que se preocupar em relação aos efeitos do vaporizador no sistema imunológico.

“Eu sei, como pesquisadora, que os cigarros eletrônicos provavelmente auxiliam  na redução de danos do tabaco. Mas eu acho que para adolescentes e jovens adultos, o aumento do risco de infecções deveria ser visto como um impedimento para o seu uso, principalmente para alguém cujo sistema imunológico e cérebro ainda estão em desenvolvimento”, disse ela. “Mas nossa pesquisa não fala diretamente sobre esse ângulo, então teremos que esperar pra ver.”

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