É impressionante: cabos submarinos ultrafinos de até 3,5 cm de diâmetro são os responsáveis por conectar o mundo inteiro, de um canto a outro, em milissegundos. São milhões de quilômetros de fios que atravessam o planeta embaixo do mar – provavelmente um dos avanços tecnológicos que mais revolucionaram a vida do ser humano.
Os primeiros cabos submarinos que se tem notícia são da década de 1850, poucos anos depois da invenção do telégrafo, em 1830. Mas é claro que a tecnologia dessa época não chegava nem perto da que temos hoje: os cabos eram bastante frágeis e rompiam com facilidade.
Hoje os cabos submarinos são extremamente resistentes, uma vez que atravessam os oceanos (literalmente!) e precisam sobreviver aos infinitos perigos do mundo do mar, como ataques de tubarão, pesca, navios e terremotos. Assim, quanto mais profundas são as águas onde estarão, mais resistente será o revestimento.
Isso porque o objetivo principal é proteger o que existe dentro do cabo: os fios de fibra óptica. São eles que emitirão os sinais de luz de uma ponta à outra, possibilitando a transmissão de informações pelo mundo.
Espessura de fio de cabelo
Essas fibras são filamentos extremamente finos, da espessura de um fio de cabelo. Elas ficam envoltas em diversas camadas de plástico, metais e outros materiais, como vaselina, cobre e aço. E, junto com a fibra óptica, existe outro fio, desta vez responsável por transmitir energia elétrica para os amplificadores que estão no fundo do mar.
Existe um amplificador (ou regenerador) a cada 100 km nos oceanos. São eles que ampliam e repassam o sinal para o trecho seguinte, para que o dado não se perca ou “pare” no meio do oceano.
Juntos, os fios protegidos pelos cabos podem transmitir até 224 Tbps (terabits por segundo) de informações. Na comparação, um único terabyte é capaz de armazenar até 6,5 milhões de páginas de documentos ou 250 mil fotos feitas por uma câmera de 12MP. Ou seja, 224 Tbps são trilhões de informações indo de um lado para o outro a cada segundo.
As tecnologias atuais desenvolvem cabos que duram, no mínimo, 25 anos. “Mas a maioria deles são trocados antes disso por razões econômicas, substituídos por cabos de nova geração com mais capacidade e tecnologia”, disse Wagner Bojlesen, diretor da Cirion, empresa especializada em telecomunicações.
Como esses cabos chegam no mar?
Existem empresas especializadas na instalação e manutenção desses equipamentos. Elas usam navios robustos, de quase 145 metros de comprimento e 8,5 metros de profundidade. Não é por acaso: eles precisam ter capacidade para transportar 8.500 toneladas de cabos, além de barcos menores auxiliares e robôs.
“Mas não pense que é só chegar em um determinado ponto e jogar o cabo”, explicou. “Antes disso, as empresas trabalham em amplos estudos de rotas de navios, onde eles ancoram, topografia do solo do fundo mar e inúmeros outros atributos para garantir a segurança do investimento. Sem falar nas aprovações com os respectivos países”.
Hoje, a rede global de cabos submarinos reúne 437 sistemas ativos, incluindo 1,35 milhão de quilômetros de cabos de fibra óptica. Cerca de 100 mil km de novas estruturas saem a cada ano. O site Submarine Cable Map mostra onde estão esses cabos no mundo.
A estimativa é que os investimentos no setor de cabos submarinos chegue a US$ 10 bilhões (mais de R$ 50 bilhões, no câmbio atual) entre 2022 e 2024. Os principais investidores são empresas de serviços em nuvem e companhias de streaming, disse Bojlesen.
O Brasil tem quatro pontos que recebem conexões de cabos submarinos. Eles ficam em Fortaleza (CE), Santos (SP), Salvador (BA) e Rio de Janeiro (RJ). Neste sentido, o país é visionário. “O primeiro cabo no fundo do mar do Brasil foi inaugurado por D. Pedro II, em 1874, e ligava Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Belém. Mais recentemente, em 2021, foi lançado o primeiro cabo submarino ligando a América do Sul à Europa”, pontuou.