Suplemento de vitamina D não ajuda em casos graves e moderados de Covid-19

Estudo randomizado com pacientes hospitalizados não encontra diferença entre tomar uma grande dose de vitamina D e tomar placebo.

Os resultados de um novo ensaio clínico sugerem que suplementos de vitamina D não ajudam as pessoas hospitalizadas com casos graves e moderados de Covid-19. Anteriormente, um artigo controverso e preliminar que sugeria que a vitamina D oferecia benefícios, mas ele foi removido pela Lancet devido a “preocupações” com o desenho da pesquisa.

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A vitamina D emergiu como uma nova panaceia Covid-19 para algumas pessoas nas redes sociais, substituindo outros remédios muito falados anteriormente como a hidroxicloroquina. Existem muitas evidências de que muitas pessoas poderiam usar mais vitamina D diariamente em suas vidas, especialmente durante o inverno. A deficiência desta vitamina, que pode ser ingerida como suplemento ou sintetizada na pele sob forte luz solar, certamente pode afetar a saúde geral das pessoas. Mas as evidências de que a vitamina D desempenha um fator importante na gravidade de Covid-19 ou de que sua suplementação poderia ajudar a tratar os casos em andamento são muito menos sólidas.

No final de janeiro, um estudo publicado no servidor de pré-impressão SSRN — administrado pelo periódico The Lancet — parecia mudar esse quadro. Os autores de um estudo na Espanha afirmaram ter descoberto que o calcifediol (um subproduto da vitamina D) reduziu em 60% o risco de mortalidade em pacientes hospitalizados com Covid-19 em comparação com pessoas que receberam tratamento padrão. Este era um número bastante alto. Em comparação, descobriu-se recentemente que o medicamento para artrite tocilizumabe conseguiu reduzir em 4% a mortalidade em pacientes graves com Covid-19 em um grande estudo no Reino Unido — resultados modestos que são promissores o suficiente para provavelmente consagrá-lo como um tratamento padrão para casos críticos, junto com esteroides .

Mas não demorou muito para que cientistas externos começassem a levantar questões com esses resultados. Por exemplo, o desenho do estudo foi descrito como um estudo randomizado e observacional pelos autores em diferentes pontos do artigo — duas coisas muito diferentes. Os ensaios clínicos randomizados, nos quais algumas pessoas são designadas aleatoriamente para receber um tratamento, são considerados o padrão ouro de evidência clínica porque podem confirmar melhor que um medicamento está tendo um efeito benéfico real sobre uma doença. Estudos observacionais, nos quais os cientistas simplesmente observam as diferenças entre grupos de pessoas que estão recebendo cuidados diferentes, são importantes na medicina, mas suas conclusões geralmente são vistas com mais cautela, porque é mais difícil saber se um determinado tratamento realmente causou o efeito. Outras críticas ao artigo incluíram a falta de dados relevantes sobre os pacientes (como os níveis basais de vitamina D de alguns pacientes), bem como possíveis falhas estatísticas. E, claro, as descobertas ainda seriam preliminares, não tendo passado pelo processo de revisão por pares ainda.

Na sexta-feira, a Lancet removeu o artigo de seu servidor de pré-impressão, citando “preocupações sobre a descrição da pesquisa neste artigo”. Também anunciou que iniciaria uma investigação sobre o estudo.

Estudo brasileiro não encontra benefícios

Enquanto isso, os resultados do que parece ser um genuíno ensaio randomizado de vitamina D para Covid-19 foram publicados na quarta-feira no Journal of American Medical Association — o maior estudo desse tipo até hoje. Pesquisadores no Brasil randomizaram 240 pessoas hospitalizadas com Covid-19 moderado a grave. Um grupo tomou uma grande dose única de vitamina D (200.000 UI, em comparação com a dose diária de 600-800 UI recomendada para o adulto médio), e outro grupo, um placebo.

No final, eles não encontraram nenhuma diferença no tempo de internação hospitalar entre as pessoas que tomaram vitamina D e as que não tomaram. Também não houve diferença na taxa de mortalidade ou outras métricas importantes, como a probabilidade de precisar de ventilação invasiva. E embora o tratamento parecesse seguro, um paciente teve um episódio de vômito provavelmente relacionado a ele.

“Os resultados não dão embasamento para o uso de altas doses de vitamina D3 no tratamento de Covid-19 moderado a grave”, escreveram os autores.

O estudo publicado no JAMA ainda é apenas um ensaio, e nada deve ser decidido na medicina com base em um único estudo. E, novamente, muitas pessoas não estão recebendo a quantidade de vitamina D que precisam, então não há nada de errado em verificar seus níveis com a ajuda de um médico. Mas, durante a pandemia, incontáveis outros tratamentos potenciais apareceram e foram logo descartados quando foi comprovada sua baixa eficácia.

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Em geral, é difícil testar o efeito específico da ingestão de vitamina D em qualquer condição, porque muitas vezes é um indicador de outras coisas. Alguém com altos níveis de vitamina D também pode ser alguém que se exercita ao ar livre com frequência, por exemplo, e pode ser o exercício ou sua boa saúde geral que está ajudando a proteger a saúde e não a substância em si.

Se a vitamina D tem um benefício para Covid-19, é provável que seja modesto, na melhor das hipóteses. E a falta de entusiasmo com esse tratamento não é uma evidência de uma grande conspiração para minimizar a vitamina D e empurrar medicamentos mais caros, como alguns sugeriram. Afinal, o medicamento mais eficaz e capaz de salvar vidas até agora é a dexametasona, um esteroide genérico que pode custar menos de US$ 10 por tratamento.

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