Você conhece os “tipos” de fake news?
O que chama a sua atenção para uma notícia para você achar que se trata de “fake news”? Se você estiver na média, é algo contra seu político de estimação ou a favor de um opositor. Mas o que é escrito? Desinformação é só sobre mentiras? Quais os modos mais comuns para se começar uma história da carochinha? Quais técnicas eles usam? É o que vamos falar aqui hoje.
Muito provavelmente você já tropeçou num desses casos (e lamentavelmente tem uma boa chance de que você faça isso em alguma medida). Os participantes de uma rede de WhatsApp, por exemplo, recebem a informação através de alguém da família (um canal clássico da lorota) e passam adiante sem checar, quando confirma os próprios pontos de vista (se for contra, não). Seguem as estruturas mais comuns em desinformação:
Alarmismo: baseia-se em palavras emocionalmente negativas como medo ou indignação para aumentar o potencial viral do conteúdo. Normalmente esse tipo de desinformação ocorre depois de um evento de conhecimento geral, mas sobre o qual se tem pouca informação, como por exemplo, a pandemia. Curiosa e lamentavelmente, o alarmismo pode funcionar “ao contrário”, na “negação” de um problema, como durante a pandemia com os Bolsominions dizendo que o vírus era uma mentira da esquerda.
Exemplos que você conhece ou deveria conhecer: sem dúvida, o ex-presidente Jair Bolsonaro é um ícone na perpetuação da ignorância (não só na pandemia).
Incoerência: a armadilha aqui é de se falar de vários argumentos que logicamente não podem ser todos verdadeiros ao mesmo tempo. Aqui, ocorrem situações nas quais uma profunda vergonha alheia vem para você só de olhar, e não raro, a pessoa em questão simplesmente não consegue entender a asneira que está falando. Dois exemplos que eu adoro: pessoas dizendo que a Covid-19 era uma criação de Bill Gates, fundador da Microsoft, “para ganhar dinheiro” (Gates tem uma fortuna pessoal de R$648 bilhões em março de 2024), ou o presidente Lula em campanha dizendo que ia proteger a Amazônia ao mesmo tempo que falava aos eleitores que ele “iam poder comer uma picanha de vez em quando” (ignorando que desmatamento e produção de carne andam de mãos dadas).
Exemplo que você conhece ou deveria conhecer: o ex- e lamentavelmente futuro presidente americano, Donald Trump, quando ele critica a elite e elogia o mercado de ações ao mesmo tempo.
Falso Dilema: apresentação um número limitado de escolhas como mutuamente exclusivas, conhecido como a “falácia do ou-ou”. Nem precisa ser de uma inverdade – basta que seja uma escolha que não precisa ser feita. O falso dilema normalmente envolve algo que mexe com a emoção das pessoas, como o argumento de que se chegarem mais imigrantes num país, as aposentadorias diminuirão.
Exemplos que você conhece ou deveria conhecer: o ex-Fenômeno Ronaldo, dizendo que se gasta muito dinheiro com saúde e segurança quando é preciso fazer estádios para a Copa do Mundo.
Bode Expiatório: Isolando uma pessoa ou grupo para receber a culpa injustificada por um problema, frequentemente visto ao longo da história e em eventos atuais. Esse tipo é um método que vem desde tempos bíblicos, e ele conta com a insegurança generalizada por um problema sem aparente solução. O propagador (normalmente um populista) foca num indivíduo ou grupo externo, diferente de seus seguidores, e diz que esse elemento externo é quem está causando o problema (e a solução passa por se livrar dele), como o argumento de que imigrantes trazem crime ou que seguidores de outra religião deixam Deus “furioso”.
Exemplos que você conhece ou deveria conhecer: basicamente qualquer político populista em tempo de polarização, como Pol Pot (Camboja) e Slobodan Milošević (Sérvia).
Selecionar Fatos a Dedo: uso seletivo de fatos ou informações históricas para gerar entusiasmo por algo improvável. A definição disso se chama descontextualização. Você pega um fato (que não precisa ser falso) como prova de alguma coisa, e “esquece” de dizer o resto do quadro em volta dele. Por exemplo: um determinado político assume o governo de um país, faz a economia crescer “de repente”, cria dois milhões e meio de empregos em seu primeiro ano de governo, para ser criticado por uma minoria que precisa ser expulsa (se você curtiu o político em questão, parabéns, você acaba de se tornar um apoiador de Adolf Hitler). O que você não diz é que esse mesmo cara levou 40 milhões de pessoas à morte. Exemplos que você conhece ou deveria conhecer: todos partidários e apoiadores de ditaduras.
Ataques Pessoais (Ad Hominem): ataque à pessoa que faz um argumento em vez de abordar o próprio argumento, com o objetivo de desviar o foco do assunto em questão. Um clássico da desinformação que não tem hora para acontecer. É, sem dúvida, o maior agravante de polarização porque foca num ataque pessoal com intuito, quase sempre, de ganho próprio. Não é só usado por ditadores radicais, mas por uma vasta gama de políticos que contam com um grande número de seguidores mesmo em democracias. Em democracias, esses ataques se intensificam muito em campanhas políticas, mas uma vez apuradas as urnas, o opositor que era a própria encarnação de Satanás até meia hora atrás, vira um potencial aliado. Exemplos que você conhece ou deveria conhecer: o atual presidente, Lula, cujos “inimigos” pré-Bolsonarianos, o PSDB (que ele comparou ao nazismo em 2014) ou Marina Silva eram tratados a pontapés sem nenhuma distinção em relação a radicais golpistas.
“Fake news”, ao contrário do que se pensa, não são somente mentiras ou conteúdo de ódio. Estudos mostram que políticos populistas são agentes de polarização (e se você pensar em Lula e Bolsonaro, não tem como negar). A tensão gerada pela polarização, por sua vez, é que, após passar de um determinado limite, leva os opositores à uma espécie de cegueira, onde, literalmente, eles/elas passam a amplificar qualquer informação que confirme seus ódios, medos e preconceitos, ignorando qualquer resquício de verdade. O ódio da próxima eleição está sendo produzido agora.