X/Twitter liberado no Brasil: saiba como aconteceu o drible no STF
Elon Musk aparenta ter zero talento para o futebol, mas o dono do X/Twitter, conseguiu evocar as lendas do futebol, realizando um drible impressionante no STF (Supremo Tribunal Federal), com o app sendo liberado no Brasil — mesmo sob bloqueio judicial.
Na manhã desta quarta-feira (18), muitos usuários relataram a volta do funcionamento do aplicativo do Twitter, sobretudo no Android. No entanto, o app continua bloqueado no Brasil.
Como o X/Twitter foi liberado no Brasil?
Enquanto muita gente cogitava que o pagamento das multas impostas a Elon Musk era o pivô do desbloqueio (ou o contato de Elon Musk com uma advogada brasileira, nesta semana), o X/Twitter foi liberado no Brasil de outra forma.
Aliás, o contato com a advogada pode ter alguma relação, mas a verdade é que o drible ocorreu através de uma atualização no app do X/Twitter que dificultou o bloqueio da rede no Brasil. A atualização, que implementou uma alteração estratégica no app para celulares, usou um serviço de “proxy reverso” da empresa Cloudflare.
Na App Store, a nota de atualização afirma “que foram realizadas melhorias e correção de bugs” no app do X/Twitter.
No entanto, conforme explica a Abrint (Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações), a atualização alterou a estrutura do app, que passou a usar “endereços de IP vinculados ao serviço Cloudflare”, furando assim o bloqueio determinado pelo STF e colocado em prática pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
Cloudflare
Cloudflare é uma empresa norte-americana que fornece serviços de rede, como cibersegurança online e proxy reverso em nuvem. O drible que o X/Twitter realizou para liberar o Twitter no Brasil foi exatamente o proxy reverso.
Continuando na analogia com o futebol, o proxy reverso fica tabelando a “bola” entre os usuários e os servidores de internet. O proxy reverso recebe as solicitações dos usuários e as encaminha para o servidor correto, mas oculta a identidade e localização do servidor real.
No caso do X, o uso do Cloudflare “permitiu uma resistência mais eficiente contra os bloqueios”, conforme diz a Abrint. Essa resistência ocorre porque as solicitações passam por IPs em constante alteração.
Como o bloqueio do X no Brasil é baseado em endereços de IPs, a atualização não apenas driblou a determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes, mas também dificultou o bloqueio da rede social por parte dos provedores.
A Anatel anunciou que investiga o que houve com o X e a Abrint afirmou que acompanha de perto as análises do órgão.
Contudo, a verdade é que o X/Twitter deixou o app liberado mesmo sob bloqueio. E, bloquear o Cloudflare para suspender o X/Twitter no país geraria problemas para outros serviços.
Drible eficiente
Para entender o quão difícil as coisas ficaram após a atualização do aplicativo, o Giz Brasil conversou com Lucas Galvão, especialista em Cibersegurança e CEO da Open Cybersecurity.
Segundo Galvão, o bloqueio de uma plataforma na internet é uma tarefa difícil, mesmo com a fiscalização de órgãos como a Anatel. Galvão comenta que, mesmo antes da atualização, usuários já conseguiam usar o X/Twitter usando VPNs, “revelando falhas difíceis de corrigir”.
“A internet foi construída para resistir a interrupções, tornando-se adaptativa e resistente a controles centralizados”, afirma Galvão.
Nesse sentido, a Abrint concorda com o especialista. Bloquear o Cloudflare não iria bloquear apenas o X/Twitter. Bloquear o Cloudflare impactaria outros serviços, afetando mais de metade da internet.
Além disso, existe o problema legal no bloqueio do X e em toda a internet, segundo Galvão.
“O STF, ao determinar o bloqueio, enfrenta o desafio de impor ordem em um espaço onde as regras são maleáveis. As redes sociais como o X são hoje espaços de manifestação de direitos fundamentais, como a liberdade de expressão e o acesso à informação, garantidos pela Constituição e pelo Marco Civil da Internet. No entanto, o Estado busca equilibrar esses direitos com a manutenção da ordem pública.”
Segundo Galvão, a decisão de multar usuários que usam VPNs é uma questão delicada. “A aplicação dessas sanções exige uma vigilância que pode entrar em conflito com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e a privacidade dos usuários”, diz o especialista.
Para Galvão, a situação que o Brasil enfrenta mostra que é preciso encontrar um equilíbrio entre o controle estatal e os direitos individuais no mundo digital.