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YouTube diz que não é para crianças, mas um novo estudo sugere o contrário

Estudo feito pela Pew Research Center revelou que vídeos que mostravam crianças tinham três vezes mais visualizações do que outros gêneros.

Crédito: Getty

Entrar em uma toca de coelho do YouTube é um jogo perigoso – mesmo que você evite com sucesso a sua fossa de conteúdo repulsivo e ilegal, você acabará caindo em outra fossa. E, o mais preocupante é que, de acordo com a nova análise do Pew Research Center, uma grande parte do conteúdo mais popular da plataforma gira em torno das crianças.

O estudo, “Uma semana na vida dos canais populares do YouTube”, explorou o conteúdo do YouTube postado por canais com alto número de assinantes na primeira semana de 2019. Além da realidade assustadora de quanto conteúdo esses canais estão produzindo, a análise também revelou que conteúdo infantil, conteúdo com crianças e conteúdo sobre videogames foram os mais vistos entre os vídeos analisados.

A Pew definiu um canal popular no YouTube como aqueles que tinham pelo menos 250 mil inscritos e identificou um total de 43.770 que foram analisados ​​no estudo. De acordo com a Pew, eles usaram “sua própria técnica de mapeamento personalizado” para organizar esses canais. Os resultados foram robustos, mas alguns particularmente se destacam para ilustrar o estado das preferências do público do YouTube e do conteúdo mais popular da plataforma.

Na primeira semana deste ano, apenas 2% dos vídeos postados pelos canais com alto número de inscritos incluíam uma criança ou crianças menores de 13 anos, mas esses vídeos tiveram, em média, três vezes mais visualizações do que outros gêneros, segundo a Pew. Em termos contextuais, a Pew descobriu que os vídeos com crianças tinham uma média de 297.574 visualizações em comparação com vídeos sem crianças com uma média de 97.081 visualizações. E os canais que postaram pelo menos um vídeo com uma criança tiveram uma média de 1,8 milhão de assinantes em comparação com aqueles sem um vídeo de uma criança, que teve uma média de 1,2 milhão de inscritos, de acordo com a análise.

Além disso, a maioria dos vídeos que incluiu crianças não foi criada especificamente para um público jovem, observa o estudo, estimando que apenas 21% desses vídeos foram criados exclusivamente para crianças. Dos vídeos que foram feitos para o público infantil, 13% apresentavam jovens que parecia ser menor de 13 anos. Os termos de serviço do YouTube afirmam que os usuários devem ter 13 anos ou mais para usar a plataforma e lançaram um aplicativo separado especificamente para crianças.

Ainda assim, o estudo de Pew descobriu que vídeos criados especificamente para crianças e que apresentam alguém com menos de 13 anos “eram uma das categorias de vídeo mais populares identificadas na análise” e tinham em média quatro vezes mais visualizações do que vídeos que não continham uma criança.

É irônico, talvez, que uma plataforma em meio a tanta controvérsia sobre sua relação com as crianças seja tão centrada nesse público. A Federal Trade Commission (FTC) lançou recentemente uma investigação sobre a forma como a empresa lida com as informações pessoais das crianças, depois que os grupos de saúde e privacidade infantil expressaram suas preocupações sobre supostos problemas de privacidade. O YouTube também tem sido criticado por recomendar vídeos assustadores para crianças e vídeos de crianças para pedófilos.

Em resposta às controvérsias sobre recomendações de vídeo, a empresa disse em junho que lançaria várias mudanças que dariam aos usuários mais controle sobre o que eles veem em sua página inicial e na seção de vídeos recomendados. Mas essas novas (e terrivelmente tardias) atualizações são mais uma indicação de que o YouTube está aprendendo, só agora, a lidar com a natureza selvagem e às vezes extremista de seu algoritmo e sua plataforma, e o fato de que ele oferece amplamente conteúdos para e com crianças só piora a sua situação que já não está nada boa.

Em um e-mail para o Gizmodo, um porta-voz do YouTube afirmou que a empresa não posiciona explicitamente sua plataforma como um verdadeiro playground para crianças menores de 13 anos.

“Não podemos falar sobre a metodologia ou resultados da Pew. Mas geralmente no YouTube, as categorias de vídeo mais populares tendem a ser áreas como comédia, música, esportes e ‘como fazer’”, disse o porta-voz. “E sempre deixamos claro que o YouTube nunca foi para pessoas com menos de 13 anos”.

Os cinco principais vídeos criados especificamente para crianças, mas que não incluíam uma criança na filmagem, eram em sua maioria animações, músicas ou canções infantis, de acordo com o estudo, e vários deles tinham títulos criados especificamente para um algoritmo em vez de olhos humanos, provavelmente para fazer o sistema exibir o conteúdo em destaque para os telespectadores, como “SUPERHERÓIS BEBÊS FAZEM UMA CASA DE BISCOITOS SUPERHERÓIS BEBÊS BRINCAM COM PLAY DOH PARA CRIANÇAS”.

Além do conteúdo centrado em crianças, o estudo também descobriu mais amplamente que os usuários estão publicando e consumindo uma quantidade impressionante de conteúdo. De acordo com a análise, seriam necessárias oito horas de vídeos do YouTube todos os dias por mais de 16 anos para uma pessoa assistir a todo o conteúdo postado em apenas uma semana pelos canais mais populares.

É claro que o conteúdo infantil não era o único conteúdo popular entre os canais com alto número de assinantes. A análise da Pew também analisou 20 palavras-chave vinculadas à maior contagem de visualizações desses vídeos. “Fortnite” estava ligado ao maior aumento de visualizações de todos esses termos, além de ser o mais comum entre as palavras-chave mais vistas. Outros termos de videogame incluíram “PUBG”, “FIFA” e “Roblox”. “Slime” e “rainbow” foram relacionados ao conteúdo infantil, “NFL” e “NBA” ao conteúdo esportivo, “ASMR”, “momento” “pegadinha”, “hack” e “mistério” estavam relacionados a gêneros de vídeo, e “pior”, “final” e “insano” relacionados a tentativas de atrair espectadores.

Quanto aos cinco principais vídeos que incluíam crianças, mas que não foram feitas exclusivamente para elas, o estudo escreveu que eles eram principalmente de canais de pais e familiares, postando coisas como revelações de gravidez e de nomes de bebês.

É claro que o fato de que o conteúdo tangencial e diretamente relacionado a crianças ser o mais popular na plataforma de vídeo não significa que tudo seja exclusivamente negativo, e a Pew não revelou quaisquer descobertas que fossem aparentemente más ou ilegais. Mas a relação entre jovens e o YouTube é um problema, na melhor das hipóteses, e essa análise indica que mesmo que esse grupo demográfico não tenha permissão para utilizar a plataforma, eles ainda são apresentados nela atraídos por ela.

Você pode acessar a extensa análise de uma semana de conteúdo popular do YouTube no site da Pew (em inglês).

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