O dilema ético que pode ser crucial para o futuro dos carros autônomos

Fabricantes de carro podem enfrentar uma dificuldade em criar regras para veículos autônomos quando um acidente for inevitável.

Fabricantes de carro podem enfrentar uma dificuldade em criar regras para veículos autônomos quando um acidente for inevitável, e quando a vida das pessoas – tanto dentro como fora do carro – estiver em jogo.

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Um novo estudo publicado na revista Science mostra que há uma grande desconexão entre a programação ética que desejamos desses veículos, e os tipos de carro que realmente queremos usar.

As pessoas querem carros autônomos programados para minimizar danos e fatalidades durante um acidente, mesmo que isso cause a morte do motorista. O problema é que a mesma pesquisa mostra que as pessoas não querem andar em carros programados desta forma. Isso é obviamente um problema – e nós teremos que superá-lo.

Coletivo vs. individual

É fácil entender que o carro queira maximizar o número de vidas salvas – melhor poupar várias pessoas do que uma só. De fato, 76% dos entrevistados disseram apoiar um veículo programado para sacrificar um passageiro se isso significasse salvar a vida de dez pedestres.

No entanto, quando perguntados se eles usariam um carro assim, a taxa de aprovação caiu em um terço. Os pesquisadores chamam isso de “dilema social”, no qual a escolha do consumidor – isto é, o desejo de agir em interesse próprio – pode tornar as estradas menos seguras para todos.

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Situações que envolvem danos inevitáveis ​​iminentes: o veículo autônomo deve decidir entre (A) matar vários pedestres ou um transeunte, (B) matar um pedestre ou seu próprio passageiro, e (C) matar vários pedestres ou seu próprio passageiro. (J. Bonnefon et al, 2016)

Além disso, o estudo revelou que as pessoas não querem que esse princípio utilitarista – minimizar o número de fatalidades – seja uma regra imposta à indústria automobilística pelo governo. Cerca de 30% iria adquirir um veículo regulado desta maneira, contra 70% que preferem um veículo que possa ser programado de outras formas.

Isso poderia “paradoxalmente aumentar as mortes no trânsito por adiar a adoção de uma tecnologia mais segura”, diz o estudo. Seria uma pena: nos EUA, acidentes de carro matam 30.000 pessoas por ano – 90% dos casos são relacionados a falhas humanas.

Paradoxo

Infelizmente, não há nenhuma maneira conhecida de criar um algoritmo que concilie nossos valores morais e o compreensível desejo humano de não morrer.

Patrick Lin, diretor do grupo Ética + Ciências Emergentes na California Polytechnic State University, diz que os humanos são muito inconstantes, e que nós nem sempre sabemos o que queremos. (Ele não esteve envolvido no estudo.)

“O que nós acreditamos intelectualmente ser verdadeiro, e o que de fato fazemos, podem ser duas coisas muito diferentes”, diz Lin ao Gizmodo. “Os humanos são muitas vezes egoístas, mesmo que defendam o altruísmo. As fabricantes de automóveis, então, talvez não entendam plenamente este paradoxo humano ao oferecer inteligência artificial e robôs para nos substituir ao volante.”

Lin também observa que nós trocamos segurança por outras conveniências o tempo todo. “Os humanos são notoriamente ruins em avaliar risco: eles dirigem depois de beber, usam o celular ao volante, ultrapassam o limite de velocidade, e assim por diante”, diz ele. “Se nós realmente nos preocupássemos em morrer, não entraríamos em um carro.”

Ele acrescenta que, “ao pedir opiniões de pessoas comuns, o estudo coleta respostas desinformadas, e isso não é muito útil para resolver dilemas”. Lin reconhece, no entanto, que a opinião pública pode ser poderosa.

Se um filme de Hollywood incorporasse no enredo um carro que dirige sozinho, mostrando como ele é prático e seguro, muitos ficariam convencidos. Ao mesmo tempo, um acidente causado por um veículo autônomo pode ser bastante danoso para a adoção da tecnologia, “então as fabricantes realmente precisam ter cuidado”.

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Foto por Tony Avelar/AP

Ética no volante?

Há quem acredite, no entanto, que esta questão de ética é secundária. “Isto se tornou um tema popular entre as pessoas que não trabalham nessa tecnologia”, diz Ragunathan Rajkumar, professor de engenharia elétrica e informática na Universidade Carnegie Mellon, à Scientific American. (Ele não esteve envolvido no estudo.)

Rajkumar lembra que veículos autônomos não tomam decisões da mesma forma que humanos: eles levam principalmente em conta a velocidade, condições meteorológicas, condições da estrada, e a distância em relação a objetos ao redor.

O desafio, então, é coletar e processar dados de forma rápida o suficiente para evitar uma situação perigosa; caso ela seja inevitável, Rajkumar acredita que o carro não vai decidir quem vive e quem morre.

Chris Urmson, que comanda o projeto de carros autônomos do Google, disse recentemente que existe uma hierarquia para evitar impactos: o veículo evita ao máximo pedestres e ciclistas; depois, objetos em movimento na estrada; e, por fim, objetos estáticos.

[Science via MIT News e Scientific American]

Primeira imagem por Iyad Rahwan. Colaborou: Felipe Ventura.

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