Microsoft perdeu uma grande oportunidade de transmitir a imagem que precisava na Build
Durante a conferência Build, da Microsoft, a empresa fez uma grande apresentação, completa com máquinas de fumaça e luzes chiques, para mostrar que é uma concorrente descolada da Apple e do Google. Os palestrantes que foram ao palco durante as apresentações tinham cabelos estilosos. “Eles têm personal stylists nos bastidores?”, perguntou uma das pessoas presentes a um grupo em que eu estava, após o evento.
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A Build existe para animar os desenvolvedores. Os maiores deles gastam mais do que US$ 2.000 por uma entrada de três dias no evento, onde têm acesso ilimitado a bebidas, várias refeições e aos melhores e mais brilhantes membros da Microsoft. Parte do processo de cortejo da empresa envolve parecer “descolada” para um grupo de desenvolvedores que lembram o elenco de Silicon Valley nas piores maneiras possíveis. Isso explica o show de luzes e a questionável combinação de moletom e colete de couro do vice-presidente executivo da Microsoft, Terry Myerson. A empresa quer que esses desenvolvedores fiquem tão entusiasmados que acabem indo correndo para seus MacBook Airs e Surface Books para trabalhar em softwares brilhantes, esperançosamente para a Windows Store, da Microsoft, que tem apenas um terço dos aplicativos de lojas muito legais do Google e da Apple.
Com a chegada do Windows 10 S, que só pode usar aplicativos da Windows Store, a loja de aplicativos nunca foi tão importante quanto é agora. Ainda assim, repetidas vezes ao longo do evento, a Microsoft errou em sua apresentação para desenvolvedores, em favor de distrações de nicho.
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A Apple é uma montanha de dinheiro e usuários, e, graças ao Android e ao Chrome OS, o Google está logo lá com ela. Ambos têm plataformas de sistema operacional com lojas de aplicativos amplamente usadas. Construíram bases de usuários com fãs sedentos que, com entusiasmo, abraçam seus produtos de hardware e software. Consequentemente, os desenvolvedores querem construir aplicativos que funcionem com as plataformas da Apple e do Google.
A Microsoft, por outro lado, parece não conseguir se livrar da associação que se faz a ela por ter desenvolvido o computador de escritório que você não quer usar. Sua reputação está, aparentemente, consolidada por aqueles antigos comerciais Mac x PC. Tentativas de reescrever o roteiro foram recebidas com sucesso misto. Pelo lado do hardware, a Microsoft se tornou um agente verdadeiro no campo do kit cobiçado. Os Surface Pro e Studio são dispositivos ambiciosos e verdadeiramente empolgantes. O Surface Laptop anunciado no início do mês é um dos produtos mais interessantes anunciados até agora nesse ano.
Mas o panorama de softwares da Microsoft ainda é bastante quadrado, e uma das maneiras como a Microsoft está tentando reverter isso é inclinando-se para a Windows Store. Mas tem um problema. A loja de aplicativos da Microsoft é incomumente pequena em comparação com as outras. De acordo com a empresa, em 2015 havia apenas 669 mil aplicativos disponíveis (a companhia não atualizou oficialmente esse número desde então). De acordo com a Statista, tanto a Apple quanto o Google têm mais do que três vezes esse número em suas lojas.
O número de aplicativos disponíveis, por si só, não dita necessariamente a qualidade da experiência de computação de alguém, mas ele ainda é uma métrica comum de sucesso, e se a Microsoft quiser parecer mais legal no espaço dos softwares, precisa de uma grande e fantástica loja de aplicativos, repleta de opções incríveis.
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A Microsoft impressionou a plateia da Build quando anunciou que o iTunes estava chegando à sua loja apenas uma semana após anunciar a chegada do Spotify. Esses são dois aplicativos imensamente importantes, e dava para sentir a energia no evento depois do anúncio. Desenvolvedores e imprensa se entreolharam, impressionados e encantados. Um aplicativo da Apple apareceria na Windows Store!
Então, a Microsoft imediatamente matou essa animação. O restante do foco, tanto no palco quanto na “Hub”, a principal sala da conferência, não estava nos aplicativos legais que os usuários tradicionais poderiam querer, mas nas coisas nerds super de nicho.
Durante a apresentação em si, a Microsoft ignorou os apps de lifestyle para focar na Autodesk e no Linux. A Autodesk esteve no palco para anunciar que a Autodesk Stingray estava indo para a loja da Microsoft. A Stingray é uma engine usada para construir coisas em 3D e é quase exclusivamente utilizada por artistas 3D e engenheiros. Após esse anúncio, a Microsoft deu sequência com a notícia de que o Linux estava chegando à loja. Se você está empolgado com o Ubuntu, o Suse e o Fedora chegando à Microsoft Store, saiba que você é incomum. É uma grande notícia para desenvolvedores, mas insignificante para pessoas que normalmente procuram por apps em uma loja de apps, para começo de conversa.
Local do evento principal da Build. Muitas luzes azuis e… fumaça?
Dado o entusiasmo da Microsoft com a loja, foi esquisito que o sistema operacional recém-anunciado pela companhia, o Windows 10 S, que só consegue pegar aplicativos por meio da loja, tenha estado majoritariamente ausente da conferência, exceto por algumas menções durante o evento principal. Você não conseguia encontrá-lo em lugar algum do espaço em que desenvolvedores se misturavam com funcionários da Microsoft.
A cabine da Windows Store tinha uma única TV com um representante de pé em frente a ela — e ele não tinha sido instruído sobre o Windows 10 S. Na verdade, parecia que ninguém tinha sido. Todos representantes da Microsoft com quem conversei pareceram perplexos com as perguntas sobre o Windows 10 S. Eles diziam que era “animador”, mas não tinham nenhum texto pronto para explicar por que era animador ou por que a Windows Store era crucial para seu sucesso.
E ninguém conseguia explicar o que, fundamentalmente, pode ter mudado na Windows Store para torná-la uma via atraente para o lançamento de aplicativos após cinco anos de adoção lenta. Mesmo desenvolvedores de apps que estavam otimistas com a plataforma foram frustrantemente vagos ao falar sobre o que havia de diferente agora em comparação com quando a Store foi lançada em 2012, e por que o Windows 10 S não seguiria o mesmo caminho de seus antecessores focados na loja de apps, o Windows RT e o Windows 8.1 com Bing.
Christoph Teschner e Michael Simmons estavam positivamente animados sobre o Windows 10 S quando me sentei com eles dentro de um hotel próximo à conferência. Ambos são empregados da Algoriddim e estavam em Seattle porque seu aplicativo, o DJay Pro, havia acabado de receber o prêmio App Creator of the Year (Criador de Aplicativo do Ano).
“Acho que esse é o futuro”, disse Simmons, sobre a loja de aplicativos da Microsoft.
Teschner apontou para sua própria juventude, crescendo com a loja de aplicativos da Apple para o Mac e o iOS e para como ela o havia preparado para a Windows Store. “As pessoas estão acostumadas às lojas de apps agora”, disse. “Pareceu meio natural para mim quando tive minha Windows Store pela primeira vez.”
Embora eles estivessem relutantes em dar números exatos ou evidência concreta de um lançamento bem-sucedido na Windows Store, Simmons disse que “o Windows atendeu às nossas expectativas”. Ele elogiou particularmente o processo de desenvolvimento. “Vendo as ferramentas de desenvolvedores de dez anos atrás, é um grande salto (o que temos) hoje. É uma evolução, e estamos no meio dela.”
Nenhum deles conseguiu dar uma razão concreta pela qual eles sentiram que o Windows 10 S tinha uma chance de fazer sucesso quando seus antecessores fracassaram tão terrivelmente, mas, estando sentado com eles em uma sala, absorvendo seu otimismo, foi difícil não ser um pouco influenciado.
E é desse tipo de otimismo dos desenvolvedores de apps que a Microsoft vai precisar se espera, de fato, preencher a Windows Store com aplicativos legais. Se esses homens estivessem na mostra, exibindo seu aplicativo e falando de suas próprias experiências desenvolvendo para a loja, a Build poderia de fato ter projetado a imagem de que a Microsoft desesperadamente necessita. Mas a companhia ainda está descobrindo isso.